Parece-me que há alguns estudiosos de psicologia que costumam misturar ciência com religião, duas atividades mentais bem distintas, com metodologias irreconciliáveis, pois a primeira está baseada no raciocínio lógico e na experimentação e a segunda na crença nas palavras de presumidos profetas ou na fantasia, o templo comum da religião e da  arte.  

Fiquei intrigado com a leitura do artigo “A inteligência que vem da alma” (Revista Bem Estar, Diário da Região, 17/-9-17), em que a jornalista Gisele Bortoleto relata a descoberta por neuropsicólogos norte-americanos daquilo que está sendo chamado de “Ponto de Deus” no cérebro humano. Se entendi corretamente, teriam encontrado conexões neurais específicas de um tipo de inteligência que eles denominam de “espiritual”, porque viria da alma humana por um contato com o divino que estaria dentro de nós, independentemente de qualquer profissão de fé ou até de ateísmo.
A meu ver, não existe nada de natureza divina no ser humano, pois a inteligência é apenas um produto do cérebro, órgão do corpo humano que nos faz pensar e sentir, assim como o coração impulsiona nosso sangue. Evidentemente, o cérebro, como qualquer outro órgão, pode ser analisado cientificamente, encontrando-se diferentes  fases ou tipos de atividade mental, na dependência de fatores genéticos e educacionais. Poderíamos chamar de “espiritual” a inteligência de gênios e benfeitores da humanidade (grandes filósofos, cientistas, artistas) e dos mortais comuns que praticam o autoconhecimento, têm uma visão integrada da realidade e se preocupam com o bem estar da coletividade, convencidos de que ninguém pode progredir e ser feliz sozinho.
Salvatore D’ Onofrio é Dr. pela USP e Professor Titular pela UNESP.