Ambiente mais frequentado da casa e um ponto de encontro costumeiro da família e dos amigos, a cozinha
se transformou em um espaço de reuniões regadas à uma boa comida e agradáveis companhias. Mas, com o passar do tempo, o seu tamanho tem sido cada vez mais desafiador, o que modifica toda a logística da área, desde a manipulação dos alimentos e até mesmo a acomodação dos convidados.
Dessa forma, um bom planejamento se faz necessário para que a cozinha, mesmo pequena, seja capaz de cumprir sua função na rotina do lar. Em um local onde a funcionalidade e organização são primordiais, aproveitar cada espaço contribui para a criação de uma área agradável tanto no dia a dia quanto nos momentos de descontração com as visitas.
Para o arquiteto Gabriel Mazorra, a frente do Mazorra Studio, avaliar as medidas, o espaço da cozinha é importante para, então, entender qual é a melhor disposição do ambiente, além de esclarecer o estilo de vida dos moradores com o intuito de encontrar qual modelo melhor se encaixa àquela necessidade.
“As cozinhas com o conceito aberto se popularizaram bastante por aqui, até mesmo com ilhas, assim como acontece na maioria das casas americanas. Mas pode ser que uma cozinha fechada funcione melhor, pela questão da organização. Em um ambiente mais quadrado, por exemplo, uma ilha central pode ser uma opção bem bacana”, conta o profissional.
Entender o objetivo também faz com que haja 100% de funcionalidade. Se a cozinha trabalhar com serviço, ou seja, ter mesa de jantar e cadeiras, ou bancadas e banquetas, sejam voltadas para a parte interna ou externa, influencia na disposição dos móveis e eletrodomésticos. Em casos onde o ambiente está focado no preparo de refeições, de produção, os utensílios precisam estar sempre à mão e com uma área de circulação mais dinâmica, sem atrapalhar os processos culinários.
As prateleiras suspensas são uma ótima alternativa tanto de decoração quanto de funcionalidade, sendo capaz de armazenar utensílios, plantinhas, e demais objetos que não precisam ser acessados frequentemente | Foto: Sidney Doll
Planejamento
Às vezes, agir por impulso acontece, faz a adrenalina correr pelas veias, mas na hora de preparar uma cozinha com medidas mais limitadas, um bom planejamento faz toda a diferença! É preciso ter paciência e estudar cada pedacinho do cômodo para que haja um aproveitamento máximo de todos os cantos, sejam eles retangulares, quadrados ou em “L”.
Segundo Mazorra, é imprescindível estudar o que é necessário para a sua realidade. Fogão e geladeira são essenciais, porém, alguns itens como uma lava-louças, uma sanduicheira ou um grill podem ser descartados caso não sejam de uso frequente. Isso evita o acúmulo de eletrodomésticos pelo ambiente, liberando espaços nas bancadas, nos armários.
Se a cozinha for apenas para um casal, vale à pena escolher um cooktop menor, de quatro bocas. Em casos onde a pessoa mora sozinha e não cozinha com tanta frequência, há opções com três, duas bocas que funcionam muito bem. Outra solução a se levar em conta é investir em um forno com função de micro-ondas, ou em um filtro de água na própria torneira monocomando junto à cuba, ao invés de um equipamento grande que ocupe muito espaço.
“O minimalismo, dizendo assim, casa muito bem com as cozinhas compactas. Deixa o visual mais limpo, organizado e ajuda nas demandas, principalmente, quando o conceito é aberto, seja para uma sala de jantar quanto para uma área gourmet”, aponta o arquiteto.
Apostar em equipamentos e eletrodomésticos embutidos é a alternativa ideal para um local onde cada milímetro importa. Além de precisarem de folgas laterais mínimas, os embutidos ainda garantem uma estética limpa e minimalista. Pode-se embutir tudo, inclusive lixeiras em locais estratégicos.
Todavia, o minimalismo não aparece como um sinônimo para uma área “pelada”. A ideia vem com um propósito de organização, inclusive nas áreas longe dos olhos como os armários. É preciso analisar se há espaço para um aparelho de jantar de 12 peças, por exemplo, ou um jogo de seis utensílios já é o suficiente e se caberá confortavelmente no móvel, sem ocupar o lugar de outros objetos e dos alimentos.
Bancadas
Quando se fala em otimização, as bancadas são fortes aliadas. Versáteis, elas vão desde um apoio à área de serviço até um único espaço para o preparo e consumo de alimentos, como uma bancada de refeição multiuso e banquetas que se encaixam, substituindo mesas e cadeiras.
Dependendo da metragem, o recurso ideal é uma bancada disposta sobre mão francesa dobrável. Pode ser usada para refeições rápidas e no apoio de preparos básicos, como o uso de liquidificador. Senão, até por questões estéticas, a melhor solução é a prateleira deslizante embutida no armário.
Uma bancada multiuso agrega muita funcionalidade à uma cozinha compacta, servido de apoio nos preparos e abrindo espaço para a realização de refeições rápidas, reunião com amigos e familiares | Foto: Sidney Doll
Verticalidade, nas alturas e planejados
Em imóveis compactos, é comum sentir um certo sufocamento quando o uso de armários não acompanha o tamanho do ambiente. É importante tentar aproveitar a verticalidade da cozinha de modo a otimizar o seu espaço, mas quanto menos armários possíveis no ambiente, melhor. O balcão da pia é o item mais básico, e por isso deve ser prioridade.
Uma das melhores maneiras de otimizar é aproveitando os espaços vagos na parede. Prateleiras, armários aéreos, ganchos e demais suportes acomodam diversos itens sem comprometer o espaço disponível do cômodo ou atrapalhar a área de circulação.
Além de contribuir para uma maior funcionalidade, aproveitar as paredes também é uma maneira útil de economizar tempo. Dessa forma, os utensílios estarão sempre à vista e ao alcance das mãos.
No caso dos mobiliários, investir em móveis planejados é uma ótima opção por serem feitos sob medida e projetados de acordo com as suas necessidades e com os locais disponíveis na cozinha.
Carrinhos também ajudam a liberar espaço e a organizar talheres, temperos, frutas. A depender do tamanho, pode ser encaixado em qualquer vão livre e ainda compor a decoração.
Ordem interna
Atualmente, é possível encontrar organizadores de armários em diversos formatos: organizadores de porta, prateleiras encaixáveis, suporte para tampas de panelas, porta-temperos, divisor de talheres, prateleiras empilháveis para pratos. As opções são infinitas e muito funcionais.
Complementando, adaptar ganchos e ventosas nas paredes dos armários possibilita mais área de armazenamento, assim como guardar potes e panelas dentro um do outro.
Hora da secagem
Para um espaço reduzido, a calha úmida é, sim, uma opção bastante interessante. Mas é importante verificar o tamanho da bancada da pia visto que ela, geralmente, fica disposta atrás da pia, então precisa de uma boa profundidade. Isso ainda influencia no formato dos armários planejados, que também têm profundidades relativamente padronizadas.
“Às vezes você não consegue fazer uma bancada muito profunda, porque você não tem espaço de circulação suficiente. Sendo assim, nem sempre a gente consegue usar essa calha úmida, mas é uma solução interessante para ter um local para escorrer a louça caso uma lava-louças não seja uma opção por conta do espaço”, analisa Gabriel Mazorra.
Os escorredores tradicionais acabam se tornando escolhas corriqueiras, claro. No entanto, para evitar que eles tomem lugar na bancada, uma ideia é optar por cubas com acessórios integrados, como grades para apoiar as louças, dispenser de detergente e demais aparatos. Ou escorredores suspensos, integrados à marcenaria em um armário acima da pia.
O escorredor embutido no armário também colabora para um ambiente mais organizado, visto que a louça sai do campo visual e fica escondida, de certa forma. Mas é importante colocar uma bandeja embaixo do escorredor para que a água não estrague o móvel. Outra opção bacana é implementar um acessório, como na imagem, para organizar os pratos na vertical e ganhar espaço | Foto: Sidney Doll
“Por fim, outra alternativa são os tapetes de borracha usados para copos e taças. Podem ser adaptados para, eventualmente, escorrer outros objetos, retirar o excesso da água e, assim, você finalizar a secagem com um pano seco”, lembra o arquiteto.
Iluminação
Explorar a iluminação permite trabalhar com diferentes conceitos que resultem em uma boa claridade, sem incômodos, principalmente em uma cozinha pequena, como os LEDs na marcenaria com perfil difuso, garantindo um efeito confortável. Utilizar pontos de luz abaixo dos armários superiores também garantem a iluminação adequada nas bancadas, garantindo uma boa visualização na hora do manuseio de alimentos e ferramentas.
A iluminação é uma parte importante em um projeto e os pontos de luz direcionados em uma cozinha pequena agregam uma sensação de aconchego ao espaço | Fotos: Sidney Doll
Colorindo
A cor branca é comumente associada à dissipação da luz, o que faz com que ela seja usada em áreas pequenas para dar a sensação de amplitude. Mas não é preciso deixar a cozinha sem graça por isso. As cores claras, como os tons pastel, ajudam a dar um toque colorido sem pesar o espaço.
Para investir em cores mais fortes, o interessante é focar nos pequenos detalhes: copos, guardanapos, toalhas, xícaras, mesas e cadeiras ou, até mesmo, partes da marcenaria que trazem dinâmica e movimento para o espaço.
A bancada em aço inox conversa com o rústico do revestimento em pedras naturais da parede da churrasqueira e cria um contraponto moderno com os armários em MDF e coloridos da área interna da cozinha | Fotos: Sidney Doll
Sobre o Mazorra Studio
Gerenciado pelo arquiteto Gabriel Mazorra, desenvolve projetos e executa obras de arquitetura de interiores, edificação e paisagismo nos segmentos residencial, comercial e corporativo.
É formado arquiteto urbanista pela Universidade Mackenzie em 2004 e pós-graduado pela FGV em 2012 no MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil. Atua em escritório próprio desde 2006, após ter acumulado experiência profissional com arquitetos renomados das áreas de arquitetura, paisagismo e interiores residenciais e corporativos desde 2002. Tomou a frente no desenvolvimento de projetos 3D com a tecnologia BIM já a partir de 2009, quando este método de construção virtual ainda estava longe de suplantar a tecnologia CAD.
Eternamente aprendendo a ler pessoas, atua em uma vasta gama de projetos de reforma e construção, aceitando o desafio de autoconhecimento e amadurecimento de linguagem arquitetônica própria.
@mazorra.studio