Triste com a derrota do Peru perante a Dinamarca? Conheça mais desse país sul-americano por meio do documentário ‘Filha da Lagoa’.

Você já parou para pensar que não possui o mundo, mas está apenas integrado nele? E que isso exige uma postura humilde e a obrigação de fazer o melhor possível pelo todo? Esse é o grande ensinamento do documentário peruano ‘Filha da Lagoa’, de Ernesto Cabellos, sobre uma mulher andina em cujas terras há um lago que contém ouro.
A luta dela e da comunidade contra a mineradora que deseja ocupar a área para torná-la um campo de garimpo é enfocada sob diversos aspectos. O mais tocante, sem dúvida, está nas falas da camponesa com os duendes do lago. Não se trata de misticismo, mas da manifestação cultural de uma mulher em contato com aquilo que lhe mais querido.
Ela ama a água, os animais e a família. Quando vai para a cidade reivindicar justiça e estudar direito, sente falta justamente de tudo daquilo que mais a conecta com o mundo. E esse sentimento nos é transmitido pelas imagens do lago, perdido na imensidão verde de pequenas colinas. Surge assim uma outra dimensão da realidade que, longe do individualismo e do lucro, dá valor à existência cotidiana presente nos detalhes mais ínfimos e delicados.
Há no filme reflexões variadas que nos fazem pensar sobre a nossa progressiva falta de conexão não só com a natureza, mas com princípios que proporcionem uma vida mais digna, menos voltada ao consumismo e mais preocupada com aquilo que representamos no mundo. A consciência da pequenez traz uma linda, densa e profunda grandeza.
Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais, doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.