Artigo: Podemos Mais, por V Ghizini

Política crítica,

Artigo: Podemos Mais, por V Ghizini

31 de maio de 2015

A crise de representatividade do sistema político-eleitoral e a manutenção de uma cultura política arcaica, incapaz de responder aos anseios da sociedade e em descompasso com as imensas mudanças sociais e tecnológicas dos últimos anos, aparece frequentemente associada à ausência de partidos e movimentos capazes de encantar a juventude e inspirar paixões transformadoras.
Ao mesmo tempo, na periferia econômica europeia, surge uma interessante reação ao plano de austeridade e ao conservadorismo, confirmada com as vitórias eleitorais do Syriza na Grécia e os ótimos resultados obtidos pelo Podemos nas eleições municipais espanholas. No caso grego, uma aliança tática com setores nacionalistas (à direita no espectro ideológico) e um programa contrário às medidas de austeridade impostas pela União Europeia garantiu a eleição de Alexis Tsipras, militante do grupo de esquerda Syriza, o primeiro-ministro mais jovem da Grécia em um século e meio. Esse fato, acima de tudo, representou a vitória dos 99% contra o 1%, ou seja, dos interesses do povo atingido pela pobreza, desemprego e arrocho salarial contra a elite financeira. A habilidade para construir maioria dialogando com setores diferentes da sociedade sem abrir de pontos fundamentais para mudar o país guarda semelhança com o processo ocorrido no Brasil nas eleições presidenciais de 2002.   O caso espanhol é mais peculiar. Surgido dos movimentos que tomaram as ruas após a profunda crise que atinge o povo espanhol e, de forma dramática, sua juventude, o movimento Podemos formulou uma crítica ácida aos políticos tradicionais do país, chamados por eles de casta política e, ao contrário da negação pura e simples, organizaram-se enquanto partido, disputaram eleições e elegeram, no dia 25 de maio de 2015, a ativista de esquerda Ada Colau prefeita da cidade de Barcelona, além de obter também expressiva votação em Madri, onde o grupo ficou apenas um vereador atrás do tradicional PP e deve protagonizar as mudanças na cidade nos próximos anos. Por sua vez, o professor universitário Pablo Iglesias, secretário geral do Podemos, aparece em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para as eleições gerais que acontecerão esse ano. O século começou com os olhos voltados para a América Latina e, em especial, ao Brasil. Em pouco mais de uma década o país deu um imenso salto nas questões sociais, chegou ao pleno emprego, solidificou o mercado interno, recuperou o valor do salário mínimo, criou mecanismos de fiscalização e controle dos gastos públicos, ampliou acesso ao ensino superior e, principalmente, deu voz e vez a setores da sociedade antes invisíveis para o Poder Público. ?? emblemática a notícia recente (pouco divulgada pela grande mídia nativa) de que o Brasil reduziu em 75% a extrema pobreza e saiu do mapa da fome da ONU. Esse processo de profundas transformações econômicas e sociais, no entanto, não foi acompanhado por uma modernização da cultura política do país, tampouco pela disputa de valores desses grupos que ascenderam socialmente.  O Brasil, rejeitando aventuras golpistas e o Fla x Flu extremista que tomou conta das redes sociais e algumas varandas, precisa avançar em direção a uma reforma política e um novo ciclo de desenvolvimento onde o ???andar de baixo??? não pague a conta pelos erros do ???andar de cima???. Que os ares vindos de Grécia e Espanha nos inspirem. Vinícius Ghizini, 28, é historiador (USP) e Mestrando em História Social (Unicamp). 

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Artigo: Podemos Mais, por V Ghizini

Política crítica,

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31 de maio de 2015

A crise de representatividade do sistema político-eleitoral e a manutenção de uma cultura política arcaica, incapaz de responder aos anseios da sociedade e em descompasso com as imensas mudanças sociais e tecnológicas dos últimos anos, aparece frequentemente associada à ausência de partidos e movimentos capazes de encantar a juventude e inspirar paixões transformadoras.
Ao mesmo tempo, na periferia econômica europeia, surge uma interessante reação ao plano de austeridade e ao conservadorismo, confirmada com as vitórias eleitorais do Syriza na Grécia e os ótimos resultados obtidos pelo Podemos nas eleições municipais espanholas. No caso grego, uma aliança tática com setores nacionalistas (à direita no espectro ideológico) e um programa contrário às medidas de austeridade impostas pela União Europeia garantiu a eleição de Alexis Tsipras, militante do grupo de esquerda Syriza, o primeiro-ministro mais jovem da Grécia em um século e meio. Esse fato, acima de tudo, representou a vitória dos 99% contra o 1%, ou seja, dos interesses do povo atingido pela pobreza, desemprego e arrocho salarial contra a elite financeira. A habilidade para construir maioria dialogando com setores diferentes da sociedade sem abrir de pontos fundamentais para mudar o país guarda semelhança com o processo ocorrido no Brasil nas eleições presidenciais de 2002.   O caso espanhol é mais peculiar. Surgido dos movimentos que tomaram as ruas após a profunda crise que atinge o povo espanhol e, de forma dramática, sua juventude, o movimento Podemos formulou uma crítica ácida aos políticos tradicionais do país, chamados por eles de casta política e, ao contrário da negação pura e simples, organizaram-se enquanto partido, disputaram eleições e elegeram, no dia 25 de maio de 2015, a ativista de esquerda Ada Colau prefeita da cidade de Barcelona, além de obter também expressiva votação em Madri, onde o grupo ficou apenas um vereador atrás do tradicional PP e deve protagonizar as mudanças na cidade nos próximos anos. Por sua vez, o professor universitário Pablo Iglesias, secretário geral do Podemos, aparece em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para as eleições gerais que acontecerão esse ano. O século começou com os olhos voltados para a América Latina e, em especial, ao Brasil. Em pouco mais de uma década o país deu um imenso salto nas questões sociais, chegou ao pleno emprego, solidificou o mercado interno, recuperou o valor do salário mínimo, criou mecanismos de fiscalização e controle dos gastos públicos, ampliou acesso ao ensino superior e, principalmente, deu voz e vez a setores da sociedade antes invisíveis para o Poder Público. ?? emblemática a notícia recente (pouco divulgada pela grande mídia nativa) de que o Brasil reduziu em 75% a extrema pobreza e saiu do mapa da fome da ONU. Esse processo de profundas transformações econômicas e sociais, no entanto, não foi acompanhado por uma modernização da cultura política do país, tampouco pela disputa de valores desses grupos que ascenderam socialmente.  O Brasil, rejeitando aventuras golpistas e o Fla x Flu extremista que tomou conta das redes sociais e algumas varandas, precisa avançar em direção a uma reforma política e um novo ciclo de desenvolvimento onde o ???andar de baixo??? não pague a conta pelos erros do ???andar de cima???. Que os ares vindos de Grécia e Espanha nos inspirem. Vinícius Ghizini, 28, é historiador (USP) e Mestrando em História Social (Unicamp). 

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