Quando é hora de ir embora do atual emprego?
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Exaustão emocional, cansaço excessivo, despersonalização, baixa realização profissional. Nada menos do que 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem com esses e outros sintomas de exaustão, característicos da Síndrome de Burnout, aponta pesquisa da International Stress Management Association (Isma). O distúrbio é fruto da alta competitividade no mercado de trabalho, mesclada aos riscos de demissão e cobrança cada vez mais intensa por resultados e qualificação.
Mundialmente, o Brasil é o segundo país com mais casos do transtorno, atrás apenas do Japão, aponta a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANMT). Junte-se a isso outros sofrimentos mentais como depressão e ansiedade, que também podem ser causados pelas dificuldades na vida profissional. Mas em meio a esse caldeirão de desafios, qual é o momento certo para dar um basta e sair do ambiente tóxico, buscando relações de trabalho mais saudáveis?
“A vida profissional pode trazer adoecimentos em inúmeras situações. Além do excesso de trabalho, elas envolvem lideranças tóxicas, que fazem gestão de poder e controle, partindo também para o assédio e a falta de respeito”, aponta David Braga, CEO da Prime Talent Executive Search. Ele explica que tais situações favorecem a falta de confiança entre pares, líderes e liderados, criando ambientes extremamente competitivos.
Apesar das dificuldades no ambiente corporativo, antes de tomar qualquer decisão precipitada, uma pessoa que passa por muitos momentos complexos e extenuantes no trabalho, chegando ao adoecimento, precisa buscar recursos para conhecer a si mesma. É o que orienta Braga: “É necessário que o profissional saiba o que o agrada e o que não agrada, o que traz felicidade ou causa angústia. Isso significa investigar seu lado positivo e também o negativo, por meio do autoconhecimento”.
Muitas vezes, segundo ele, o problema é causado por falta de organização da empresa ou mesmo do próprio profissional. Por isso, é preciso refletir sobre si, sobre a sua própria atuação, além de buscar ferramentas como psicoterapia e processos qualificados de coaching. Por meio dessas ferramentas, é possível adquirir autoconhecimento e melhorar o desempenho para alcançar metas e objetivos. “Todos nós somos feitos de luz e sombras e precisamos investigar se, e como, estamos contribuindo para alimentar determinadas situações. Isso significa assumir o protagonismo da própria vida, do contrário, outros vão tomar as decisões por você”, alerta o CEO da Prime Talent.
Antes de pedir demissão, porém, o executivo defende que vale a pena tentar permanecer na empresa, buscando colocação em outras áreas e funções. Além disso, ele alerta que não é recomendável tomar essa decisão sem se organizar financeiramente, uma vez que o planejamento financeiro é fundamental para que haja tempo de refletir em que tipo de empresa o trabalhador gostaria de atuar. “Isso cria oportunidades para que o profissional possa conversar com recrutadores e headhunters que o orientem. Mas, quando a pessoa é demitida, é importante pedir o feedback do gestor e devolver o feedback a ele”, observa.
Afastamento
O adoecimento causado por atividades profissionais já custa US$ 1 quase trilhão à economia mundial, apontam a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo as duas instituições, perde-se 12 bilhões de dias de trabalho ao ano devido ao sofrimento mental no trabalho.
Diante disso, as diretrizes globais da OMS sobre saúde mental no trabalho já recomendam ações para enfrentar essa situação como evitar cargas pesadas de trabalho, comportamentos negativos e outros fatores que geram riscos à saúde mental. Pela primeira vez a OMS recomenda treinamento para que os gestores desenvolvam capacidades de evitar ambientes estressantes no trabalho e dar uma resposta aos profissionais que passam por esse tipo de sofrimento.
Em 2022, de acordo com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), nada menos que 209,1 milhões de pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, entre eles o Burnout, o que mostra claramente que tal tema precisa ser discutido cada vez mais desde os conselhos de administração, bem como nas demais lideranças, por impactar na perenidade das organizações e por estar conectado diretamente com temas de ESG, que na tradução literal, envolve temas de meio ambiente, social e governança.
Segundo Braga, “O poder hoje está compartilhado, ou seja, não apenas a empresa escolhe os profissionais que deseja em seu time de talentos, mas também os profissionais escolhem onde querem trabalhar. Desta forma fica o alerta do headhunter de que empresas que não possuem ações para mitigar ambientes que tendem a adoecer as pessoas, não só perderão os melhores talentos, mas também não terão uma marca tão atrativa para atrair os melhores profissionais de mercado”.
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David Braga – CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países e 50 escritórios pela Agilium Group; É Conselheiro de Administração e Professor pela Fundação Dom Cabral e Conselheiro da ABRH MG, ACMinas e ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent
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