por Marcia Sena
A vida moderna valoriza muito o aspecto profissional das pessoas. Com isso, as mulheres passaram a ter filhos mais tarde do que era comum, ajudando a nascer uma nova geração, com uma nova nomenclatura. Esta nova geração diz sobre o fato de precisarmos “manter a peteca no ar” e nos equilibrar entre os cuidados com os filhos, muitas vezes pequenos, e com nossos pais e avós que, no processo de envelhecimento, passam a precisar de mais atenção financeira e emocional.
Pressionadas entre as duas gerações, somos chamadas de Geração Sanduíche.
Uma etapa da vida particularmente difícil para as mulheres, que agora não têm apenas uma dupla jornada, mas sim, tripla. Não fosse o suficiente o acúmulo de cuidados que, embora desafiadores, nos deixam felizes em permitir cuidar de nossos amados familiares, agora somos pressionados pelos impactos da Covid-19, levando muitos de nós à exaustão.
Soma-se ao zelo tradicional, o cuidado com o vírus. Não basta agora nossa presença, muitas vezes é necessário o oposto disso, nossa ausência! Evitarmos ficar próximos fisicamente de nossos pais e avós para não levar o vírus para eles. Nos distanciarmos de nossos filhos caso tenhamos que trabalhar na rua. Não é mais apenas nosso corpo que aponta sinais de cansaço. É nossa mente.
Sobrecarregados pela culpa de não poder agir nós mesmos nos cuidados aos nossos familiares, adicionamos uma dose extra de preocupação ao nosso sanduíche.
Alguns de nós voltaram a morar com os pais para diminuir os riscos e manter os cuidados. Muitas vezes sem necessariamente ser pelo fato dos cuidados contra contaminação, mas pela queda de renda, que levou jovens adultos a voltar para casa.
Nos EUA, 7 em cada 10 americanos estão agora cuidando de pais e filhos com o mesmo orçamento, de acordo com a pesquisa “Caregiving and COVID-19” da seguradora New York Life.
A Covid-19 colocou muitos desses cuidadores transgeracionais em posições insustentáveis. Mas a situação econômica prejudicada e, o aumento da expectativa de vida, traz outra geração. Os sanduíches duplos. Pessoas com 60 anos que ajudam a cuidar de netos para que os filhos trabalhem. Além de sustentarem e apoiarem os próprios pais, já com 80 ou 90 anos.
No entanto, para os membros do sanduíche duplo há certo benefício, como por exemplo a possibilidade de convivência social com os netos, mais jovens, permitindo a manutenção da inserção deste idoso de 60 anos na comunidade.
Para a geração sanduíche tradicional resta a adaptação que tem sido trazida pela normalização do trabalho flexível e remoto. Com muitos ajustes ainda a serem feitos, é verdade. Mas são indícios de alguma diminuição de toda essa pressão, assim como a preservação de bem-estar mental e social com o estreitamento dos laços familiares.
*Marcia Sena, farmacêutica especialista em qualidade de vida na terceira idade e fundadora da Senior Concierge