Talvez muitos não saibam, mas o mercado de eventos no Brasil, incluindo os setores de cultura, esportes, entretenimento e negócios, movimenta cerca de R﹩ 936 milhões por ano, o que representa 13% do PIB brasileiro. Além disso, os empregos diretos e indiretos gerados com a realização dos eventos é imenso. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em abril do ano passado apontou que a pandemia afetou 98% do setor no país e a percepção de mais da metade dos entrevistados era de que o faturamento seria reduzido de 76% a 100%. A Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape) indicou, através de um levantamento no início deste ano, que mais de 450 mil empregos na área foram perdidos com o confinamento. Mas, com o avanço da vacinação, a liberação dos eventos presenciais em São Paulo em agosto e a divulgação de datas para eventos corporativos, feiras e de entretenimento, o mercado demonstra que está voltando.

Com mais de 50% da população com a vacina em dia, eventos-teste estão ocorrendo para mostrar se a população está preparada para o retorno do presencial, além de analisar se os protocolos de segurança são realmente efetivos. A Ubrafe (União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios) divulgou um levantamento com 80 eventos presenciais confirmados até dezembro deste ano. Como CEO de uma agência de eventos e marketing especializada em atender multinacionais, percebo que o receio da segurança é o que mais impacta a retomada do presencial, principalmente quando falamos em empresas globais, pois são regidas pela matriz e a realidade dos países é diferente, dificultando o desenvolvimento de ações locais.

Os corajosos vão saindo na frente, analisam as medidas de segurança necessárias e investem no futuro do mercado. No cenário internacional já é possível observar o retorno dos eventos presenciais em grande escala. Um dos principais acontecimentos do mundo da moda, o Fashion Week, aconteceu na cidade de Paris no formato presencial, entre 28 de setembro e 06 de outubro, e contou com, aproximadamente, cinco mil pessoas reunidas por dia, entre elas celebridades, modelos e estilistas de renome. Outro exemplo é o Web Summit, uma das maiores conferências anuais de tecnologia do mundo. Na edição de 2021, o evento tinha a expectativa de receber 10 mil pessoas, mas superou a meta com mais de 40 mil participantes, em grande maioria mulheres. No mês de setembro, os shows retornaram e grandes artistas da música voltaram a fazer apresentações e tours, como a banda Aerosmith, que começou a turnê de 50 anos pelos EUA. Os espetáculos da Broadway também retornaram em setembro deste ano e até o Lollapalooza Chile 2021 já tem data marcada para novembro.

Essa retomada não é apenas das ações em si, mas também da bolsa de valores e vai acontecendo de maneira fluída. Vale ressaltar que no último dia 1º, depois de quase 600 dias, as restrições de público e horário para conter o coronavírus deixaram de ser obrigatórias. A Expo Retomada 2021, organizada pelo Governo do Estado de São Paulo, em parceria com a Prefeitura de Santos, para estudar a viabilidade do retorno das feiras de negócios reuniu mais de 1.400 pessoas em dois dias de evento presencial.

O Business Show, feira da indústria dos eventos corporativos, incentivos, congressos e feiras, também fez a sua 19ª edição no formato presencial no final de outubro. As edições presenciais neste ano tiveram resultados muito bem-sucedidos e mostraram que é possível preparar e executar as ações com prudência dentro das opções que temos. A segurança é de extrema importância para essa retomada e a responsabilidade é da equipe organizadora do evento. Para manter os participantes seguros, há diversas alternativas e protocolos indicados. Em primeiro lugar deve-se entender os protocolos de saúde da própria empresa que está realizando o evento e torná-los efetivos dentro da ação. Além disso, exigir o comprovante de vacinação, realizar testes de Covid antes do check-in e determinar o uso obrigatório de máscaras são cuidados fundamentais para proteger os convidados e colaboradores.

Esse movimento de retorno vai gerar muitos empregos que foram perdidos nos últimos dois anos, afinal, o networking que envolve a realização de um evento é enorme. São companhias aéreas, hotéis, pousadas, fornecedores de diversos serviços e produtos, ou seja, com todos esses setores novamente em movimento, a economia do Brasil melhorará muito. Além do mais, trará o que a sociedade mesmo com um certo receio, tanto deseja: olho no olho e contato humano nas experiências.

Quando estamos em um evento online, o nosso foco pode ser influenciado com muita facilidade, afinal, em frente a uma tela tudo pode acontecer: o telefone toca, chega um e-mail importante, o filho chama em outro cômodo da casa, enfim, diversas são as situações que podem influenciar na atenção do espectador. Já no evento presencial, a preparação começa cedo. Pensamos no conforto da roupa e sapato que usaremos, escolhemos um bom lugar para sentar e assistir a palestra, observamos os participantes e fazemos novas amizades com pessoas com vivências similares às nossas e, consequentemente, prestamos mais atenção no conteúdo. Ou seja, a mensagem é transmitida de forma enfática ao ouvinte.

Claro que as experiências online e híbridas ficarão, é o momento do ‘omnichannel’. Tudo vai acontecer em diversos canais, mas cada um com a performance mais adequada para a transmissão da mensagem desejada, a fim de conseguir o melhor desempenho para a ação idealizada. Muitos aprendizados do online vão fortalecer os eventos presenciais. Melhoramos muito a qualidade do que tínhamos, principalmente de transmissões audiovisuais e produção de conteúdo multimídia. A capacitação para manusear os avanços tecnológicos para as apresentações fará toda a diferença nesse retorno.

Os bares estão lotados, assim como os restaurantes, pontos turísticos e aeroportos. As pessoas demonstram o desejo pelo retorno, mas querem a garantia da segurança, é claro. Em todos os eventos presenciais que a minha agência realizou neste ano, testamos os participantes e não houve nenhum tipo de registro de transmissão do vírus em nossas ações. O mesmo fator também pode ser observado em outros eventos-teste ao redor do Brasil e do mundo.

Quando houver dúvida se será possível garantir a segurança de todos os participantes em um evento presencial, deve-se optar pelo formato híbrido ou online. O budget também será um ponto de atenção na hora da tomada de decisão das empresas para planejar os encontros. Mas, caso a organização queira garantir a melhor experiência do seu consumidor e entregar o tão desejado ‘olho no olho’, deve-se apostar no presencial novamente sem medo, mas com muito planejamento e responsabilidade para garantir a segurança de colaboradores e participantes.

*Mônica Schimenes, é fundadora e CEO da MCM Brand Experience, grupo de comunicação integrada com atuação nacional e internacional, comprometido com a performance e responsável com a diversidade e inclusão. Em 2017, conseguiu elevar a empresa graças ao Programa de Mentoria para Fornecedores de Diversidade da Monsanto, pelo qual foram selecionados. É presidente do Conselho de Empresárias da WEConnect International do Brasil, foi eleita “Mulher Empreendedora Global do Ano” pela WEConnect International, reconhecida como empreendedora Global pela IWEC International e é participante do programa Winning Women da EY. Com mais de 20 anos de experiência em gerenciamento de marketing, comunicação e eventos, é responsável por contas como: IBM Brasil, BASF, Johnson & Johnson, Nestlé, Google, Suvinil, Dell, Unilever e outros. Realiza importantes palestras, com os temas: “O Feminino da Voz”, sobre empoderamento feminino, “Essência”, uma palestra biográfica motivacional, “A voz sua marca”, sobre branding e “Todos os tons da Inclusão”, um convite aos temas, diversidade, inclusão e sustentabilidade. É cantora, casada e mãe do Leonardo.