A Câmara Municipal de Americana realizou na quarta-feira (30) uma sessão solene em homenagem ao Dia da Consciência Negra, comemorado anualmente em todo o país em 20 de novembro. A solenidade foi realizada em atendimento a requerimento de autoria da vereadora Professora Juliana (PT). A cerimônia contou com a entrega de moções de aplausos a representantes de grupos ligados à cultura negra e de duas medalhas de mérito “Zumbi dos Palmares” a Benedito Samuel Barbosa e Cláudia Monteiro da Rocha Ramos, pela atuação nos diversos setores da sociedade no combate à prática do racismo e em favor da cultura afro-brasileira.
Participaram da cerimônia as vereadoras Leonora Périco (PDT) e Professora Juliana, a secretária municipal de Cultura e Turismo, Márcia Gonzaga Faria, o representante da comissão de igualdade racial da OAB Americana (Ordem dos Advogados do Brasil), Dr. Emerson Pinheiro, a representante do núcleo de educação étnico-racial da Unisal Americana, Lorena Almeida, representantes de associações, movimentos e grupos ligados à cultura negra e convidados, amigos e familiares dos homenageados. A sessão solene contou com apresentações culturais que reforçam o legado afro-brasileiro, com as participações do Centro Cultural Candeeiro, Menino Caio, Maracatu Estação Quilombo e da Comunidade de Estudos e Pesquisas da Capoeira Mestre Peixe Cru – Projeto Capoeira Força e Fé.
Foram homenageados com moções de aplausos os representantes da Capoeira Força e Fé, Reinaldo Ribeiro dos Santos (Instrutor Maguila); do Centro Cultural Candeeiro, Adriana Ferreira Pires; da UNEGRO, Cristiane Souza; do Grito dos Excluídos, Ester dos Santos; do Povos e Etnias e Rotary, Denize Ramos; da Estação Quilombo Maracatu, Mateus Alexandre Ferreira; do Baque/Maracatu, Caroline Gomes; e a artesã Silvana Lu. Durante o uso da palavra, a vereadora Professora Juliana destacou o trabalho desenvolvido pelos homenageados. “É muito importante poder trazer toda essa riqueza que nós temos em termos de material humano, não só na nossa cidade, mas na nossa região. É uma alegria e uma emoção muito grande poder estar homenageando essas pessoas aqui hoje. São pessoas que possuem um trabalho de valorização da cultura e da história negra. Agradeço a presença de todos e deixo meu máximo respeito ao trabalho desenvolvido por todos vocês”, falou.
A vereadora Leonora Périco parabenizou os homenageados com a medalha de mérito Zumbi dos Palmares. “Como mulher negra, me sinto honrada de participar desta solenidade. Reconheço a trajetória, a luta e o trabalho desenvolvido pelo seu Dito e pela Cláudia. Vocês são merecedores desta medalha. Parabéns”, afirmou. Os homenageados utilizaram a palavra para agradecer pela honraria. “Não sei se mereço tudo isso, pois recebo muitas bençãos de todos vocês. Nossos passos vêm de muito longe. Nós não estamos aqui de graça. Mais de trinta morreram pra cada um de nós estar aqui hoje. Para acabar com o racismo, não adianta nós negros falarmos só entre a gente. Precisamos falar com todos. Não podemos esquecer a luta dos nossos ancestrais e eles estão nos abençoando aqui hoje. Agradeço em nome de toda a população negra”, discursou Benedito Samuel Barbosa.
“É uma alegria muito grande, fiquei emocionada e parabenizo todos os grupos que se apresentaram, fazendo desta noite uma noite tão bela que me tirou lágrimas. Eu estive muitas vezes já nesta casa legislativa, ocupando essa tribuna, fazendo chamamentos, e destaco o ineditismo desta noite. A solução para um Brasil mais justo e mais equilibrado passa pela união e pela somatória de esforços entre brancos e negros. Essa luta é nossa. Muito obrigada a todos”, disse Cláudia Monteiro da Rocha Ramos.
Homenageados com a medalha de mérito “Zumbi dos Palmares”
Benedito Samuel Barbosa – Seu Dito Preto
Tem um papel muito importante em favor a cultura afro-brasileira e no combate à prática do racismo. Nascido em 19 de dezembro de 1945, viveu sua adolescência e parte da juventude em Piracicaba, no chamado Bairro Alto. O bairro possuía uma população de maioria negra e o lugar era conhecido como uma região periférica da cidade.
Mudou-se para Santa Bárbara d’Oeste em 1979. Ao traçar sua trajetória histórico-familiar, logo percebe-se como sua vida se mescla com a sua militância, que compreende a sua iniciação no movimento negro – na fundação da Associação Quilombo da Paz, em 1989.
O que mais mexeu com Dito foi a influência do Padre Benedito e dos 100 anos da Libertação, realizada pela Campanha da Fraternidade de 1988. A partir daí, seu envolvimento com a causa só aumentou e entrou para Pastoral Afro.
Em sua atuação na Associação Quilombo da Paz, Seu Dito viajou para vários países aprendendo sobre a temática étnico-racial. Conhecimentos que difundiu em todos os lugares por onde passou.
Tem por princípio ético e compromisso social, como educador, tentar contribuir para que a educação ofertada nas escolas públicas seja de qualidade e que possibilite uma maior inserção da população negra na estrutura sócio-ocupacional brasileira.
Cláudia Monteiro da Rocha Ramos
Cláudia Monteiro da Rocha Ramos nasceu em 10/01/1970 em Nova Olímpia, Paraná. Filha de pais nordestinos, cresceu num ambiente de muitos livros. Veio para Americana em 1983, onde residiu no conjunto habitacional do Antônio Zanaga. Passou sua juventude na região do Salto Grande, conhecendo histórias da cidade e do casarão do Salto Grande.
Sempre teve em mente que gostaria de estudar história, e durante o Ensino Médio, sua vontade se despertou ainda mais, pois, nas aulas de história, teve contato com as capitanias hereditárias, as sesmarias (generosas doações de terras) aos ricos donatários e sobre o MST – Movimento dos Sem Terra.
Sua carreira acadêmica e de luta surgiu quando ingressou na graduação de história pela UNIMEP, em Piracicaba, e conheceu o Movimento Negro de Piracicaba, iniciando seus estudos e aprendendo sobre a militância.
Ingressou no mestrado em 2005, desenvolvendo a tese “A Escravidão, A Educação da Criança Negra e a Lei do Ventre Livre – 1871”, onde investigou a diferenciação na oferta de educação da criança negra no contexto do escravismo após a lei do Ventre Livre de 1871, qual seria a educação destinada para essas crianças e qual teria sido o projeto implementado. Uma problemática histórica que tem reflexos ainda hoje, pois as crianças negras são as que mais têm dificuldades de concluir a educação básica no Brasil.
Sua atuação marcante no movimento negro e o trabalho pelo reconhecimento da importância do negro na história brasileira credenciam a Cláudia Monteiro da Rocha Ramos a receber nesta noite, da Câmara Municipal de Americana, a medalha de mérito Zumbi dos Palmares.