Passada a angústia da espera de 18 dias pelo resgate de 12 adolescentes e de seu treinador, único adulto, abrigados numa caverna inundada na Tailândia, muitos questionamentos têm surgido sobre as possíveis consequências psicológicas desta experiência.
As repercussões fisiopatológicas nos diversos sistemas de forma aguda e/ou crônica, provenientes da situação de estresse (reação de luta ou fuga), geradas pela situação no qual estavam esses jovens e seu treinador, ainda se configuram uma incógnita. Isso já que essas consequências dependem de muitos fatores como “adaptação psicológica” intra-individual (percepções e entendimentos individuais do risco em que estavam), características prévias de personalidade, fatores relacionados a repostas de enfrentamentos eficazes e resiliência.
A forma com que lidaram com a situação também precisará ser avaliada mais de perto; a utilização de mecanismos de defesa (alguns indivíduos são capazes de uma profunda dissociação e analgesia com a função de defender a consciência da experiência imediata de eventos dolorosos ??? dor física, medo, ansiedade e desamparo) ou a utilização das técnicas de meditação (já comum na Tailândia) podem ter contribuído para ajudar na mudança de foco diminuindo a ansiedade contribuindo também para uma melhor resposta metabólica.
De fato, o incidente terá um impacto significativo na vida daqueles que o vivenciaram. Por um lado, temos a vulnerabilidade ligada a fatores de pior prognóstico como a idade do grupo. E, nesse caso, a idade é um fator de risco na exposição a um evento traumático, que pode gerar transtornos como ansiedade, depressão e principalmente os quadros de Transtornos do Estresse Pós-Traumático, em que, quanto mais cedo o trauma ocorre, piores podem ser as consequências para o indivíduo afetado.
Por outro lado, temos fatores positivos como uma diferença significativa observada, por exemplo, nos efeitos de eventos traumáticos coletivos, como desastres naturais em que o índice de pessoas com transtornos fica em torno de 20% (sendo menos de 10% relacionadas ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Junto a essa estatística, podemos citar também como um fator de proteção a conduta do treinador que conseguiu trabalhar a situação ansiogênica por meio da meditação, promovendo assim uma maior resiliência emocional.
Juliana Elena Ruiz é Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem Psiquiátrica e na Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Contato: jullyruiz@bol.com.br