Uma das maiores tragédias brasileiras envolvendo a saúde pública ocorreu em Goiânia, GO, terra natal do artista visual Siron Franco (1947). Em 1987, um catador de sucata em Goiânia encontrou uma máquina de raio X abandonada em um terreno baldio e, dentro dela, uma cápsula de césio 137, altamente radiativa.
Encantado com o brilho do material, levou para casa, onde sua família brincou com ela. O resultado foram quatro mortes, centenas de pessoas doentes e consequências até hoje difíceis de mensurar. Siron, que tinha morado em uma rua próxima daquele mesmo bairro, fez uma histórica série de trabalhos sobre o fato, chamada ‘Rua 57’.
O endereço tornou-se emblemático e a presença dessas obras na 33ª Bienal de Arte de São Paulo alerta para temas de impressionante atualidade. A principal é a irresponsabilidade de quem jogou no lixo comum uma substância de tamanha periculosidade. As relações público-privado são colocadas em xeque.
O desenvolvimento visual que Siron Franco dá ao tema, com cores ocre da terra e figuras estilizadas plenas de elementos simbólicos, como o mapa do Estado de Goiás e símbolos de perigo, amplia a dramaticidade de um depoimento plástico contundente que mostra como a arte pode estar a serviço de uma ideia sem perder seu vigor e autenticidade. A narrativa construída pelo artista aponta como o brilho sedutor de um elemento radiativo encantou e destruiu centenas de vidas.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.