Dados divulgados nesta quinta-feira (02) pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o PIB da indústria de transformação caiu 0,3% em 2022, em consequência, sobretudo, dos efeitos causados pela política monetária contracionista.

Diante da expectativa de um período mais longo de juros elevados, com desaceleração da economia brasileira, especialmente no primeiro semestre de 2023, a Fiesp projeta um novo recuo para 2023, desta vez de 0,4%. Se confirmado, este resultado configuraria a sétima queda em 10 anos.

“Esse quadro fortalece a necessidade de ações prioritárias, como a urgente reforma tributária, a definição de novo arcabouço fiscal, a diminuição do custo do crédito a partir da redução da taxa básica de juros e adoção de políticas voltadas à redução do endividamento da empresas e famílias brasileiras”, explica o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha.

O cenário de desaceleração da atividade econômica nos primeiros meses de 2023 é reforçado pelo Índice de Condições Financeiras (ICF-FIESP). O indicador, que resume o comportamento das principais variáveis que influenciam as condições financeiras e antecipa os ciclos da atividade doméstica entre 3 e 6 meses, indica que as condições financeiras da economia brasileira se encontram em terreno restritivo, sobretudo devido à elevação dos juros internacionais e doméstico, o que impacta negativamente as condições de crédito. Este alto patamar das taxas de juros nas economias desenvolvidas, somado à  desaceleração da atividade global, tendem a atuar como freios para a atividade em 2023 (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Indicador de Condições Financeiras (ICF-FIESP)

 

Fonte: elaboração Fiesp a partir de dados da Bloomberg, BCB e FED

Não obstante esta conjuntura desafiadora, alguns fatores podem contrabalancear o enfraquecimento da atividade doméstica, como uma surpresa positiva em relação ao crescimento chinês em 2023, decorrente, sobretudo, do fim da política rigorosa de combate à pandemia (Covid Zero), que pode favorecer o setor externo brasileiro, através do canal dos preços das commodities e do aumento das exportações. Isto posto, a projeção da FIESP para o resultado do PIB em 2023 é de crescimento de 0,5%.

Resultados do trimestre

O PIB brasileiro caiu 0,2% no 4º trimestre em relação ao 3º trimestre de 2022, após crescer cinco trimestres consecutivos. O desempenho veio em linha com a expectativa do mercado, que era de queda de 0,2%, configurando o cenário de desaceleração da atividade esperado para a segunda metade do ano. Com este resultado do último trimestre de 2022, o carregamento estatístico [1] para 2023 é de apenas 0,2%.

Pela ótica da oferta, o principal destaque foi a agropecuária, que exibiu aumento de 0,3% sobre o 3º trimestre de 2022. O setor de serviços também apresentou crescimento, de 0,2%, com destaque para a expansão de informação e comunicação (+1,8%). Já a indústria registrou queda de 0,3% no trimestre, com desempenho heterogêneo entre os subsetores. Enquanto a indústria extrativa mineral cresceu 2,5% no quarto trimestre, os segmentos de construção civil e eletricidade e gás, água e esgoto caíram 0,7% e 0,4%, respectivamente. Destaque negativo também para a indústria de transformação, que caiu 1,4% no 4º trimestre de 2022.

Já pelo lado da demanda, destaque para as exportações, que cresceram 3,5% no trimestre, enquanto as importações caíram 1,9% no mesmo período. Além disso, o consumo das famílias e o consumo do governo cresceram ambos 0,3% na passagem trimestral. Por fim, a formação bruta de capital fixo recuou 1,1% no último trimestre de 2022.  Todos os dados acima contemplam ajuste sazonal.

PIB cresce 2,9% em 2022 com final em baixa

Resultados no ano

No ano de 2022, o PIB brasileiro cresceu 2,9%, após avançar 5,0% em 2021. Esse resultado foi mais forte do que o esperado pelo mercado no início do ano, o qual sinalizava, em janeiro de 2022, um crescimento de apenas 0,3% [2].

Pela ótica da oferta, o setor que mais cresceu no ano foi serviços (+4,2%), seguido pela indústria total (+1,6%), enquanto agropecuária caiu 1,7% no mesmo período, queda influenciada pela redução significativa na produção anual da soja (-11,4%), principal produto da lavoura brasileira. No setor de serviços, destaque no ano para os segmentos de outros serviços (+11,1%) e transporte (+8,4%), que foram favorecidos, em grande medida, pelo fim das restrições sanitárias. Na abertura da indústria, construção civil (+6,9%) e eletricidade e gás, água e esgoto (+10,1%) tiveram desempenhos positivos, favorecidos pelo aumento da ocupação na atividade e pela manutenção de bandeiras tarifárias mais favoráveis ao longo de 2022, enquanto extrativa mineral (-1,7%) e indústria de transformação (-0,3%) foram destaques negativos. Este resultado corresponde à sexta queda do PIB da indústria de transformação nos últimos dez anos.

Pela ótica da demanda, o componente consumo das famílias foi destaque no ano, ao crescer 4,3%, em grande medida devido às medidas de estímulo à demanda adotadas pelo governo federal no primeiro semestre do ano. Consumo do governo e formação bruta de capital fixo, por sua vez, cresceram 1,5% e 0,9%, respectivamente. Em relação ao setor externo, destaque para as exportações, que cresceram 5,5%, puxadas pela elevação dos preços das commodities, enquanto as importações subiram 0,8%. Os dados detalhados podem ser verificados na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultados do PIB 

O resultado do PIB em 2022 refletiu, sobretudo, o bom desempenho do setor de serviços, o qual foi beneficiado pelo processo de reabertura econômica após o fim das restrições sanitárias e pelas ações de estímulo à demanda adotadas pelo governo federal, como a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas, o saque antecipado do FGTS, a majoração do valor do Auxílio Brasil[3] e as medidas de desoneração. Ademais, a melhoria do mercado de trabalho, com recuperação do nível de emprego e o crescimento significativo da massa salarial, também favoreceu o bom desempenho da atividade na primeira metade do ano. Tais fatores contrabalancearam o impacto negativo da política monetária fortemente contracionista [4].

Contudo, conforme o crescimento mais lento da atividade no 3º trimestre já havia sinalizado, o 2º semestre de 2022 não apresentou o mesmo dinamismo da primeira metade do ano. O esgotamento dos efeitos da reabertura econômica, a perda de fôlego dos estímulos à demanda e a incerteza econômica elevada, somados aos efeitos contracionistas do aumento da taxa de juros, contribuíram para este quadro.

[1] O carregamento estatístico diz respeito à herança estatística de uma série. Ou seja, está relacionado a uma situação em que a base de dados reflete a sua continuidade. Isso significa que mesmo que o PIB brasileiro fique estável ao longo dos quatro trimestres de 2023, ainda deverá crescer 0,2% no ano, devido ao desempenho favorável verificado no ano de 2022.

[2] De acordo com o primeiro Relatório Focus de 2022. 

[3] Atual Bolsa Família.

[4] A meta para a taxa Selic passou de 2,0% em março de 2021 para 13,75% em agosto de 2022, patamar mantido atualmente. Segundo o último Relatório Focus, referente ao dia 24/02/2023, o mercado espera que a taxa Selic encerre o ano de 2023 em 12,75%.

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