O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), esteve nesta segunda-feira (24) participando de um evento para apresentação de programas destinados ao saneamento básico e à gestão de resíduos sólidos em Santa Bárbara. O encontro ocorreu no Centro de Estudo e Cultura Ambiental, mas a ocasião foi marcada pelo projeto de concessão da Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304) que prevê a colocação de pórticos de pedágio em três pontos da SP-304, nos dois sentidos: no km 122, em Americana; km 144, em Santa Bárbara; e km 154, em Piracicaba.

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Na chegada, o governador evitou falar com a imprensa. Mas na saída, foi cercado por muitos jornalistas e políticos. Questionado sobre a manutenção do projeto mesmo com muitos posicionamentos contrários de cidadãos e representantes do voto popular, Tarcísio insistiu na necessidade de concessão da rodovia para viabilizar investimentos bilionários em infraestrutura das rodovias que fazem parte da chamada Rota Mogiana.

A cobrança será feita no formato Sistema Automático Livre, o chamado free flow – um modelo sem barreiras, cujo pagamento ocorre por meio de tags nos veículos, sem necessidade de parar numa cabine. O governador defende que o sistema sem cabines permite que o valor do pagamento seja calculado conforme o quilômetro rodado e por isso haveria “justiça tarifária”. Além disso, o modelo possibilita a aplicação de isenções e benefícios. A expectativa é de que a instalação das estruturas ocorra em meados de maio de 2027.

Moradores podem não pagar, diz Tarcísio

“Você tem desconto de usuário frequente, você pode safar o morador local de pagamento de pedágio, como a gente fez no litoral”, revelou o governador. “Você pega, por exemplo, na duplicação da SP-055: quem pega a via marginal, não paga pedágio. No litoral, quem vai para o Distrito Industrial do Taboão [em Mogi das Cruzes], não paga pedágio. Essas coisas todas foram analisadas e a gente mudou”, lembrou. Os exemplos citados são do lote “Litoral Paulista”, que inclui as rodovias Padre Manoel da Nóbrega (SP-055), Mogi-Dutra (SP-088) e Mogi-Bertioga (SP-098). Em Mogi das Cruzes, não é cobrada tarifa quando o veículo tem origem ou destino no Distrito Industrial do Taboão, além de outras exceções envolvendo o Centro do município.

O governador afirmou que “São Paulo tem 9 das 10 melhores rodovias do País” e que o fato se deve aos investimentos proporcionados pela arrecadação dos pedágios nas últimas décadas. Tarcísio voltou a destacar as atuais condições da Rodovia Luiz de Queiroz e frisou que o governo não tem como pagar todas as intervenções necessárias. “O Estado não tem condição de fazer esse volume de investimento. São 16 bilhões de reais (nas novas concessões). Ninguém quer pagar pedágio, eu também não. Mas são 251 quilômetros de duplicações. É isso que a gente ter de ver”, acrescentou. “Estamos na fase de audiências públicas. A gente vai analisar todas as contribuições. Nenhum projeto sai do mesmo jeito que entrou”, finalizou.

Vereadores ausentes

Foi sentida a ausência dos vereadores de Americana no evento. A informação de que a entrada seria restrita no evento, não podendo os políticos entregar Moções de Apelo ou Repúdio ao governador, assim como ofícios, desestimulou os parlamentares a comparecer ao evento. Alguns vereadores de Santa Bárbara estiveram, como Alex Dantas (PL), Felipe Corá (PL) e Esther Moraes (PV). Houve a presença dos prefeitos de Americana, Chico Sardelli (PL), do vice Odir Demarchi (PSD), do prefeito de Santa Bárbara, Rafael Piovezan (PL), do vice Felipe Sanches (PL), do prefeito de Sumaré, Henrique do Paraíso (Republicanos), e do prefeito de Piracicaba, Helinho Zanata (PSD). Também compareceu o deputado estadual Alex Madureira (PL).

Sardelli continua afirmando ser contrário à instalação dos pedágios. Acredita no “bom senso” do governador, para pelo menos alterar o projeto de modo a minimizar os impactos, uma vez que a SP-304 é uma “avenida” para os moradores que se deslocam entre Americana e Santa Bárbara. Já o prefeito piracicabano pensa diferente: não crê que as cobranças prejudiquem a economia da região. Helinho defendeu que o projeto trará investimentos e estrutura para a região. O anfitrião, Rafael Piovezan, disse ter conversado com o secretário de Parcerias em Investimentos do governo de SP, Rafael Benini, e aguarda os estudos da gestão estadual.

Manifestações contrárias

Algumas pessoas se manifestaram em frente ao Centro de Estudo e Cultura Ambiental estendendo faixas contrárias à instalação de pedágios na Rodovia Luiz de Queiroz, com os dizeres: “Tarcísio Sem Noção – Pedágio na SP-304 Não”; “Chega de mais pedágios – Chega de Punir Trabalhadores”. Questionado pela imprensa sobre o posicionamento das pessoas, o governador chamou de ‘discurso vazio’. “A gente pode participar desse processo (de concessão das rodovias) e ter um excelente projeto, que traga muito investimento e faça a diferença, ou ficar nesse negócio vazio de ‘pedágio, não’, ‘pedágio, não'”, apontou.

Tarcísio ainda rebateu as reclamações sobre a instalação de pórticos de pedágio, assim como o processo de concessão da Rodovia Luiz de Queiroz. “De que outra maneira nós vamos fazer essa quantidade de investimento?”, indagou. “Depois que tem a duplicação, todo mundo quer ir lá e ver como está”, apontou, em relação às melhorias que deverão estar no contrato. O projeto prevê a construção de nova via entre o trecho de Americana a Piracicaba.

Grupo promete fechar a SP-304

Durante uma reunião realizada pela deputada estadual Professora Bebel (PT) nesta segunda-feira (24), mobilizando em sua maioria pessoas ligadas ao PT e a sindicatos, foi veiculada a possibilidade de fechar por uma hora a Rodovia Luiz de Queiroz, como forma de protesto contra o projeto de instalação de pedágios na via. O encontro ocorreu na subsede de Americana da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo).

A ideia é realizar a manifestação numa sexta-feira, nos dois lados da rodovia, com duração de uma hora, em data a ser definida pela organização internamente. O ponto exato também ainda será decidido. Na reunião, houve duas sugestões de horário: no início da manhã, por volta das 7h; e no final da tarde, às 16h – este último ganhou mais força. “Nós vamos fazer. O dia e a hora, isso o coletivo vai decidir. Eles querem, mas querem ter segurança também de que não tenha cerceamento do direito de mobilização”, afirmou Bebel, que é de Piracicaba.

Vereadora petista fala em “mobilização”

A vereadora Professora Juliana (PT), de Americana, também esteve presente no encontro, que reuniu aproximadamente 30 pessoas. “O que a gente veio discutir hoje aqui são formas de mobilização, formas de sensibilizar a população, mas também de pressionar o Governo do Estado, para que ele entenda e acolha a perspectiva da população. E a gente quer fazer isso da melhor forma possível, sem atrapalhar a vida das pessoas, mas mostrando, de verdade, que a gente tem uma força aqui na região”, comentou.

Bebel também disse que fará uma audiência pública sobre o tema no dia 2 de abril, na Câmara de Americana ou de Santa Bárbara, em horário a ser divulgado. A paralisação na rodovia ocorrerá somente depois dessa reunião envolvendo parlamentares e representantes da sociedade civil. “Para além disso, nós vamos mobilizar a população, vamos fazer outdoors, vamos fazer faixaço”, apontou a deputada.

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