Foto: Arquivo pessoal

O Padre Ademir Zanarelli, líder da paróquia do Bom Jesus criticou duramente o jornal O Liberal em sua perfil pessoal no Facebook. Ele comenta reportagem do jornal que fala do baixo uso de carros populares na região.

N??O JULGUEIS, PARA N??O SERDES JULGADO???.

Há uma tendência quase que compulsiva em muitas pessoas e na mídia de modo geral, em aproveitar um acontecimento para explorar, enlamear e até escarnecer pessoas, instituições.

Creio que é por isso que dizem que a maioria gosta das páginas que quando se torce, sai sangue.

Acredito que os meios de comunicação devam estar a serviço da construção de consciências, informar e formar uma sociedade mais humanitária e fraterna.

Estou dizendo isto por que julguei um despropósito a matéria do jornal O Liberal do último domingo, dia 4 de agosto. Ela explana o fato de que apenas 40% dos padres de Americana e de algumas outras cidades da região utilizam carros populares em seu trabalho, dando a entender que os 60% restantes utilizam carros caros ou de luxo para se locomoverem. Mas se contradiz logo a seguir, publicando os modelos e anos dos veículos. Nestes exemplos, o carro ???popular??? é uma questão técnica de valores, pois muitos dos modelos citados possuem suas versões populares.

Isto pelo fato da fala do papa Francisco sobre o despojamento e simplicidade dos padres sem ter necessidade de um carro luxuoso, mas um carro que qualquer um possa ter; saudações ao papa; ???Bendito aquele que vem em nome do Senhor???.

Algumas considerações se fazem necessárias. Quando lê-se a matéria tem-se a impressão de que o carro é propriedade particular do padre, o que não é verdade. O automóvel pertence à paróquia e está registrado no nome da Diocese, e não no nome do padre. Isso não é citado em nenhum ponto da reportagem, o que é uma grave falta para um jornalista e um veículo de comunicação que busca e tem compromisso com a verdade. A reportagem do jornal buscou saber o ano e o modelo. Se tivesse verificado a placa do veículo nos departamentos de trânsito, teria constatado esse fato. E são raríssimos os casos aonde o veículo é de propriedade particular do padre.

Foi o meu caso, quando aqui cheguei o carro já estava aqui, a comunidade através do Conselho de Assuntos Econômicos (CAE) decidiu o tipo do carro com o padre, e o carro é o mesmo modelo que o papa usou e ainda de ano inferior. Na paróquia anterior a esta estive por sete anos com o mesmo carro.

E o próprio papa afirmou a necessidade do padre ter um veículo para as muitas atividades da vida paroquial. ?? aqui que parece não fazer diferença, ou mesmo que desconheçam a intensa vida de serviços de um padre. São visitas a enfermos em residências e hospitais, inúmeros pedidos para benzer casas e estabelecimentos comerciais, reuniões nas comunidades, trabalho nas instituições de caridade atendidas pelas paróquias. Nenhuma dessas ações e atividades são citadas na matéria do jornal, dando a entender que o padre utiliza o carro para seu lazer, a seu bel prazer. Mais uma vez, aqui, erra o jornalismo e junto com ele, o veículo de comunicação. Teria faltado tempo para a verificação completa dos fatos?

Não defendo ou justifico, inclusive condeno, o luxo e a ostentação que vão contra o testemunho do ministério na vida da verdadeira igreja de Jesus Cristo. Porém não acho justo algo que é da particularidade de cada comunidade paroquial ser colocado em quadro comparativo para análise, chacota, comentários jocosos da população. Quem tem o direito em avaliar, ponderar e inibir a compra de um carro seja a própria comunidade em acordo com o Conselho de Administração e Economia. Em tempo: este conselho é formado por membros da comunidade, e sua principal função é administrar os recursos de uma paróquia.

Analisem se seria elegante publicar em tabela comparativa nomes de pessoas que não vão à missa, de pessoas que praticam o sexo antes do casamento, que não usam preservativos, ou que já abortaram que não perdoaram etc. Creio serem questões de foro íntimo a ser trata com respeito e particularidade.

Toda comparação parece idiota e não estou comparando algo de dimensão material como carro com questões morais ou espirituais, mas para dizer que não é cristão, humano e fraterno aproveitar de momentos oportunos para abordar questões pontuadas ou reservadas.

Acredito que neste caso a comunidade local é que tem o direito de amadurecer a idéia sobre qual carro condiz com o lugar e o ministério do padre.

Para entender, quer direito ao que lhes convêm o padre para o batizado, para a eucaristia da criança, para o casamento pomposo, para a benção da casa, loja fábrica, para o momento da agonia final do familiar, para a encomendação. O direito de exigir, avaliar, julgar, medir a vida particular ou eclesial do padre. Mas Jesus ao oferecer o reino a todos pediu que entrássemos todos pela porta estreita, assumíssemos a cruz de cada dia, vivêssemos em espírito de comunhão e participação.

Ficamos a indagar os deveres diante da fé em viver intensamente a vida da paróquia ou comunidade, de viverem os serviços de caridade ao próximo, de se responsabilizarem diante dos problemas na vida social, os deveres de acatarem os ensinamentos éticos e morais do evangelho.

Para finalizar Jesus já exortava os seus discípulos enviando-os como cordeiros em meio a lobos e dizendo que seriam perseguidos, presos, torturados por causa do seu nome.

Pe. Ademir Zanarelli