Eu me preparei para escrever sobre o Ziraldo, sua obra e o quanto seu traço
influenciou gerações, seja na corajosa denúncia e resistência à ditadura militar, o que ele fez nas páginas do Pasquim, quanto na delicadeza de histórias como “Flicts”, história de uma cor rara e solitária que tenta fazer amizade com as outras cores, a minha favorita; “O menino maluquinho”, talvez a mais conhecida; “O planeta lilás”, história de um menino que descobre um planeta onde tudo é lilás e faz amizade com seus habitantes; “A turma do Pererê”, uma série de histórias em quadrinhos sobre um grupo de personagens folclóricos brasileiros e a “Supermãe”, inspirada, tenho certeza, nas nossas mães.
Ziraldo ofereceu à minha geração um legado transcendente, espero poder ler essas histórias para minhas netas, Isabela e Clarice, e, contando com a generosidade do meu sobrinho Vitor, para seu filho, meu sobrinho-neto, Henrique.
Contudo, o ataque do sul-africano endinheirado ao ministro Alexandre de Moraes, ao STF e à democracia brasileira exige que eu adie minha homenagem ao Ziraldo e passe a comentar Musk, seus interesses e os ataques à soberania nacional.
Nesse artigo compartilho informações publicadas por jornalistas de escol e proponho reflexão sobre as seguintes questões: (i) por que o ataque de Musk ao nosso sistema de justiça? (ii) por que Musk está usando seu poder comunicacional para desestabilizar o país? (iii) estará ele buscando impulsionar seus próprios negócios? (iv) por que o assanhamento da extrema-direita, que nunca teve qualquer apreço pelas liberdades?
Como escreveu o Zé, um dos meus amigos mais queridos, não há bufões erráticos na extrema-direita, o que há são movimentos e interesses coordenados, pois, eles sabem que Moraes apenas deu cumprimento ao que prevê o Marco Civil da Internet.
Fato é que o endinheirado chegou a sugerir o impeachment de Alexandre de Moraes. Quem ele pensa que é?
Não acredito que gente como Musk tenha ideais, o que ele faz são movimentos táticos para preservar sua estratégia comercial e, colateralmente, ajudar a extrema-direita, penso que ele se movimenta exclusivamente para defender seus interesses (a SpaceX, a Starlink e a Tesla).
Como diz outro conhecido meu: “a vida é feita de sexo e interesses”, o que movimenta pessoas como o endinheirado em questão é o interesse, não há “amor” pela democracia (tanto que ele confessou ter financiado o golpe de Estado na Bolívia para garantir, sem grandes custos, acesso ao lítio produzido abundantemente naquele país; ou, nas suas palavras: “Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”).
No Brasil há pelo menos uma razão visível para o chilique de Musk. Segundo o jornalista Luís Nassif, a Fundação Lemann, que assessora o Ministério da Educação, montou um grupo para tratar a questão da informatização das escolas. Esse grupo teria formulado uma proposta de edital que só poderia ser atendido pela Starlink, empresa de satélite de Musk, ou seja, seria uma licitação direcionada aos interesses do Musk.
O interesse de Lemann e seus amigos não é, evidentemente, criar condições de conectividade para alunos de escolas públicas, mas, mostrar poder e aproximar-se de Musk para realizar futuros negócios com o bilionário (Lemann e seus amiguinhos só não contavam com a diligência da imprensa livre, que denunciou o favorecimento a Musk, razão pela qual o MEC decidiu suspender o processo licitatório para garantir lisura num futuro certame; essa suspensão teria despertado a ira do endinheirado usuário de ketamina, LSD, cocaína e alucinógenos).
Ou seja, os interesses de gente como Lemann e Musk não tem limites.
Esse é um ponto de atenção, para compreensão do que está acontecendo.
Gente rica sempre quer ficar mais rica e, para realizar seus objetivos, corrompe quem for necessário.
Voltando ao tema.
As coisas nunca são como se apresentam. Em 2022, por exemplo, quando Musk veio ao Brasil – oficialmente para lançar sua internet por satélite, a Starlink –, especulou-se que o real interesse de sua visita estava relacionado à produção de lítio brasileiro (68% das reservas de lítio do mundo estão na América Latina, especialmente na Argentina, Bolívia e Chile; aliás, essa seria a razão do “amor incondicional” de Musk por Milei).
Uma das empresas que exploram o minério no Brasil é a canadense Sigma, que Musk já tentou comprar, mas, as negociações não avançaram, pois entrou no jogo uma concorrente de peso, a chinesa a BYD.
Esse assunto é complexo demais para explicar aqui no espaço que o CORREIO oferece, mas, o que podemos dizer é que a concorrência atropelou os interesses de Musk no Brasil, é visível nas ruas do país carros da BYD circulando.
Nos EUA a Tesla também vem perdendo mercado para a BYD, tanto que o “liberal e anti-estado” Musk, tem exigido do governo Biden a implementação de medidas protecionistas, como a criação de barreiras tarifárias para a chinesa BYD (essa gente é pelo Estado mínimo apenas até a “página 2”; lembrando que foi o governo Obama que financiou a Testa).
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Musk é apenas o que é: uma pessoa sem caráter ou princípios. Sua oposição à candidatura de Biden, assim como os ataques a Moraes, está relacionada aos seus interesses; Musk quer o lítio do Brasil e quer privilégio na questão da internet; ele, tão cioso pela liberdade de expressão no Brasil, é “tchutchuca” na China, Índia e Arábia Saudita, onde ele acatou ordens para remoção de conteúdo do “X”, sem críticas.
Pode-se discordar de decisões judiciais e criticá-las, no limite da legalidade, pode-se recorrer delas, mas não é razoável a um democrata comemorar ataques à institucionalidade, especialmente quando protagonizados por alguém cujos interesses estão a colidir com os interesses do Brasil, pois, o que de fato nos importa é a defesa intransigente dos princípios constitucionais: a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político e, creiam, à extrema-direita e nada valem esses princípios.
Essas são as reflexões.
Pedro Benedito Maciel Neto, 60, advogado, sócio da www.macielneto.adv.br – pedromaciel@macielneto.adv.br
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