Com os preços abaixo da média oferecidos pelo mercado informal, muitas pessoas compram tênis que imitam modelos de grandes marcas. Estimativa do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial é de que o mercado ilegal de tênis fature cerca de R$ 1 bilhão por ano. Além da comercialização de produtos falsos ser crime, o uso desses calçados pode causar sérios danos aos pés.
Os sapatos são desenvolvidos para absorver o impacto do corpo e dar sustentação aos pés. No caso dos tênis apropriados para a prática de atividades físicas, eles contam com tecnologia e materiais específicos para o impacto que o exercício exige, algo que os falsificados não possuem.
A ortopedista membro da ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé), Dra. Ana Paula Simões, que preside a SPAMDE (Sociedade Paulista de Medicina Esportiva), explica que pessoas que praticam esportes de forma regular e utilizam tênis falsificados podem desenvolver lesões no sistema músculo- esquelético (ligamentos, tendões, músculos, ossos e articulações).
“O uso de um calçado impróprio para a atividade pode fazer com que a pessoa sinta dores e, em alguns casos, até lesionar o pé ou tornozelo. Fora que pode gerar zonas de atrito, causando calos e bolhas. O uso dos chamados “tênis piratas” por quem pratica exercícios físicos diariamente pode proporcionar dores na articulação dos pés, tornozelos e joelhos”, fala a especialista.
De acordo com a médica, outro dano que pode ocorrer é o de desenvolver tendinites, principalmente no tendão de Aquiles, um dos principais dos pés. Mais espesso e forte tendão de todo o corpo, o tendão de Aquiles conecta os músculos da panturrilha ao osso do calcanhar e, especialmente para os atletas, é essencial para a produtividade, já que é projetado para alongar e absorver a força quando aterrissam de um salto, fornecendo energia para o impulso ao dar um passo. “Porém, quando uma ruptura no tendão de Aquiles acontece, as consequências não são nada simples”, salienta Dra. Ana Paula.
Pesquisas que analisaram o uso de tênis falsos já mostraram que, tanto na marcha quanto na corrida, há maior sobrecarga da energia absorvida pela pessoa ao usar um calçado do tipo ( o que deveria ser a função do tênis . “Isso pode ter uma influência negativa no controle de choque e na proteção do aparelho locomotor. As consequências dessa falta de proteção vão desde desconforto até sérias lesões degenerativas”, ressalta.
Tipos de pisada
Além de calçados originais, Dra. Ana Paula pontua, ainda, a importância de que eles sejam apropriados para o tipo de pé do usuário. “O tipo de pisada varia de acordo com o formato dos pés. Pés planos têm um arco medial mínimo ou ausente e distribui a carga durante a marcha, para o lado medial, necessitando de calçados com mais suporte. Já os pés cavos possuem arcos mais altos e sobrecarregam a lateral do pé e tornozelo, necessitando de calçados com mais amortecimento e apoio nessa região”, fala. Já no pé normal, a porção mais alta do arco tem, aproximadamente, um centímetro de altura. Para a verificação correta, o ideal é procurar um médico especialista para identificar o tipo de pisada.
“A principal mensagem que fica é: não vale a pena pagar barato quando se trata da sua saúde. Praticar esporte deve ser um ato de benefício para o seu corpo e bem-estar, aliado ao fortalecimento. Um tênis falso, além de incentivar um mercado informal, só contribui para a falência de quem trabalha honestamente e ainda favorece lesões”, conclui.
Sobre a ABTPé
A Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé) foi fundada em 1975 com a missão de unir a classe médica na especialidade, além de estimular o intercâmbio de informações científicas, fomentando a educação continuada entre os especialistas de pé e tornozelo no Brasil. Também tem a responsabilidade de esclarecer a população sobre os temas relacionados à especialidade.
A ABTPé está à disposição para informações e entrevistas sobre a saúde e cuidados com os tornozelos e pés, trazendo esclarecimentos sobre diversos temas, como acidentes nos esportes com lesões, acidentes domésticos com lesões, deformidades, pé diabético, cuidados com o uso de saltos altos, joanetes, fascite plantar, cirurgia plástica nos pés, esporão do calcâneo, calos e calosidades, metatarsalgia, neuroma de Morton, gota, artrite, entorse, fraturas, entre outros.