Um terço dos candidatos aprovados no concurso para delegado chamados para tomar posse desistiram da carreira na Polícia Civil de São Paulo. Dos 68 chamados pela Secretaria de Segurança Pública no início do mês, 22 não compareceram à cerimônia de posse e renunciaram à vaga. A lista com o cancelamento das nomeações foi publicada hoje no Diário Oficial do Estado.
Os candidatos chamados foram aprovados no concurso de 2017 tiveram que aguardar cinco anos pela nomeação. Neste período, o salário do delegado de polícia paulista, que já estava entre os piores do país, se tornou o mais baixo do Brasil.
A carreira na instituição também se deteriorou e hoje a Polícia Civil de São Paulo tem um déficit de policiais que chega a 35% do efetivo, superando 15 mil postos vagos.
O número elevado de desistências demonstra claramente que a antes prestigiada carreira policial de São Paulo hoje perde alguns de seus melhores talentos para forças policiais de outros estados da federação.
“Após aprovação em um exame extremamente concorrido e difícil, aqueles que seriam os futuros delegados paulistas foram colocados em uma espera de cinco anos. Nesse período, muito passaram também em concursos de outros estados, foram nomeados e já estão trabalhando”, explica a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo (Sindpesp), Raquel Kobashi Gallinati.
Além da demora, outras razões causam o desinteresse pelo ingresso na Polícia Civil paulista. “São Paulo paga o pior salário do país e, governo após governo, a estrutura da Polícia Civil vem sendo desmontada e reduzida em recursos humanos e equipamentos”, diz. “Por que um candidato aprovado em mais de um estado vai esperar cinco anos escolher o que paga o pior salário e que sofre com o descaso dos governantes?”
Para o Sindpesp, essas 22 pessoas demonstram para o Governo do Estado que muitos dos candidatos capacitados a exercer funções de destaque na Polícia Civil de São Paulo simplesmente estão escolhendo não ingressar na corporação.
“Hoje, quem tem a vocação para o trabalho na segurança pública, não sonha mais com um emprego no Estado de São Paulo. Enquanto aqui um delegado tem salário inicial de cerca de R$ 10 mil para arriscar a vida, temos estados pagando R$ 25 mil para quem começa na carreira”.
Equipamentos obsoletos ou danificados, distritos policiais com estrutura comprometida e sobrecarga desumana de trabalho também fazem parte da rotina do delegado e das demais carreiras da Polícia Judiciária paulista.
“Esses 22 candidatos deixam um recado claro: cada vez mais, a sociedade está atenta e não aceita o desmonte da Polícia Civil, que se agrava agora, na gestão João Dória”, completa Raquel.