Há algumas semanas, quando foram apresentados ao Brasil os participantes desta edição do Big Brother Brasil, nos chamou atenção o fato de que o elenco tinha a maior quantidade de pessoas negras desde sua estreia. Pessoas engajadas nos movimentos sociais, artistas, professor, psicóloga tinham a missão de garantir a representatividade do povo preto em horário nobre da emissora com maior audiência do País.

Quem não assiste o programa, não se importou muito com isso. Mas os fãs se empolgaram e apostaram todas as suas fichas que estes escolhidos poderiam quebrar estereótipos, vencer o preconceito e contribuir para a luta antirracista, feminista e do movimento LGBTQIA+.

Passadas duas semanas de programa, o que temos assistido é uma série de equívocos protagonizados pelas personalidades negras que parecem ter saído do lugar do oprimido e ocupado o papel de opressor com satisfação.

Além de promoverem violência psicológica contra Lucas Penteado – isolando, ignorando, humilhando e marginalizando o participante, um jovem negro periférico integrante do movimento secundarista e da luta pelos direitos humanos – Karol Conká, Lumena, Nego Di, Projota espalharam preconceitos de toda ordem – falas carregadas de xenofobia, racismo, machismo, intolerância religiosa, bifobia e mais.

A postura destes participantes nos entristece porque, além de violar a saúde mental de um garoto que não deu conta de aguentar toda essa pressão, ela está contribuindo para a desqualificação dos movimentos sociais. Estes brothers, como são chamados, estão, por exemplo, desqualificando a luta histórica do movimento negro pela inclusão de pardos e pardas e atacando o debate tão importante do colorismo. Estes brothers estão desqualificando a luta histórica do movimento LGBTQIA+ pelo respeito aos bissexuais, tratados como “indecisos”.

Estão desmerecendo o movimento estudantil e sua defesa da educação pública de qualidade taxando jovens estudantes como vagabundos. Estão desqualificando a luta dos direitos humanos por igualdade para todas e todos, tratando os militantes como defensores de bandido. Estão representando o papel que os opositores adoram da militância raivosa e radical. Estão reproduzindo e estimulando as violências que mulheres, que o povo negro, que os LGBTQIA+, nortistas e nordestinos do nosso País já sofrem diariamente nas ruas.

Tenho em mente que a escolha de cada um destes participantes não foi sem propósito. Ela segue o projeto que mancha e depois apaga todas essas vozes pela cultura hegemônica – masculina, branca e heteronormativa. Mais uma vez, são as minorias sociais sendo atacadas, mas por algozes tirados de dentro de seus núcleos. Mais uma vez é hora de nos apoiarmos, de nos darmos as mãos e transmitirmos afeto entre os nossos.

 

Deputada Márcia Lia