Os efeitos danosos do surto do Coronavírus que atingem a China e chega agora à Itália vão muito além da saúde.
No Brasil já há falta de peças para a montagem de produtos, e eventual queda nas exportações de commodities para a China é algo que está em aberto no cenário econômico.
Não há como negar que a crise afetará o PIB chinês com repercussões globais.
A resignação sul-americana e brasileira em abrir mão da industrialização, de investimentos em tecnologia e a fácil concentração na exportação de soja, carne e minérios demonstrou-se equivocada, e o surto da doença é só um sinal de nossa vulnerabilidade.
Ainda que em termos globais o Brasil exporte mais do que importe para a China, a concentração de riqueza no agronegócio produziu um país manco socialmente e de perspectivas sombrias para o resto da população.
Hoje são 41% de trabalhadores informais que não tem a menor condição econômica e educacional de planejar aposentadoria ou estabelecer qualquer plano de longo prazo. Assim nossa previdência quebrará em pouco tempo.
Mas não é só. Há caos nas relações sociais; hoje, casamentos e projetos de vida são tão efêmeros como um trabalho intermediado por aplicativo.
Desemprego, divórcios, crianças sem pensão alimentícia e aumento do exército de criminosos são as consequências urbanas da certeza de que não se consegue vencer dentro das regras do jogo. E se não se consegue vencer dentro do Estado Democrático de Direito despreza-se este.
O Brasil está perdendo um tempo valioso perdido em discussões ideológicas vazias, desprezando o potencial de sua juventude e dependente de um mercado global que dividiu o mundo em quem tem empregos, quem tem patentes e royalties, os que produzem alimentos e os que nada tem.
Esse quadro não interessa mais, como indicam Trump e o Brexit quando se fecham para garantir seus interesses.
Não podemos mais ficar reféns desta perversa lógica econômica global.