Dados divulgados esta semana revelam a magnitude das mudanças climáticas na saúde e na sobrevivência de bilhões de pessoas em todo o mundo nos próximos anos.

Mudanças climáticas vão matar muita gente, mostra relatório

O “Relatório 2023 Lancet Countdown sobre saúde e mudanças climáticas: O imperativo de uma resposta focada na saúde em um mundo que enfrenta danos irreversíveis” mostra que as previsões de que o mundo atinja 2,7 °C de aquecimento até 2100, com as emissões relacionadas à energia atingindo um novo recorde em 2022, impõem um grande risco à vida das gerações atuais e futuras.

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“Nosso balanço sobre a saúde revela que os riscos crescentes das mudanças climáticas estão custando, hoje, vidas e meios de subsistência em todo o mundo. As projeções de um mundo 2 °C mais quente revelam um futuro perigoso e são um lembrete de que o ritmo e a escala dos esforços de mitigação vistos até agora têm sido lamentavelmente inadequados para proteger a saúde e a segurança das pessoas”, diz Marina Romanello, Diretora Executiva da Lancet Countdown na University College de Londres. “Com 1.337 toneladas de dióxido de carbono ainda sendo emitidas a cada segundo, não estamos reduzindo as emissões com rapidez suficiente para manter os riscos climáticos dentro dos níveis com os quais nossos sistemas de saúde são capazes de lidar. Há um enorme custo humano gerado pela inação, e não podemos arcar com esse nível de falta de comprometimento: estamos pagando com vidas humanas. Cada instante que nós postergamos torna o caminho para um futuro habitável mais difícil e a adaptação cada vez mais cara e desafiadora”.

 

O 8o relatório Lancet Countdown, liderado pelo University College em Londres, representa o trabalho de 114 especialistas de 52 instituições de pesquisa e agências da ONU em todo o mundo, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), fornecendo a avaliação mais atualizada das conexões entre saúde e mudanças climáticas. Publicado a poucos dias da 28a Conferência das Partes da ONU (COP28), o relatório apresenta 47 indicadores que incluem métricas novas e aprimoradas para monitoração da poluição do ar doméstico, o financiamento de combustíveis fósseis e o envolvimento de organizações internacionais nos benefícios conjuntos da saúde da mitigação climática.

 

“Ainda temos esperança”, diz a diretora. “O foco em saúde na COP28 é a oportunidade de ouro para garantir compromissos e ações. Se as negociações climáticas levarem a uma eliminação rápida e equitativa dos combustíveis fósseis, acelerarem a mitigação, e derem apoio aos esforços de adaptação para a saúde, as ambições do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C ainda são atingíveis e um futuro próspero e saudável está ao nosso alcance.”

 

Impactos da mudança climática na saúde

Em 2023, o mundo passou pelas temperaturas globais mais quentes em mais de 100.000 anos e recordes de calor foram quebrados em todos os continentes, expondo as pessoas em todo o mundo a graves riscos.

Entre 2018 e 2022, as pessoas enfrentaram, em média, 86 dias de altas temperaturas que ameaçam a saúde, sendo que mais de 60% desses dias tiveram sua probabilidade de ocorrer mais que dobrada devido às mudanças climáticas provocadas pelo homem. As mortes relacionadas ao calor em pessoas com mais de 65 anos aumentaram 85% no período de 2013 a 2022 em comparação com o de 1991 a 2000, muito acima do aumento de 38% esperado se as temperaturas não tivessem mudado (ou seja, contabilizando apenas a mudança demográfica).

 

O aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos compromete a segurança hídrica e a produção de alimentos, colocando milhões em risco de desnutrição. As ondas de calor e as secas mais frequentes foram responsáveis por 127 milhões a mais de pessoas passando por insegurança alimentar moderada a grave em 122 países em 2021, comparado com o valor anual entre 1981 e 2010. Da mesma forma, a mudança nos padrões climáticos está acelerando a propagação de doenças infecciosas que causam risco à vida.

 

Novas projeções

O relatório apresenta projeções desenvolvidas com o apoio do Climate Vulnerability Forum (CVF) que descrevem os riscos crescentes para a saúde da população se a meta de 1,5 °C de aquecimento não for atingida, podendo chegar a 2°C até o final do século.

 

Neste cenário, projeta-se que as mortes anuais relacionadas ao calor aumentem em 370% até meados do século. Ondas de calor mais frequentes podem levar a cerca de 525 milhões a mais de pessoas sofrendo de insegurança alimentar moderada a grave até o período de 2041 a 2060, exacerbando o risco global de desnutrição.

Prevê-se também que as doenças infecciosas que causam risco de vida se espalhem ainda mais até meados do século, com o potencial de transmissão da dengue aumentando entre 36% e 37%, contribuindo para sua rápida expansão global.

 

Ação climática centrada na saúde

Apesar da escala dos desafios, o relatório descreve os benefícios para a saúde que podem advir de uma transição centrada na saúde, para um futuro de carbono zero que priorize a equidade e a justiça dentro da ação climática.

 

No centro desta ambição está a transição acelerada para energias limpas e eficiência energética em países de renda baixa, que traria benefícios imediatos, reduzindo as desigualdades socioeconômicas e de saúde, desenvolvendo habilidades locais, gerando empregos, apoiando as economias locais e fornecendo energia para áreas fora da rede elétrica, eletrificando casas e instalações de saúde, particularmente em áreas onde a pobreza energética ainda prejudica a saúde e o bem-estar das pessoas, explica o professor Ian Hamilton, Líder do Grupo de Trabalho da Lancet Countdown em Ações de Mitigação e Benefícios Conjuntos de Saúde.

 

Melhorias na qualidade do ar poderiam evitar muitas das 1,9 milhões de mortes anuais por consequência da poluição do ar. Desde 2005, as mortes por poluição do ar derivada de combustíveis fósseis caíram quase 16%, com 80% desse declínio devido aos esforços para reduzir a poluição causada pela queima de carvão.

 

Ao mesmo tempo, acelerar a transição para uma alimentação mais saudável e com baixo teor de carbono poderia prevenir até 12 milhões de mortes causadas por alimentação precária todos os anos, assim como reduzir 57% das emissões agrícolas da produção de alimentos lácteos e carne vermelha. Esses ganhos também resultariam em populações mais saudáveis, reduziriam as pressões sobre os sistemas de saúde, ajudariam a minimizar as emissões relacionadas à saúde e promoveriam a equidade na saúde.

 

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