Por Valdecir Duzzi

A discussão sobre a possível privatização do Departamento de Água e Esgoto (DAE) de Americana tem gerado debates intensos entre especialistas, gestores públicos e a população. A questão central é: a entrega desse serviço essencial à iniciativa privada traria melhorias concretas ou apenas encareceria a conta para os consumidores? Diante dessa dúvida, é fundamental analisar as experiências de outras cidades, os benefícios prometidos e os riscos que essa mudança pode trazer.

Os Argumentos a Favor

A principal justificativa para a privatização do DAE seria a capacidade de atrair investimentos e melhorar a infraestrutura do saneamento básico. Empresas privadas, com maior poder de capitalização, poderiam acelerar obras de modernização, expandir a rede de abastecimento e reduzir desperdícios.

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No Brasil, há exemplos de concessões privadas que resultaram em maior eficiência operacional, redução de perdas na distribuição de água e melhoria nos índices de cobertura.

Outro ponto favorável seria a profissionalização da gestão. Enquanto órgãos públicos frequentemente sofrem com burocracia e limitações orçamentárias, empresas privadas tendem a operar com mais agilidade e eficiência. O foco no lucro pode ser um incentivo para aprimorar a qualidade do serviço, garantindo que o abastecimento de água seja contínuo e confiável.

Os Riscos da Privatização do DAE

No entanto, não se pode ignorar os alertas provenientes de experiências negativas. Em diversos casos, a privatização da água resultou no aumento significativo das tarifas. Recentemente, a Sabesp, após sua privatização, rompeu contratos que garantiam descontos para grandes consumidores, o que resultou em aumentos de até 200% em algumas contas. Se isso acontecer em Americana, o custo do metro cúbico de água poderá se tornar insustentável para muitas famílias e empresas locais.

Outro receio é a desigualdade no atendimento. A lógica empresarial prioriza áreas que oferecem maior retorno financeiro, podendo levar à negligência em bairros periféricos ou regiões menos rentáveis. A água é um direito fundamental, e seu acesso não pode ser pautado apenas pelo lucro.

Além disso, muitas concessões privadas acabam dependendo de subsídios públicos para manter as tarifas em níveis aceitáveis. Ou seja, a Prefeitura pode continuar arcando com custos, sem ter o controle total sobre o serviço. Essa dependência cria um paradoxo: a cidade pode perder autonomia sem necessariamente reduzir os gastos.

O Que é Melhor para Americana?

A privatização do DAE não pode ser decidida de maneira apressada ou baseada apenas em promessas de modernização. É essencial que um estudo detalhado seja apresentado, comparando cenários e garantindo que qualquer mudança no modelo de gestão traga benefícios reais à população, sem comprometer a acessibilidade e a qualidade do serviço.

Se a solução for privatizar, que seja feita com critérios rigorosos, contratos bem estruturados e fiscalização ativa para evitar abusos. Mas, se a gestão pública for capaz de corrigir suas falhas e garantir um serviço eficiente, talvez a melhor resposta esteja na modernização interna, e não na venda de um patrimônio essencial para a cidade.

O que Americana precisa é de transparência e compromisso com o cidadão, independentemente de quem gerencia a água que chega às torneiras de nossas casas.

Valdecir Duzzi

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