Artigo- Onda de direita

Política crítica,

Artigo- Onda de direita

17 de fevereiro de 2017

A eleição de Donald Trump é o ápice da subida da direita ao poder mundial. Esse magnata republicano, como presidente dos EUA, é a última variável que faltava para que pudéssemos solucionar a atual equação histórica e concluir: estamos iniciando um abrangente ciclo de direita, em alguns aspectos até de extrema-direita, aqui no Ocidente.

A chamada “maioria silenciosa” de eleitores, difícil de detectar por meio de pesquisas de opinião, novamente fez muito barulho e possibilitou a ascensão da direita. Por isso, os EUA, a partir dessa eleição, vão ser causa de repúdio não mais só da extrema-esquerda, mas também da centro-esquerda mundo afora. Ou seja, com Trump à frente, os EUA agora se tornaram uma caricatura de si próprios.
No entanto, apesar de dono de absurdos belicistas como: “Sou muito bom em guerras; eu amo as guerras, incluindo as armas nucleares”, e ainda gritos antidemocráticos como: “Prometo aceitar o resultado dessa eleição somente se eu vencê-las”, o novo presidente do país mais poderoso do mundo é mero populista mentiroso, um “oportunista”, como categorizou o filósofo esloveno Slavoj Zizek. Para Zizek, o “real perigo” era a vitória de Hillary Clinton, pois esta, sim, não precisava de novos acordos para representar os interesses do establishment americano (o que inclui o intervencionismo e imperialismo).
De outro lado, líderes como o Papa Francisco, diferentemente do crítico esloveno, opõem-se publicamente à postura extremista de Trump. Francisco, inclusive, não absolveu a ideia de Trump, de separar com muros os EUA e o México, e por isso declarou: “Uma pessoa que pensa em construir muros em vez de pontes não é uma pessoa cristã”. Ora, já era esperado, por quase todos os especialistas em política, que a violência “pragmática” de Trump, bem à la Frank Underwood, seria indigesta para todos. Mas, o inesperado aconteceu. E agora, assombrado, o mundo tem de assistir a escolha feita pelo povo americano.
Porém, mesmo diante da nova ascensão mundial do nacionalismo, conservadorismo e xenofobia, sabemos que o mar da política não se agita apenas de um lado. Por isso, depois da onda de direita, então será a vez da esquerda. Talvez em cinco ou oito anos, conforme prevê o geógrafo britânico David Harvey: será a vez da esquerda. E isso é quase inevitável, pois se a direita está chegando junto ao poder mundo afora (com discursos que levam a uma síntese impossível: ora populista, ora de medidas impopulares), então é a própria direita quem vai desgastar a sua imagem dentro da esfera pública: as mentiras começarão a ser entendidas e as medidas de austeridade começarão a criar efeitos diretos contra as classes média e baixa. Assim, quem hoje votou na direita ou ultradireita, amanhã ficará politicamente órfão.
Em cerca de cinco anos, então, os políticos que hoje negam a política começarão a deixar de fazer sentido. Serão desmentidos por si mesmos, por seus próprios mandatos. Todos veremos, então, que a trupe do Trump é uma trupe de políticos camaleônicos: políticos que marqueteiramente se vendem como não-políticos. Aliás, não por coincidência, o magnata paulistano João Doria trilhou os mesmos caminhos do magnata nova-iorquino; ambos nasceram do show business da TV. Trump, como apresentador do “The apprentice”, pela NBC, e João Doria como apresentador de “O Aprendiz”, pela Record. Mas com o tempo, um breve tempo, esses “não-políticos” serão inevitavelmente revelados. E aí será a vez da esquerda.
Porém, enquanto isso não acontece, continuemos olhando o mar atual, tão favorável à direita. Primeiramente, os nomes: Trump, Temer, Macri, Doria, Le Pen, Crivella, Petry, Bolsonaro, May, Feliciano, Wilders… Em segundo, as suas bandeiras: “Não sou político, sou gestor”, “Vamos construir um muro contra esses imigrantes”, “Nazismo não é de direita”, “Fora PT”, “Pela memória do Coronel Brilhante Ustra”, “Somos todos Cunha”, “Mais meritocracia e menos esmola”, “Direitos Humanos só para humanos direitos”, “Escola sem partido”… Por fim, as consequências históricas: congresso mais conservador desde 1964; golpe parlamentar; retirada da Filosofia do ensino médio; descaso com milhares de inocentes morrendo no mar ao fugir de guerras; chegada do fundamentalismo neopentecostal ao poder; apenas 1% detém mais de 50% da riqueza no capitalismo; votação contra o acordo de paz com as Farc; votação favorável ao separatismo do Brexit… Eis aí a onda de direita, que por ora vai afogar muitas minorias.
Wellington Anselmo Martins, graduado em Filosofia (USC), mestrando em Comunicação (Unesp), bolsista de pesquisa de pós-graduação (Capes).  

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17 de fevereiro de 2017

A eleição de Donald Trump é o ápice da subida da direita ao poder mundial. Esse magnata republicano, como presidente dos EUA, é a última variável que faltava para que pudéssemos solucionar a atual equação histórica e concluir: estamos iniciando um abrangente ciclo de direita, em alguns aspectos até de extrema-direita, aqui no Ocidente.

A chamada “maioria silenciosa” de eleitores, difícil de detectar por meio de pesquisas de opinião, novamente fez muito barulho e possibilitou a ascensão da direita. Por isso, os EUA, a partir dessa eleição, vão ser causa de repúdio não mais só da extrema-esquerda, mas também da centro-esquerda mundo afora. Ou seja, com Trump à frente, os EUA agora se tornaram uma caricatura de si próprios.
No entanto, apesar de dono de absurdos belicistas como: “Sou muito bom em guerras; eu amo as guerras, incluindo as armas nucleares”, e ainda gritos antidemocráticos como: “Prometo aceitar o resultado dessa eleição somente se eu vencê-las”, o novo presidente do país mais poderoso do mundo é mero populista mentiroso, um “oportunista”, como categorizou o filósofo esloveno Slavoj Zizek. Para Zizek, o “real perigo” era a vitória de Hillary Clinton, pois esta, sim, não precisava de novos acordos para representar os interesses do establishment americano (o que inclui o intervencionismo e imperialismo).
De outro lado, líderes como o Papa Francisco, diferentemente do crítico esloveno, opõem-se publicamente à postura extremista de Trump. Francisco, inclusive, não absolveu a ideia de Trump, de separar com muros os EUA e o México, e por isso declarou: “Uma pessoa que pensa em construir muros em vez de pontes não é uma pessoa cristã”. Ora, já era esperado, por quase todos os especialistas em política, que a violência “pragmática” de Trump, bem à la Frank Underwood, seria indigesta para todos. Mas, o inesperado aconteceu. E agora, assombrado, o mundo tem de assistir a escolha feita pelo povo americano.
Porém, mesmo diante da nova ascensão mundial do nacionalismo, conservadorismo e xenofobia, sabemos que o mar da política não se agita apenas de um lado. Por isso, depois da onda de direita, então será a vez da esquerda. Talvez em cinco ou oito anos, conforme prevê o geógrafo britânico David Harvey: será a vez da esquerda. E isso é quase inevitável, pois se a direita está chegando junto ao poder mundo afora (com discursos que levam a uma síntese impossível: ora populista, ora de medidas impopulares), então é a própria direita quem vai desgastar a sua imagem dentro da esfera pública: as mentiras começarão a ser entendidas e as medidas de austeridade começarão a criar efeitos diretos contra as classes média e baixa. Assim, quem hoje votou na direita ou ultradireita, amanhã ficará politicamente órfão.
Em cerca de cinco anos, então, os políticos que hoje negam a política começarão a deixar de fazer sentido. Serão desmentidos por si mesmos, por seus próprios mandatos. Todos veremos, então, que a trupe do Trump é uma trupe de políticos camaleônicos: políticos que marqueteiramente se vendem como não-políticos. Aliás, não por coincidência, o magnata paulistano João Doria trilhou os mesmos caminhos do magnata nova-iorquino; ambos nasceram do show business da TV. Trump, como apresentador do “The apprentice”, pela NBC, e João Doria como apresentador de “O Aprendiz”, pela Record. Mas com o tempo, um breve tempo, esses “não-políticos” serão inevitavelmente revelados. E aí será a vez da esquerda.
Porém, enquanto isso não acontece, continuemos olhando o mar atual, tão favorável à direita. Primeiramente, os nomes: Trump, Temer, Macri, Doria, Le Pen, Crivella, Petry, Bolsonaro, May, Feliciano, Wilders… Em segundo, as suas bandeiras: “Não sou político, sou gestor”, “Vamos construir um muro contra esses imigrantes”, “Nazismo não é de direita”, “Fora PT”, “Pela memória do Coronel Brilhante Ustra”, “Somos todos Cunha”, “Mais meritocracia e menos esmola”, “Direitos Humanos só para humanos direitos”, “Escola sem partido”… Por fim, as consequências históricas: congresso mais conservador desde 1964; golpe parlamentar; retirada da Filosofia do ensino médio; descaso com milhares de inocentes morrendo no mar ao fugir de guerras; chegada do fundamentalismo neopentecostal ao poder; apenas 1% detém mais de 50% da riqueza no capitalismo; votação contra o acordo de paz com as Farc; votação favorável ao separatismo do Brexit… Eis aí a onda de direita, que por ora vai afogar muitas minorias.
Wellington Anselmo Martins, graduado em Filosofia (USC), mestrando em Comunicação (Unesp), bolsista de pesquisa de pós-graduação (Capes).  

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