Cozinhar em família: dicas da campeã do MasterChef PRO para criar filhos mais saudáveis e independentes
Chef Bárbara Frazão, que aprendeu a cozinhar com a mãe e hoje ensina os próprios filhos, revela como envolver os pequenos na cozinha desenvolve autonomia, melhora a alimentação e fortalece vínculos familiares
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Para a chef Bárbara Frazão, cozinhar é muito mais que uma profissão, é uma tradição de família. Desde pequena, ela cresceu na cozinha ao lado da mãe, Marinalva Frazão, que sempre fez questão de reunir todo mundo à mesa e ensinar a filha a mexer com panelas, ingredientes e temperos. Essa experiência na cozinha não apenas moldou a carreira de Babi — como também é carinhosamente conhecida a campeã do MasterChef Profissionais 2023 e proprietária do restaurante Afeto, em Brasília —, mas também reforça a importância de envolver as crianças no universo culinário.
Agora, aos 33 anos de idade, a própria Babi repete essa tradição em casa: seus filhos, Marina e Felipe, desenvolvem habilidades culinárias sob a orientação da mãe, perpetuando o ciclo de afeto e aprendizado. E Babi tem credencial de sobra para ensinar: é professora do curso superior de gastronomia do Grupo Educacional Cruzeiro do Sul, na capital federal, onde teve inclusive uma aluna para lá de especial: a sua própria mãe, Marinalva, fechando o círculo dessa bela história de família.
“Aprender a cozinhar desde cedo, sempre com supervisão adequada, vai muito além da preparação de alimentos. Trata-se de tornar as crianças mais independentes e preparadas para um futuro adulto, desenvolvendo responsabilidade, individualidade e consciência sobre boa nutrição. Cozinhar proporciona autonomia, convivência familiar, socialização e a oportunidade de participar ativamente das decisões sobre o que comer, permitindo inclusive que as crianças proponham e ajudem a criar cardápios”, salienta Babi.

Chef Barbara Frazao e seus filhos Marina e Felipe | Foto: Romulo Juracy
Dados recentes tornam ainda mais urgente a necessidade de envolver crianças no universo da cozinha e da alimentação consciente. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2024, divulgado pela Federação Mundial de Obesidade, o Brasil pode ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035. Além disso, pesquisa da Universidade de Alberta, no Canadá, de 2012, comprovou que crianças que cozinham ou ajudam no preparo das refeições se alimentam melhor, pois passam a descobrir ingredientes e entender como as refeições são preparadas, compreendendo a importância da seleção e do aproveitamento correto dos alimentos.
Para a chef brasiliense, isso reforça que a participação ativa na cozinha não é apenas uma atividade lúdica, mas uma estratégia eficaz de educação nutricional. “Ensinar crianças a cozinhar, sempre com a supervisão de adultos, especialmente os pais, é uma prática enriquecedora que vai muito além da simples preparação de alimentos. Ao seguir receitas, medir ingredientes e lidar com utensílios, a criança aprimora sua coordenação motora, raciocínio lógico e até habilidades matemáticas e científicas, como proporções, tempo e reações químicas”, afirma ela.
Babi ressalta ainda que essa educação alimentar mais consciente ainda previne futuros problemas de saúde: “Crianças que participam do preparo das refeições tendem a entender melhor o que estão comendo, fazer escolhas mais saudáveis e demonstrar menos resistência a experimentar novos sabores, especialmente frutas, legumes e pratos variados. Isso contribui para hábitos alimentares mais equilibrados ao longo da vida, contribuindo para evitar o sobrepeso, a obesidade ou mesmo a desnutrição”.
A chef também enfatiza o fortalecimento dos vínculos familiares, pois o tempo compartilhado na cozinha cria memórias afetivas, estimula o diálogo e permite que tradições culinárias sejam transmitidas de geração em geração, desenvolvendo o aprendizado mútuo e a criatividade. “A criança pode experimentar combinações, criar receitas e expressar seu gosto pessoal. Ver os outros saboreando algo que ela mesma preparou é uma experiência poderosa de valorização e confiança”, destaca.
Cuidados essenciais para crianças na cozinha – Ao aprender a cozinhar, as crianças devem ser orientadas com carinho e atenção para garantir uma experiência segura, educativa e prazerosa. “Em primeiro lugar, é essencial que a criança esteja sempre acompanhada por um adulto responsável. A supervisão constante ajuda a prevenir acidentes e permite que o adulto intervenha rapidamente em situações de risco. Utensílios cortantes, como facas, devem ser usados apenas com orientação, e preferencialmente por pré-adolescentes ou com versões adaptadas para segurança”, atenta Babi.
A higiene é outro aspecto essencial. Antes de começar, a criança deve lavar bem as mãos e aprender a manter os alimentos e superfícies limpas. Isso inclui evitar a contaminação cruzada, como não usar a mesma faca para carne crua e vegetais sem lavar, e não provar alimentos com os dedos ou utensílios que serão usados novamente.
Utensílios e equipamentos são preparados para adultos. Usar itens menores e adequados ao tamanho das pequenas mãos — como espátulas, tijelas e panelas menores — pode ajudar no início. Em vez de facas, é recomendável utilizar espátulas sem serra ou lâminas. Isso funciona bem para alimentos mais macios e é uma ótima maneira de iniciar o aprendizado.
É fundamental ter cuidado com o fogo e o calor. Panelas quentes, forno e fogão representam riscos de queimaduras. Por isso, o adulto deve ensinar a criança a reconhecer esses perigos e, dependendo da idade, limitar o acesso direto a essas fontes de calor. “Também é importante explicar que roupas largas, cabelos soltos e mangas compridas podem se aproximar do fogo e causar acidentes. Prender o cabelo e usar avental são boas práticas”, apregoa a chef.
Além disso, é essencial ensinar a organização e o cuidado com a ordem no espaço. Manter a bancada limpa, guardar ingredientes e utensílios após o uso e evitar deixar objetos espalhados ajuda a criar um ambiente mais seguro e funcional. Também é bom reforçar que não se deve correr ou brincar na cozinha, pois isso aumenta o risco de quedas e colisões.
Por fim, o adulto deve adaptar as tarefas à idade e à maturidade da criança. “Começar com tarefas simples e evoluir conforme a idade é uma forma segura e divertida de introduzir o aprendizado de cozinhar”, pondera Babi. Para garantir uma experiência segura e adequada ao desenvolvimento de cada criança, é importante adaptar as tarefas culinárias à faixa etária:
·Antes dos 2 anos – A participação acontece pela observação. Os pequenos podem segurar ingredientes como legumes e frutas, desenvolvendo os sentidos pelo contato com texturas, cores e aromas.
·De 2 a 3 anos – As crianças já podem adicionar ingredientes em recipientes e misturá-los. É uma fase importante para aprender novas palavras relacionadas aos alimentos e ao processo de preparação.
·De 3 a 6 anos – Nessa fase, podem amassar ingredientes, esticar e cortar massas (como para fazer biscoitos), bater sucos no liquidificador com supervisão, limpar a mesa e lavar itens de plástico.
·De 7 a 10 anos – As crianças desenvolvem habilidade para preparar alimentos mais completos, como tortas e bolos, manusear raladores, lavar louça e ajudar a colocar a mesa.
·A partir dos 11 anos – Já podem preparar pequenas refeições seguindo receitas, manusear utensílios mais complexos e utilizar o fogão, sempre mantendo a supervisão de um adulto nas primeiras experiências.

Bárbara (Babi) Frazão, chef de cozinha vencedora do MasterChef Profissionais 2023 | Foto Romulo Juracy
Receita deliciosa para preparar com as crianças – Aqui vai uma receita fácil, divertida e perfeita para cozinhar com crianças: saudáveis, não levam açúcar refinado e são feitos com as mãos. “É quase como brincar de massinha, só que comestível”, afirma Babi:
Bolinhos de Banana com Aveia
Ingredientes:
·2 bananas maduras
·1 xícara de aveia em flocos
·1 colher de sopa de cacau em pó (opcional)
·1 colher de chá de canela
·1 colher de chá de fermento em pó
·1 ovo (ou 1 colher de sopa de chia hidratada em 3 colheres de sopa de água, para versão vegana)
·1 punhado de gotas de chocolate ou uvas-passas (opcional)
Modo de preparo:
1.Amasse bem as bananas com um garfo em uma tigela grande.2.Adicione o ovo (ou chia hidratada na versão vegana) e misture.
3.Acrescente a aveia, o cacau, a canela e o fermento. Misture tudo até formar uma massa homogênea.
4.Se quiser, adicione gotas de chocolate ou uvas-passas.
5.Com as mãos ou com uma colher, modele pequenos bolinhos e coloque em uma assadeira untada ou forrada com papel manteiga.
6.Leve ao forno pré-aquecido a 180 °C por cerca de 20 minutos, ou até dourar.
Sobre Bárbara Frazão – Bárbara Frazão, ou Babi Frazão, é chef de cozinha, empreendedora e mãe de dois filhos. Vencedora da 5ª edição do MasterChef Profissionais (2023) e eleita “Chef Revelação do Ano” pela Prazeres da Mesa (2024), atua há 13 anos no setor gastronômico. Antes de consolidar sua carreira em Brasília, Babi teve passagens pelos renomados restaurantes D.O.M e Maní, em São Paulo, e Pujol, no México, experiências que contribuíram significativamente para sua formação culinária internacional. É proprietária do restaurante Afeto e do projeto Caramelou, ambos em Brasília, além de ser professora e embaixadora do curso de Gastronomia do Grupo Educacional Cruzeiro do Sul. Instagram: @chefbabifrazao, @afeto.restaurante e @pudimcaramelou.
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