*José Ricardo Roriz Coelho

 Em poucos meses, quando a vacinação em massa controlar a pandemia, haverá um renascimento industrial, com oportunidades estratégicas para quem conseguir entender o novo momento mundial. Economia circular e de baixo carbono, conversão para energias renováveis, cidades inteligentes que demandarão novos equipamentos urbanos, comunicação 5G com uso intensivo de tecnologia em produtos e serviços, robotização nos mais diversos setores e uma nova indústria de base. O que até hoje era inovação ou projeto-piloto se tornará produto de massa – uma revolução que se dará por pressão ambiental, imposição legal e também concorrência global.

 

Nesta semana em que a indústria brasileira comemora seu dia, o 25 de maio, a questão relevante é saber qual lugar queremos ocupar no mapa mundial de produção. Seremos protagonistas da energia limpa, do agro tecnológico e industrial, da biotecnologia, dos produtos para a saúde e tantos outros setores industriais? Exploraremos nossa vocação exportadora e as parcerias no nosso Continente? Conseguiremos agregar valor e reputação à marca Brasil? Ou vamos nos limitar a vender matéria-prima enquanto perpetuamos problemas que já duram décadas?

 

Para sair do marasmo, o Brasil precisa de uma ação coordenada entre as instituições da indústria, governos e centros de pesquisa. Temos de incrementar com urgência a fórmula “Iniciativa Privada-Universidades-Governos” que se tornou paradigma no Vale do Silício e que também está por trás da arrancada da China. É possível retomar o protagonismo da indústria brasileira. Mas para isso precisamos, antes, despartidarizar o debate, corrigir dificuldades estruturais e renovar a liderança industrial. São Paulo tem um papel central nessa mudança.

 

No ano passado, a indústria de transformação representou meros 20,4% de toda a produção nacional de bens e serviços, a pior participação em quase 80 anos de história. Esse desempenho lamentável deveria ter ligado todos os alertas na sociedade brasileira. Indústria forte é garantia de empregos e de desenvolvimento humano. É comprovação de que educação e pesquisa estão alcançando bons resultados.

 

Os empecilhos mais evidentes ao renascimento industrial do Brasil vêm sendo diagnosticado há anos. Há excessivo peso de tributos, que obrigam a indústria a arcar com mais de 40% da arrecadação total, mesmo participando com apenas 20% do PIB. A indústria é a maior prejudicada por uma legislação confusa e complexa, que obriga nossas empresas a arcar com 1.501 horas anuais de trabalho fiscal e contábil, um custo burocrático para pagar impostos que não existe nos nossos concorrentes.

 

Infelizmente, mesmo após duas décadas de discussões no Congresso, estamos caminhando para trocar uma ampla reforma tributária por um “puxadinho” fiscal, atendendo questões conjunturais. Falta à indústria a força da bancada agrícola. O processo de desindustrialização do Brasil caminhou ao lado do processo de personalização e partidarização das entidades da indústria. Como alternativa, os diversos setores fortaleceram suas associações. Somos eficientes na manutenção do que foi conquistado, mas nos falta um projeto de longo prazo. Estamos presos a um passado que não gera mais os mesmos resultados.

 

No agro, ocorreu o inverso. Ao longo do tempo, criou-se uma marca maior que a bancada dos usineiros, dos pecuaristas ou dos produtores de leite ou café. A bancada ruralista uniu interesses dispersos, transformando a causa de um em causa de todos. Ninguém se perpetua como liderança absoluta, a rotatividade é obrigatória. Nos últimos 17 anos, enquanto o agro teve vários rostos, de Alysson Paulinelli, Ronaldo Caiado e Tereza Cristina a Roberto Rodrigues, Blairo Maggi e Kátia Abreu, entre tantos outros, a Fiesp e o Ciesp ficaram com um rosto só.

 

Como candidato à renovação da segunda maior entidade industrial do mundo, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), defendo o protagonismo que o setor de transformação merece. Temos eleições marcadas para o dia 5 de julho e mais de 6.500 associados aptos a votar. É a primeira vez em 17 anos que duas chapas disputarão o Ciesp com ideias e projetos marcadamente diferentes. É incrível, mas até hoje, nunca fizemos um censo, um diagnóstico, de quem somos, das nossas sinergias, de como devemos crescer. Somos muitos, mas mal nos conhecemos por falta de organização e liderança.

 

Substituir um projeto personalista, com fracassada ambição eleitoral e partidária, por uma direção que descentralize as 42 regionais do Ciesp, com mais poder de decisão local, dará um novo fôlego à entidade. O Ciesp tem recursos para ser autônomo e independente, capaz de produzir os estudos e resultados que irão colocar São Paulo e o Brasil nesse novo mapa mundial da indústria. O Dia da Indústria não é de festejos, mas de reflexão e ação. Nossa indústria também pode ser pop. E ainda inovadora, tecnológica, exportadora e competitiva. Está na hora de iniciar a mudança.

JOSE RICARDO RORIZ COELHO – FOTO: GABRIEL REIS www.gabrielreisfoto.com

*José Ricardo Roriz Coelho é vice-presidente da Fiesp e do Ciesp e presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico)