O leilão do 5G marca o início da implementação do sistema de quinta geração para transmissão móvel de dados no Brasil. A tecnologia é a mais avançada atualmente, com velocidade até 100 vezes maior do que as atuais redes de banda larga, latência baixa, extrema confiabilidade e maior capacidade de usuários simultâneos.
A perspectiva é que a vida pessoal, acadêmica e profissional de toda a população tenha um impacto positivo nos próximos anos. Se tudo seguir o previsto, o 5G deverá ser oferecido nas capitais e no Distrito Federal antes de 31 de julho de 2022. A Anatel prevê que os demais municípios, com até 30 mil habitantes, deverão ter acesso à tecnologia até 2029.
Por isso, neste momento é necessário avaliar o que precisa ser feito para que o 5G comece a funcionar no Brasil. Lembrando que por operar em uma frequência mais alta, a tecnologia pode demandar até dez vezes mais antenas para cobrir uma mesma área que as anteriores: 2G, 3G e 4G. E estas tecnologias legadas ainda precisarão continuar em operação.
O objetivo final de toda a tecnologia deve ser beneficiar as pessoas, seja aumentando a produtividade, qualidade de vida e trabalho, reduzindo os riscos de acidentes na realização de tarefas perigosas, aumentando a automação de processos repetitivos e no caso do 5G, também melhorando a saúde das pessoas.
O aumento na vazão de dados promovido pelo 5G possibilitará avanços no Big Data. A análise de dados e o uso de inteligências artificiais e deep learning, que auxiliem os profissionais na gestão e análise dessas informações, será ainda mais necessário. Neste contexto, as empresas precisarão investir na hiperautomação de processos, o que deverá alavancar a monitoração, a gestão de falhas e automatização de suas correções, minimizando o esforço humano e o tempo de indisponibilidade, possibilitando a entrega de serviços com maior qualidade aos usuários finais, sejam corporativos, pessoas físicas, ou até mesmo internos da operadora.
Outra aplicação que se tornará mais comum é a função de rede virtual (VNF) usada pelas operadoras para a transformação digital das redes físicas, ou seja, as funções executadas por computadores e outros hardwares, como serviços de diretório, roteadores, firewalls, balanceadores de cargas, gateways de banda larga, entre outras, passarão a ser feitas por meio de softwares. Com essa nova abordagem, as funções ganharão uma maior independência e resiliência, em termos de hardware, ao permitir migrações ágeis dos serviços entre servidores, seja para escalar a capacidade ou deixar de utilizar qualquer hardware que apresente defeito, colaborando para reduzir tempos de indisponibilidade.
A expectativa do governo federal é que as operadoras de telecomunicação invistam R$ 169 milhões nos próximos 20 anos para cumprir as obrigações previstas no edital e na prestação dos serviços de telecomunicação. Mas esse investimento em infraestrutura pode ser ainda maior, pois serão necessários equipamentos importados e precificados em dólar, além da capacitação de suas equipes. O 5G ainda oferece algumas possibilidades de novos serviços que podem ser adicionados ao portfólio das operadoras com o objetivo de financiar o volume de investimentos que precisarão ser feitos.
Aplicações e público-alvo
Em março de 2020, as empresas precisaram adotar o trabalho remoto de forma repentina e essa transição teria sido mais simples se o 5G já estivesse disponível. Ele traz o potencial das empresas contratarem, em larga escala, links de internet banda larga para seus colaboradores, em um modelo no qual o funcionário pluga um modem portátil, similar fisicamente a um pen drive, e se conecta diretamente à rede da empresa empregadora, gerando maior segurança e menores riscos de ciberataques.
A tecnologia pode promover a produtividade e a eficiência na indústria, com controles automatizados e precisos que possibilitam o uso de drones inteligentes capazes de se comunicar entre si e de sobrevoar parques industriais e grandes campos de plantações, o que não era possível com o 4G. No caso da pecuária, a tecnologia ainda torna possível aumentar o número de sensores nos campos de pastagem de gado e nos próprios animais.
Nas estradas e rodovias, além de oferecer uma cobertura maior de telefonia, sem pontos “cegos” onde um motorista que presenciar ou se envolver em um acidente tenha dificuldade em fazer uma ligação, também será possível instalar sensores que possam acompanhar se a velocidade da via é seguida pelos motoristas durante todo o percurso e não apenas nos pontos onde estão localizados os radares. E futuramente o 5G poderá permitir o uso de veículos autônomos que se comunicam entre si e com a via, reduzindo os riscos de erros humanos.
Ainda entre os serviços viabilizados, o baixo tempo de resposta e a elevada capacidade de transmissão de dados possibilitará o uso de câmeras com resolução 4k, operadas por pessoas ou mesmo drones, para que especialistas, localizados a quilômetros de distância, possam realizar assessments e reparos remotamente em locais como, por exemplo, torres de transmissão, subestações e prédios industriais. Sua menor latência ainda deverá permitir a realização de telecirurgias, em que médicos cirurgiões possam operar, por meio de robôs, pacientes em cidades afastadas, que não tenham especialistas na comorbidade.
Nos próximos anos serão desenvolvidos outros produtos e serviços, que explorem os benefícios da nova tecnologia e gerem ganhos de produção e lucratividade para as operadoras de telecomunicações e as empresas que oferecerão serviços baseados no 5G.
Contudo as condições do país devem permitir que os investimentos na rede 5G aconteçam de forma ágil e fluida, incluindo processos de licenciamento para a instalação das muitas novas antenas que a tecnologia exige. Também novas formas de investimentos devem acontecer para que empresas possam se valer do advento do 5G para alavancar seus negócios.
O 5G traz, portanto, muitas possibilidades e oportunidades daqui para frente impactando diretamente a vida das pessoas, mas traz também muitos desafios nesta jornada de implantação e manutenção a fim de garantir um serviço de qualidade.
* Daniel Silva é Head of Customer Sucess da Icaro Tech