Mirante Paulista, projeto que marca a quinta parceria dos experientes paisagistas Catê Poli e João Jadão, combina diversas espécies nativas e exóticas que se destacam por suas folhagens em variados tons de verde. A distribuição equilibrada do paisagismo promoveu com uma completa mudança no visual árido da área externa do Conjunto Nacional | Foto: Evelyn Müller

No Mirante Paulista, projeto assinado pelos paisagistas Catê Poli e João Jadão para a 36ª Edição da CASACOR São Paulo, que os visitantes contemplam num grande living ao ar livre um belo jardim tropical. No ambiente, a dupla investe sua experiência e metodologia para identificar e combinar as espécies nativas e exóticas, bem como as suas características, além de sugestões valiosas para o plantio e cultivo.

Catê Poli explica que as plantas nativas são aquelas encontradas naturalmente em uma determinada região ou ecossistema, em outras palavras, que se desenvolve dentro dos seus limites naturais, incluindo a sua área potencial de dispersão. “Elas evoluíram e se adaptaram às condições climáticas, solo, fauna e a flora dos locais ao longo dos tempos”, esclarece. Entre as espécies encontradas no Mirante Paulista estão a jabuticabeira, samambaia, guaimbê e clusia, dentre outras.

Neste ponto do jardim, uma vistosa jabuticabeira expressa sua beleza dentro de um vaso vietnamita (Organne) | Foto: Evelyn Müller

Ainda de acordo com a paisagista, as plantas exóticas são aquelas introduzidas em uma área ou ecossistema onde não ocorreriam naturalmente. “Elas são originárias de outros lugares, geralmente de outros países ou continentes“, diz. Para a edição atual da CASACOR, ela e João Jadão trouxeram variedade como a ripsális (África/Sri Lanka), palmeira-fênix (Ásia/Tailândia), palmeira-traquicarpo (Ásia/China), inhame preto brilhante (Ásia Tropical), areca-bambu (Madagascar); jiboia (Oceania) e a alocasia portora.

Um moodboard com tons terrosos e verdes denotam o gradiente de cores que não se repete. Com 150 m² de área externa, uma harmoniosa e ampla varanda de estar conecta a esperança no coração e na alma de quem visita o espaço. “Unimos culturas, tradições e natureza em uma só voz. Na realização do nosso projeto, investimos na diversidade e preservamos a essência das plantas nativas e exóticas com tudo o que elas nos oferecem“, comenta João Jadão.

Das prediletas eleitas pelos profissionais estão a jabuticabeira, única frutífera entre as espécies, que não é novidade em suas participações na maior mostra de decoração e paisagismo da América Latina. O apreço de ambos tem seus motivos: além de ser nativa da Mata Atlântica, ela desperta as mais tenras memórias afetivas, de quando a doce fruta de casca roxa e polpa branca era degustada diretamente dos pés acessados nos quintais de outrora.

Em destaque no Mirante Paulista, Catê e João mostram o inhame preto brilhante (à esquerda), originário das regiões tropicais da Ásia, especialmente das ilhas do Pacífico. Ele foi introduzido em várias partes do mundo devido à sua popularidade como alimento e planta cultivada. Na imagem à direita, a alocasia portora vigora como uma espécie que não é encontrada naturalmente na natureza. Ela foi desenvolvida através de técnicas de hibridização, provavelmente por cultivadores ou entusiastas de plantas e sua origem exata pode variar dependendo do produtor ou do local onde a hibridização foi realizada | Fotos: Evelyn Müller

Já entre as exóticas, o destaque é a palmeira traquicarpo, que pode suportar tanto o frio como o calor intenso, tornando-se adequada para uma ampla gama de climas.

A dupla de paisagistas atribui um valor especial às plantas tropicais devido à sua beleza única e exuberante, apresentadas como flores vistosas, folhagens coloridas, formas distintas ou texturas interessantes. Essas características estéticas contribuem para a criação de jardins atrativos e paisagens visualmente impactantes. “No paisagismo, elas nos propiciam uma variedade enorme de opções para escolher, resultando na criação de composições distintas e diversificadas. A disponibilidade de diferentes cores, tamanhos, formas e padrões também nos abrem o leque para atingirmos paisagens únicas e personalizadas”, explica Catê Poli.

Protagonista por sua beleza e altura, ao centro da imagem a palmeira traquicarpo, também conhecida como palmeira-de-leque ou palmeira-de-kentia, é uma planta exótica originária das regiões montanhosas do sul da China e do norte de Mianmar (Birmânia). Ela foi amplamente cultivada e aclimatada em várias partes do mundo devido à sua beleza e resistência| Foto: Evelyn Müller

Ainda segundo ela, é importante considerar o impacto dessas plantas nos ecossistemas nativos, apesar de serem belas e práticas. — A escolha responsável de plantas exóticas não invasoras e a integração de plantas nativas podem contribuir para um paisagismo mais equilibrado e sustentável.

Como identificar as plantas nativas e exóticas?

As espécies de plantas nativas e exóticas, podem ser localizadas nos guias e bibliografias de botânicas, além de diversos livros especializados que fornecem informações destas plantas presentes em diferentes regiões. Esses recursos geralmente incluem ilustrações, descrições e características distintivas das espécies que podem ajudar na identificação. Ademais, os paisagistas também sugerem entrar em contato com especialistas locais em botânica e órgãos de conservação da natureza ou jardinagem como meios de obter mais referências e orientações, bem como o acesso em sites e aplicativos especializados.

É importante ressaltar que o cultivo e uso de plantas exóticas pode estar sujeito às regulamentações específicas em diferentes Estados e municípios brasileiros. Dessa forma, é aconselhável uma consulta prévia às leis e regulamentos locais.

Para quem busca encontrar um local para aquisição de espécies nativas, procure por viveiros especializados, feiras de plantas e eventos de conservação, programas de recuperação do ecossistema, ou grupos de jardinagens, sugere a dupla de paisagistas.

De acordo com João, as plantas nativas oferecem muitas vantagens em relação às exóticas, pois demandam menos cuidados e são mais resistentes – pela formação, se adaptaram às condições climáticas, ao solo e aos padrões de chuva específicos de uma determinada região. “Isso significa que elas estão naturalmente adaptadas ao ambiente local, tornando-as mais resistentes às pragas, doenças e condições adversas“, comenta.

6 dicas dadas para unir o melhor das espécies em um único jardim, por Catê e João:

Ao brincarem com as formas e a disposição das espécies, cultivadas em vasos vietnamitas, o resultado ressoa muito distante de um jardim óbvio. Sem a intervenção de obras – uma vez que o Conjunto Nacional é tombado como patrimônio histórico –, o layout do Mirante Paulista acompanha a sinuosidade do edifício. Portanto, as espécies mais altas, como as palmeiras traquicarpos, possibilitaram recobrir e colocar em segundo plano paredões e esquadrias brancas | Foto: Evelyn Müller

1. Planejamento consciente: ao projetar o jardim, leve em consideração a combinação de plantas exóticas e nativas de forma equilibrada, sempre reservando áreas específicas ou grupos harmoniosos para cada tipo de planta;

2. Escolha de plantas nativas: priorize a utilização diversidades nativas no jardim, que são essenciais para a conservação da biodiversidade e para a criação de habitats de insetos, pássaros e outros animais locais;

3. Destaque as características únicas das plantas exóticas: escolha espécies que possuam características estéticas ou funcionais bastante distintas. Esse olhar pode incluir flores exuberantes, folhagens coloridas, formas interessantes ou texturas diferentes;

4. Mimetismo ecológico: opte por plantas exóticas que se assemelhem às nativas em termos de aparência e características de crescimento. Dessa forma, se obtém a beleza estética desejada das plantas exóticas, enquanto se mantém a integridade ecológica do jardim;

5. Manutenção e cuidado apropriados: assegure-se de fornecer o cuidado adequado tanto para as plantas exóticas, quanto para as nativas. Essa lista inclui a rega adequada, poda regular, remoção de plantas invasoras e o manejo integrado de pragas;

6. Educação e consciência: compartilhe informações sobre a importância da utilização de plantas nativas e da diversidade de espécies em um jardim. Incentive a conscientização sobre a conservação da biodiversidade e os benefícios de se ter um jardim sustentável e amigável para a fauna local.

“Lembre-se de que o equilíbrio é fundamental. Ao combinar um jardim com mais plantas nativas você pode criar um ambiente bonito e atrativo, ao mesmo tempo em que preserva a integridade ecológica e promove a sustentabilidade”, finaliza a dupla de paisagistas Catê Poli e João Jadão.

Mirante Paulista, de Catê Poli e João Jadão, exalta a amizade e o profissionalismo dos paisagistas, que participam pela quinta vez juntos da CASACOR São Paulo | Foto: Evelyn Müller

36ª CASACOR SÃO PAULO

30 de maio a 06 de agosto de 2023

Conjunto Nacional – Avenida Paulista, 2073 – São Paulo

www.casacor.abril.com.br/mostras/sao-paulo

 

Sobre Catê Poli

Arquiteta e urbanista de formação e paisagista desde seu primeiro estágio em 1990, Catê Poli atuou em diversos escritórios de São Paulo até se lançar em trabalho solo em 1998. No escritório Catê Poli Paisagismo, elabora projetos de paisagismo e arquitetura de exteriores – desde pequenas casas até grandes fazendas e haras. Esteve presente nas edições 2007, 2008, 2011, 2018, 2019, 2021 e 2022 da CASACOR São Paulo, além da CASACOR Rio de Janeiro em 2022. Catê é atualmente colunista do site da revista Casa e Jardim e do portal Paisagismo em Foco. Projetos internacionais na Angola, Australia e foi colunistas das Revistas Casa e Jardim e Paisagismo em Foco.

 

Sobre João Jadão

Paisagista especializado em arquitetura da paisagem, João Jadão criou em 1987 a empresa Planos e Plantas. Tem expertise tanto na área de projetos quanto em execução de jardins de pequenos a grandes portes. Além de trazer no currículo diversas premiações nacionais, o escritório, em 2015 e 2016, assinou projetos vencedores internacionalmente, em Portugal e Espanha. João Jadão participou da CASACOR São Paulo em 2015, 2018, 2019, 2021 e 2022, além da CASACOR Mato Grosso, em 2010. Atualmente, responde como vice-presidente da Associação Nacional de Paisagismo (ANP).