Dentre as várias experiências que tive durante meus 26 anos na música, primeiro como estudante, depois músico e, por fim, professor de música a mais feliz delas foi quando me debrucei ao estudar música para autistas. Na década passada, início dos anos 2000, quando me aventurei nessa empreitada, sequer havia referências bibliográficas sobre o tema. Foi então que resolvi ir a campo e descobrir por meio da prática.

Trabalhei em uma escola para autistas em Americana nessa época e encarei tamanho desafio. Havia aproximadamente 18 alunos, cada um com sua peculiaridade e particularidade. Aquela visão romântica do autismo que vemos em novelas e filmes muitas vezes não se confirma na realidade. Cada um tem uma reação ao ouvir música. Aliás, esse foi meu principal desafio: descobrir qual som agradaria mais. Em um primeiro momento, identifiquei que os autistas tendem a ter mais interesses por sons relacionados à música do que por sons provenientes da fala, por exemplo. 
Outro ponto importante a ser destacado é que eles também mudavam suas emoções ao ouvirem música. Hora alegria; hora tranquilidade e outras vezes tristeza. Após seis meses experimentando os mais variados estilos, concluí que a música clássica foi a que mais agradou a maioria.
Especialistas no assunto dizem que expressões emocionais são preservadas entre autistas, mas o que presenciei foi que, quando expostos à música, possibilidades e oportunidades amplas de trabalhos terapêuticos foram abertas. Elas envolvem o desenvolvimento da comunicação, do aprendizado e da interação social. Claro que tudo isso que relatei foi uma experiência pessoal, vivida intensamente, mas sem base científica. Algo empírico mesmo, sentido na pele. Alguns casos, devido à particularidade de cada autista, podem ser experiências bem diferentes da minha. O que marcou mesmo foi a troca de experiências. Por fim, afirmo com toda a certeza: aprendi muito mais com eles do que eles comigo. Essa é a única e grandiosa certeza que tenho.
Heber PequenoMúsico, educador, empresário e secretário estadual do Movimento Cultural Darcy Ribeiro