Cientistas da West China Second University Hospital of Sichuan University, na China, realizaram um estudo sobre modelos de ratos com obesidade induzida por disbiose da microbiota intestinal, ou seja, por uma espécie de desequilíbrio. A conclusão foi a de que a desarmonia intestinal, causada pelo uso de antibióticos, pode sim induzir a obesidade em camundongos. O trabalho pode auxiliar futuros estudos sobre o mecanismo e tratamento da doença em humanos.
“A microbiota intestinal é formada por um conjunto variado de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal, com vírus, bactérias e fungos, com uma composição única no organismo, assim como uma impressão digital”, afirma médico gastroenterologista Gerson Nogueira de Moraes, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).
Estudo sugere desequilíbrio na microbiota como causa da obesidade
O trabalho, publicado recentemente no site da revista Nature, analisou e comparou diferenças nas características físicas, níveis de glicose sérica (GLU), colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) e microbiota intestinal fecal entre o grupo controle e o grupo modelo de obesidade dos camundongos que consumiram antibióticos. Uma vez por dia, durante sete dias, cada animal do grupo modelo de obesidade recebeu 10 mg de uma série de antibióticos + 1 ml de água esterilizada, enquanto os do  grupo controle receberam apenas 1 ml de água esterilizada. As condições de alimentação e de ambiente dos dois grupos foram idênticas e o período de observação experimental foi de dez semanas.

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O resultado do estudo revela que o peso corporal, o comprimento corporal, o escore de Lee, que é o índice de risco cardíaco revisado, e o peso úmido da gordura abdominal no grupo modelo de obesidade foram significativamente maiores do que os animais do grupo controle.

“Sabemos que o uso de antibióticos em humanos pode impactar a constituição da microbiota, pois ele age sistematicamente e pode matar ou inibir o crescimento de bactérias do corpo, tanto as boas quanto nocivas”, explica o médico. “As pessoas não devem deixar de consumir o medicamento caso ele seja prescrito, a questão é ter uma microbiota o mais saudável possível para que o impacto seja o menor possível quando houver algo que possa causar um desequilíbrio no organismo”, explica o especialista.

Funções da microbiota intestinal e obesidade

Nos humanos, as funções da microbiota intestinal são diversas e incluem defender e proteger o corpo de microorganismos prejudiciais, sintetizar vitaminas essenciais, folatos e aminoácidos, favorecer a absorção de minerais, como o ferro e o magnésio, ajudar a regular o apetite, a sensação de saciedade, o temperamento e até o humor.
“Se a mucosa intestinal não está saudável, pode ficar mais permeável e absorver substâncias que podem ser nocivas, além de desequilibrar as bactérias do organismo”, explica o especialista.
Segundo Moraes, o estilo de vida, fatores ambientais e a alimentação também impactam a composição da microbiota e há diversos estudos que correlacionam a disbiose com o surgimento e a regulação de doenças, entre elas a obesidade, o câncer de intestino e as doenças inflamatórias intestinais, entre muitas outras.
“Um dos seus papeis mais importantes é na fabricação de ácidos graxos de cadeia curta, que são formados ao ajudar a digestão de alimentos com alto teor de fibras. Esses ácidos são altamente benéficos para a saúde da mucosa intestinal”, explica o especialista.
O gastroenterologista Gerson Nogueira de Moraes, do HSPE, faz algumas recomendações para manter a microbiota intestinal saudável e, consequentemente, evitar o desenvolvimento de uma série de doenças:
• Consumir vegetais, legumes e frutas de forma abundante e variada, pois servem de substrato para as bactérias benéficas do organismo;
• Evitar alimentos ricos em carboidratos, gorduras, acúcares e ultraprocessados, incluindo bebidas, pois contribuem para o crescimento das bactérias nocivas;
• Consumir alimentos fermentados, como iogurte, kombucha, kefir e conservas de legumes e verduras, pois são ricas em probióticos, que são bactérias benéficas;
• Consumir alimentos ricos em fibras solúveis, como aveia, banana, alho e cebola, que são ricos em prebióticos. Essas fibras são utilizadas pelo probióticos;
• Manter-se bem hidratado;
• Reduzir o consumo de carne vermelha;
• Praticar atividades físicas pelo menos 3x por semana.