Na contramão das cidades vizinhas, Americana aumenta as perdas de água

Índice de perdas de água tratada cresce 10% em cinco anos, chegando a 55,09%

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Quando se fala em água na torneira do cidadão, dois fatores são primordiais: a captação de água bruta, para reservar e poder fazer o devido tratamento do líquido; e o índice de perdas de água tratada na rede, que significa a quantidade efetiva que chega ao consumidor sem se perder pelo caminho. E no quesito das perdas, Americana apresenta índices que estão na contramão das cidades vizinhas.

Em 2010, Americana perdia 45,65% de toda a água tratada. Em 2015, o índice aumentou para 49,39% e, depois, chegou a 49,96% em 2020. Mas as perdas no município passaram a 55,09% em 2025 – ou seja, um aumento de cerca de 10%. A média nacional de perdas de água no Brasil gira em torno de 40,3%, segundo o SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) de 2023. O índice pode variar conforme a fonte e o ano: o Instituto Trata Brasil aponta perdas médias de 35% em 2022.

Como aumentar a captação de água em rios depende da autorização de órgãos regulamentadores e da quantidade de chuvas, uma das saídas para os municípios é construir represas próprias. Já a medida mais silenciosa e efetiva é reduzir os índices de perda de água tratada na rede. Ou seja, garantir que a água que foi captada, e depois tratada, efetivamente chegue às torneiras dos cidadãos.

Os principais problemas que causam perda de água são as chamadas ‘físicas’, como vazamentos, rompimento de tubulações e a lavagem de filtro, além das ‘não-físicas’, que ocorrem na submedição por hidrômetros antigos, fraudes e ligações clandestinas.

Na contramão das cidades vizinhas, Americana aumenta as perdas de água

Diminui na região

Recentemente, o DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Santa Bárbara d’Oeste divulgou a redução de 37,5% nas perdas ao longo dos últimos cinco anos. O índice, que era de 56% em 2020, caiu para 35% em setembro de 2025. Os números refletem ações de monitoramento, detecção e correção de vazamentos não-visíveis na rede de distribuição.

Em Nova Odessa, através da Coden Ambiental, o município se destaca pelo índice de apenas 28%. Com a adoção de diversas medidas, as perdas foram de 57% em 2005 para 43% em 2010. A meta da companhia é ficar entre 20% e 25%, que seriam índices “de primeiro mundo”, até o ano de 2030.

São adotadas ações como troca de hidrômetros e pesquisa de vazamentos, além de setorização (instalação de macromedidores), troca de rede e implantação de transmissão de dados dos níveis por telemetria. Ainda a troca de tubulações antigas de PVC (Policloreto de Vinila) por PEAD (Polietileno de Alta Densidade), material que oferece maior resistência à pressão, reduz vazamentos e aumenta a vida útil da rede para mais de 50 anos.

Em Sumaré, o índice de perdas de água pela BRK Ambiental foi de 32% em média no ano de 2023. Segundo a empresa, este é um resultado de redução significativa em relação à média de 60% que existia antes da concessão dos serviços, o que significa que a empresa reduziu as perdas em 28 pontos percentuais ao longo de nove anos.

Enquanto isso, em Limeira, cujos serviços de saneamento são administrados há 30 anos também pela BRK Ambiental, as perdas hídricas estão na casa dos 19%, abaixo, inclusive do preconizado pela ONU (Organização das Nações Unidas), que é de 20%.

Aumenta nas 100 maiores cidades

De acordo com o Ranking do Saneamento 2025, o indicador médio de perdas na distribuição nas 100 maiores cidades do país foi de 45,43% em 2023, o que representa uma piora significativa em relação aos 35,04% computados em 2022. Tal valor é superior à média nacional divulgada no SINISA (2023), que foi de 40,3%.

Essas perdas, que são o volume de água que se perde no processo de abastecimento antes de chegar ao consumidor, ocorrem por diversos motivos, como vazamentos na rede, erros de medição ou consumos não autorizados. Tais desperdícios trazem impactos negativos ao meio ambiente, à receita e aos custos de produção das empresas de saneamento, elevando o custo do sistema como um todo e prejudicando, em última instância, todos os usuários do serviço de abastecimento.

No Brasil, a definição de nível aceitável de perdas de água foi definida pela Portaria 490/2021, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), que indica que para um município contar com níveis excelentes de perdas, deve ter no máximo 25% de perdas na distribuição.

Entre os 100 municípios considerados, 32 possuem níveis de perdas na distribuição menores que 30%. Outros 26 municípios perdem mais de 45% da água antes de chegar nas residências da população. Os pontos de máximo e mínimo correspondem, respectivamente aos municípios de Maceió (AL), com 71,73%, e Suzano (SP), com 0,88%.

Reduzir as perdas de água é, portanto, uma medida essencial para garantir que mais habitantes tenham acesso ao recurso hídrico, sem sobrecarregar as fontes naturais de abastecimento. Diante de um cenário de mudanças climáticas, onde os desafios para a disponibilidade hídrica nos mananciais se tornam cada vez mais evidentes, a eficiência na gestão da água e o combate ao desperdício são indispensáveis para garantir a segurança hídrica.

Realidade do sistema

A reportagem do Novo Momento questionou o DAE de Americana sobre o assunto. A resposta foi a seguinte: “O Departamento de Água e Esgoto (DAE) de Americana informa que o índice de perdas de água tratada no município passou a refletir de forma mais precisa a realidade do sistema, em razão da ampliação da rede de medição e do aumento da capacidade de armazenamento e distribuição.

Nos últimos anos, o DAE implantou novos reservatórios e expandiu o sistema de controle e monitoramento, o que possibilitou identificar com maior precisão os volumes produzidos e distribuídos. Essa melhoria no acompanhamento dos dados revelou perdas que antes não eram detectadas pela limitação de medições e pela menor quantidade de água disponibilizada no sistema.

Atualmente, com a operação mais robusta e o monitoramento detalhado, o DAE consegue localizar de forma mais eficiente os pontos de vazamento e direcionar ações corretivas. O índice, portanto, não representa necessariamente um aumento nas perdas reais, mas sim um retrato mais fiel do sistema de abastecimento, resultado da modernização e do aprimoramento da gestão operacional”.

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