O abuso sexual de crianças é um daqueles temas que todo mundo infelizmente conhece de perto ou ouviu falar de longe, mas, de certa maneira, insiste em esconder. Observado de soslaio, poucas vezes ganha o centro das atenções com tamanha contundência como no filme ‘Beauty Mark’ (‘Marca da Beleza’), de Harris Doran.

A partir de fatos reais ocorridos com diversas mulheres, o roteiro conta como uma jovem, num EUA que raramente é visto na tela do cinema, tenta resgatar a sua dignidade perante uma realidade adversa. Branca, abusada sexualmente quando criança, convive com um filho de três anos, oriunda de um relacionamento casual com um homem negro, e com a mãe alcoólatra.
No momento em que a sua casa é condenada pelas autoridades por estar imprópria para morar devido a um problema elétrico, é colocada num turbilhão, em que o filho negro, o fato de ser mãe solteira e o posto de trabalho que consegue com uma amiga dançarina de boate são motivos de preconceito permanente.
Busca, para conseguir renda, apoio de outras jovens molestadas na infância, mas não consegue apoio para denúncia, pois elas preferem o silêncio e o esquecimento à denúncia e ao lidar abertamente com a questão. O filme é, assim, sobre a dor em seus mais variados aspectos. E traz uma denúncia que deve ficar exposta na sala de estar e não escondida embaixo do tapete.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.