Criada inicialmente para conectar laboratórios de pesquisa (em 1969), a Internet cresceu e se transformou em uma ferramenta fantástica, com milhões de páginas de informações relevantes, capacidade para conectar bilhões de pessoas todos os dias e recursos para potencializar a democracia, ao oferecer espaço para que qualquer um possa manifestar e compartilhar sua opinião.

Porém, essa vocação democrática da rede também tem sido utilizada por muitos para promover uma postura extremista. Apelidados de haters (odiadores, em português) muitos internautas usam as páginas da web, principalmente as redes sociais, para divulgarem um discurso de ódio, com propagação de fake news (como visto no caso da vereadora Marielle Franco), ataques racistas e incitação à violência.
Em seu alvo, qualquer um que tenha ideias contrárias às suas ou simplesmente pertença a um grupo que não é aceito por eles: negros, mulheres, homossexuais, refugiados, defensores dos direitos humanos, adversários políticos, seguidores de outras religiões, imprensa… Praticamente qualquer um pode ser vítima dos ataques raivosos desse grupo, que encara a internet como se ela fosse uma terra sem lei, na qual eles poderiam agir de maneira covarde e sem punição.
E como a imprensa e a sociedade de maneira geral podem lidar com essa explosão de ódio que se espalha pela rede mundial? Em primeiro lugar, deixando claro que esse não é um crime sem punição (para quem não sabe, racismo pode gerar uma pena de até quatro anos de prisão), que a internet não é uma terra de ninguém, na qual covardes podem agir de forma preconceituosa e não são identificados, desrespeitando pessoas e leis.
Em 2016, por exemplo, agentes da delegacia de repressão aos crimes de informática prenderam sete pessoas suspeitas de serem responsáveis por ataques racistas na internet direcionados à atriz Taís Araújo. No final do ano passado, em uma operação que levou o nome de ???hate less??? (menos ódio, em português) a Polícia Civil cumpriu cinco mandados de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para depor) em cidades de Santa Catarina. Sabendo que seus passos podem ser rastreados muitos haters vão pensar duas vezes antes de cometerem seus crimes.
Outro passo importante é incentivar as vítimas de intolerância ou racismo a não ficarem caladas, buscarem seus direitos e não deixar um crime ficar impune. Há várias formas de fazer uma denúncia, como prestar queixa em uma delegacia (algumas cidades têm delegacias especializadas em crimes raciais) fazer a comunicação por telefone (como no Disque 100 do Ministério dos Direitos Humanos) ou mesmo comunicar o caso por meio da internet, em páginas como a da SaferNet ou do MPF.
E também é importante reunir provas. Nos casos de ataques por meio da internet, vale seguir alguns passos como copiar o link do site onde foi registrada a ofensa, dar um print (imprimir ou copiar para o computador) da página onde o crime foi realizado e enviar esse material para os órgãos responsáveis.
A intolerância, disseminada em larga escala por meio das redes online, é uma ameaça grave à sociedade democrática e que precisa ser combatida de forma consistente. E a internet também pode ser uma aliada em seu combate.
*Fabiana Macedo é CEO da Punto Comunicação