A última edição do ano do seminário internacional “Diálogos Futuro Sustentável”, realizado pelo iCS – Instituto Clima e Sociedade e pela Embaixada da Alemanha, aconteceu hoje, 17 de dezembro, com transmissão ao vivo pelo YouTube do iCS. O tema do debate foi “Empregos verdes: capacitação e formação de talentos para um mundo em transição”, assunto que ganha ainda mais importância em um mundo pós-Covid-19, que necessita uma recuperação econômica eficiente e sustentável.
Com abertura de Marina Marçal, coordenadora do portfólio de política climática do iCS, e Friederike Sabiel, conselheira de assuntos ambientais da Embaixada da Alemanha, e mediação de Leonildes Nazar, colaboradora do Projeto Iniciativa Amazônia Legal Urbana do iCS, o evento reuniu os palestrantes Christoph Büdke, Rosane Fukuoka e Paulo Eduardo Braga.
Christoph é especialista em educação profissional, diretor de projetos da GIZ e trabalha no Brasil desde 2015 em projetos de cooperação técnica com o MME, MEC, SENAI e outros setores do governo brasileiro. Rosane é gerente de edificações na Mitsidi, arquiteta e urbanista formada na USP e atua na área de consultoria de eficiência energética e auditorias em edifícios comerciais e residenciais na Mitsidi Projetos. Paulo é pesquisador e analista de economia regional na 4intelligence, economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande e Mestre em Economia Aplicada pela USP.
“Estamos caminhando rumo a uma economia verde global. Estados, mas também investidoras privadas, reconhecem que medidas de proteção ambiental e climáticas exigentes não representam um obstáculo, mas sim um importante elemento para o desenvolvimento próspero da economia e para a paz social. No âmbito da concorrência internacional, com investimentos em mercados, a sustentabilidade se torna um fator cada vez mais relevante. O mercado global para tecnologias de meio ambiente e clima está crescendo”, afirmou Friederike Sabiel na abertura do painel.
Para analisar a criação de empregos verdes no Brasil, Rosane Fukuoka trouxe a perspectiva do setor de construção civil, apresentando caminhos para o investimento em edifícios verdes, já que a construção civil é responsável por uma grande parcela das emissões e do consumo de energia do planeta. Christoph Büdke apresentou e detalhou o estudo “Profissionais de Energia do Futuro – Educação Profissional Superior em Energias Renováveis e Eficiência Energética: Novos Empregos Exigem Novas Qualificações”, realizado pela GIZ, agência alemã para cooperação internacional. Ele trouxe resultados e experiências do projeto de cooperação entre Brasil e Alemanha na área de educação profissional nas energias renováveis. Paulo Eduardo Braga, por fim, explicou o conceito de empregos verdes e analisou a realidade brasileira na busca pelo esverdeamento dos setores.
DESTAQUES
ROSANE FUKUOKA
Invariavelmente, nós estamos passando por um momento de transformação e de transição, então o tema da criação de empregos verdes torna-se cada vez mais relevante, tendo em vista também a retomada da economia no Brasil.
Quando falamos em edifícios verdes, edifícios sustentáveis, temos outro ponto de preocupação, que é a parte de emissões e a energia incorporada nos materiais, ou energia embutida. O setor de construção civil é responsável por uma parcela significativa das emissões em termos mundiais.
O consumo de energia de edificações é significativo no mundo. 35% da energia total no mundo é referente ao consumo de energia de edificações, habitações, edifícios públicos, edifícios comerciais e de serviços. No Brasil, na parte de energia elétrica, 51% do consumo é referente a edificações, e há projeções indicando que o número de edificações vai duplicar até 2050 devido ao crescimento da população e da urbanização.
Para orientar a construção em países em desenvolvimento no processo de crescimento e urbanização pensando em uma trajetória de baixo carbono, a certificação EDGE está presente em mais de 140 países ao redor do mundo. A certificação se aplica para novas construções e também para reformas no setor.
CHRISTOPH BÜDKE
Na Alemanha, estamos observando uma transformação da economia, impactada tanto pela digitalização quanto pelos fortes compromissos assumidos pelo governo alemão em relação à descarbonização.
As fontes renováveis são importantes e, considerando esse contexto da transição energética e de uma mudança para a economia verde, vale a pena olhar também o papel da educação profissional. Ela, a princípio, contribui para formar profissionais conforme as demandas das empresas por tecnologias verdes, o que permite a transformação desse setor. Existe também a alta necessidade e o papel do ensino profissionalizante para que haja novas perspectivas para jovens com interesse em se formar nessas profissões do futuro. Como terceiro aspecto, é importante considerar quem já está no mercado de trabalho, as mudanças que vão ocorrer lá, como o menor uso de fontes fósseis e criação de novos empregos na área de renováveis e outras áreas verdes.
Trazendo a abordagem da Alemanha no setor de energias renováveis em relação à educação profissional, a base de atuação é em profissões existentes, como técnicos em eletrotécnica e em eletroeletrônica. Foi aplicada uma estratégia em curto e médio prazo, a oferta de cursos de formação continuada para atender relativamente rápido os setores eólico e fotovoltaico. E, em uma estratégia de longo prazo, será feita a modernização e inclusão de novos conteúdos em cursos técnicos existentes.
No Brasil, existem oportunidades muito grandes. Até 2030 está previsto um forte crescimento da geração distribuída, principalmente da fonte solar fotovoltaica e também da energia eólica. Junto a isso, existem ótimos potenciais em relação ao crescimento de empregos, de aproximadamente 200 mil para os próximos nove anos.
PAULO EDUARDO BRAGA
Empregos verdes são todos aqueles que beneficiam, restauram e conservam os recursos naturais ou aqueles que ao longo do seu processo de produção mitigam os impactos já causados no meio ambiente.
No Brasil, há cerca de 6,5% de empregos verdes. Na magnitude do país, com sua riqueza de recursos naturais, esse percentual é muito baixo em relação a todo o nosso potencial.
Quando a gente tem uma iniciativa assim como o GIZ, de capacitação de profissional focada em energias renováveis, isso respinga em todos os outros setores produtivos, afinal todos demandam energia elétrica. Portanto, energia elétrica é um setor que tende a puxar o desenvolvimento de todos os outros.
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