Em tempos de debates sobre liberdade dentro dos relacionamentos e papéis de gênero, os arquétipos de Exu e Pombagira emergem como representações simbólicas poderosas que desafiam normas, questionam estruturas e ajudam a repensar o amor e a sexualidade à luz do sagrado.

Pombagira como entidade feminina de grande força simbólica, carrega em si o arquétipo da mulher plena: sensual, livre, autônoma e consciente do seu corpo e vontade. Ela rompe com estigmas históricos impostos à figura feminina e propõe um feminino que não se cala diante da opressão. “Pombagira não se curva diante do machismo. Ela grita pelas vozes caladas, dança pelas mulheres que não puderam dançar, ama sem pedir licença. Em um país onde uma mulher é violentada a cada poucos minutos, cultuar Pombagira é também um ato político de afirmação da vida e da liberdade feminina”, afirma Andrine Herreiro, Pombagira viva, oráculo da sedução, cura e auto-reconhecimento.

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Já Exu, figura constantemente mal compreendida por olhares ocidentais e cristianizados, é o orixá da comunicação, do movimento e da sexualidade. Com ele, aprendemos que o amor não se constrói na rigidez, mas na negociação, no desejo, na troca viva e autêntica. Exu não julga: ele observa e atua conforme os desejos humanos, sempre exigindo reciprocidade. Para ele, o que se dá, se recebe e o que se nega, se fecha.

O que Exu e Pombagira ensinam sobre os relacionamentos contemporâneos

“Exu é o arquétipo da encruzilhada: lugar onde a gente escolhe, onde a gente se vê. Amar, hoje, é saber lidar com escolhas, fronteiras e limites. Exu ensina que não existe amor sem comunicação. E que o desejo, se bem cuidado, é sagrado”, explica Eduardo Elesu, sacerdote de Esù e dirigente do Ilê Odé Nlá Axé Alagbará reconhecido como consultor espiritual de personalidades públicas e formador de opinião com mais de 150 mil seguidores nas redes sociais.

Refletir sobre Exu e Pombagira no mês dos namorados convida os casais a uma reconexão com as raízes do afeto, para além das amarras sociais. Essas entidades falam com os corpos, com os prazeres e com os conflitos, mostrando que o sagrado também habita os encontros, os rompimentos, os recomeços e os amores fora da norma. São espelhos que revelam as contradições dos papeis de gênero, o peso da moralidade sobre os corpos e a potência de viver o amor com liberdade e escolha.

Amar como Pombagira ensina

Pombagira representa a mulher livre, dona de si, que não abre mão do prazer, da liberdade e da autonomia. Cultuar Pombagira ajuda a viver uma relação intensa com o espelho e é desafiado a se olhar com verdade, a se reconhecer, a se amar profundamente antes de querer ser amado por alguém.

“Quem anda com Pombagira aprende a se colocar. Aprende que amor que machuca não é amor, e que o corpo é templo e não propriedade”, afirma Andrine Herreiro.

Amar com Exu é assumir a responsabilidade

Já com Exu, a relação exige coragem. Exu é o orixá das escolhas, da comunicação e da reciprocidade. Por isso, amar sob sua energia é estar disposto a encarar a verdade dos sentimentos, a falar o que precisa ser dito, a escutar o que incomoda sem fugir da encruzilhada.

“Exu ensina que desejo sem verdade é armadilha. Ele quer gente inteira, que saiba dar e saiba receber e que não prometa o que não pode cumprir”, explica Eduardo Elesu.

Como se relacionar com essas entidades (exu e pombagira)?

A relação com Exu ou Pombagira é de profunda intimidade espiritual, mas também de auto-reconhecimento. Eles são guias que mostram onde temos medo de amar, onde sabotamos o prazer, onde repetimos padrões destrutivos.

Essas entidades costumam atuar diretamente em questões afetivas e sexuais. Pombagira é procurada por quem quer seduzir, firmar relacionamento, cortar laços tóxicos ou superar um término e Exu, por sua vez, é o mensageiro que ajuda a abrir caminhos no amor, retirar demandas e desfazer mal-entendidos.

“É uma troca viva e ética. Quem se envolve com essas entidades aprende, desde cedo, que toda escolha tem consequência e que o amor mais bonito é aquele que começa dentro de si”, finaliza Eduardo Elesu.

No mês dos namorados, Exu e Pombagira reforçam que não há amor sem liberdade, consentimento e prazer além de que toda relação exige responsabilidade afetiva, comunicação clara e uma dose de magia. Essas entidades chegam para dizer: amor não é sacrifício. Amor é escolha, é prazer, é caminho.

Sobre Eduardo Elesu

Eduardo Elesu é sacerdote de Esù e dirigente do Ilê Odé Nlá Axé Alagbará. Sua trajetória espiritual começou na infância, marcada por experiências de dor e superação, tendo encontrado acolhimento no candomblé. Frequentador do Candomblé desde os três anos de idade, é filho da Yalorixá Siwalejó (Noemi) e de Carlos Eduardo. A perda repentina de seu pai reforçou o vínculo da família com a espiritualidade afro-brasileira.

Iniciado em nome de Oxóssi, Eduardo sempre teve uma forte conexão com Esù, assumindo responsabilidades rituais desde jovem. Foi acolhido no Ilê Obá Ketu Axé Omi Nlá, onde se aprofundou sob a orientação do Babalorixá Rodney William. Após cumprir todas as etapas iniciáticas, foi consagrado como Elesu, sacerdote de Esù. Atualmente, como Oluwo, lidera seu próprio Ilê e é amplamente reconhecido pela precisão nos Jogos de Búzios, rituais de Ebó, encantamentos e processos iniciáticos.

 

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