O contador R. C., de 52 anos, que preferiu não se identificar,  descobriu tardiamente ter Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Na época, ele estava com 40 anos e buscou ajuda médica, devido ao esquecimento e a procrastinação para fazer coisas importantes. Ele também tinha sintomas como fadiga, cansaço e sono constante. Na infância, já dava sinais da presença do TDAH, mas se considerava uma criança normal. “Nunca fui um aluno exemplar, o melhor da sala, mas era esforçado, e esse esforço me cansava. Era comunicativo e gostava de fazer o que me agradava, deixando a obrigação pra depois. Cansei de fazer as tarefas aos domingos à noite para entregar na manhã seguinte”, recorda ele.

Segundo o Ministério da Saúde, a prevalência de TDAH é estimada em 7,6% em crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos, 5,2% nos indivíduos entre 18 e 44 anos e 6,1% nos indivíduos maiores de 44 anos, no Brasil.

A psicóloga Bárbara Couto explica que o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, não se adquire a doença, nasce-se com ela e persiste pelo resto da vida. Há três tipos de TDAH: o desatento, o hiperativo, e o misto, que tem combinação desatenta com hiperatividade. O desatento comete erro com frequência por falta de atenção quando tem que fazer algo que considera chato, ou repetitivo, tem dificuldade de se concentrar no que as pessoas dizem mesmo quando está falando diretamente com ela. Ele deixa projetos pela metade, mesmo depois de já ter feito grande parte, tem dificuldades para fazer trabalho que exige organização e a concentração em atividades maiores.

“São pessoas que adiam o início de tarefas, então são procrastinadoras, estão sempre perdendo objetos, pois colocam coisas fora do lugar e tem dificuldade de encontrar, se distrai com atividades e barulhos em volta e tem dificuldade para se lembrar de compromisso ou obrigação. Já o hiperativo é aquele que tem dificuldade de ficar sentado, fica mexendo a cadeira, fica balançando os pés, as mãos, é sempre muito inquieto, não consegue relaxar, se sente muito ativo, como se tivesse um motor ligado nas situações. É comum terminar as frases antes das pessoas que começaram a falar, é impulsivo e tem dificuldade para esperar a sua vez”, enumera Bárbara.

Como funciona o cérebro de quem tem TDAH

              O cérebro de quem tem TDAH não faz uma boa recaptação de dopamina, consequentemente, ele não tem motivação bastante para fazer as coisas. Por isso, muitas são consideradas preguiçosas. “Elas são procrastinadoras porque o cérebro, quando acredita que vai ser algo que vai gastar muita dopamina, não consegue mandar mensagem para fazer a atividade. Geralmente pessoas com TDAH têm fama de preguiçosas, quando na verdade o cérebro não consegue recaptar a dopamina de maneira adequada”, esclarece a psicóloga.

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E a desatenção é causada porque o córtex frontal não consegue inibir os pensamentos acelerados. “Pessoas com TDAH têm um cérebro com pensamentos exagerados. E esse excesso de pensamento faz com que, mesmo quando estejam prestando atenção, se não for algo que é muito empolgante para elas, o cérebro manda um outro pensamento totalmente aleatório. E por mais que elas tentem prestar muita atenção, esses pensamentos aleatórios vão vindo e elas não conseguem. Por isso que acabam tendo muita dificuldade nos estudos, se não tratadas”, explica Bárbara

Além disso, a desregulação no córtex central causa impulsividade em pessoas com TDAH. “Elas fazer compras, falam coisas e tomam decisões sem pensar e depois se arrependem”, acrescenta ela.

Consequências na vida de quem tem TDAH

Como consequência dessa condição, pessoas com TDAH podem ter baixa produtividade no trabalho, erros frequentes por falta de atenção, muita desorganização e dificuldade em cumprir prazo. Além disso, pode ser difícil manter amizade ou relacionamentos estáveis. “É muito comum as pessoas que relacionam com pessoas com TDAH achar que o outro não se importa com elas, porque esquecem coisas importantes do dia a dia. Em contrapartida, pessoas com TDAH têm baixa autoestima, estão sempre frustradas com elas, com os erros constantes, têm sentimento de inadequação muito grande porque têm rendimento muito menor que as outras pessoas e precisam estar sempre se esforçando muito.  Então, quadros de ansiedade, depressão e Bournout são muito comuns”, detalha Bárbara.

A psicóloga Bárbara alerta ainda que a impulsividade do TDAH pode levar a problemas financeiros, problemas legais, como comportamento de riscos, uso de substâncias e acidentes. “Pessoas com esse transtorno são mais propensas ao vício, tanto pela impulsividade, quanto pela baixa dopamina. E eles acabam buscando a dopamina em outro lugar”, explica ela.

Como é feito o diagnóstico do TDAH?

A psicóloga Bárbara Couto fala sobre o tratamento do TDAH

A psicóloga Bárbara Couto fala sobre o tratamento do TDAH

O diagnóstico TDAH é clínico, com avaliação detalhada dos sintomas, do histórico do paciente e também do histórico familiar, porque maioria das vezes o TDAH é genético. “Também pode ser feita avaliação neuropsicológica, avaliando atenção, memória, função executiva,  principalmente para tirar dúvidas se pode ser algum outro quadro”, informa Bárbara.

Tratamento do TDAH

              Depois de mais de 10 anos de diagnóstico, o contador R. C. aceitou a recomendação médica de usar a medicação. “Tem cerca de sete meses que comecei a usar o medicamento e já vejo diferença na minha via. Passei a ter ânimo para fazer minhas obrigações. Hoje, após tomar a medicação consigo me concentrar, fazer o que preciso e a tempo. Ah! Não tomo sempre, no final de semana se não tenho nada de importante fico sem tomar conforme orientação médica e não sinto falta”, relata ele.

Barbara Couto explica que há dois tipos de medicamentos encontrados no mercado, que atuam no controle da atenção, impulsividade e motivação para fazer as coisas. “É preciso fazer monitoramento regular pelo médico para garantir que os medicamentos sejam seguros. Mas o uso do medicamento ajuda muito a minimizar os sintomas do TDAH, pois é um cérebro que não funciona direito quimicamente falando e a medicação atua onde há falhas”, enfatiza a psicóloga.

Além dos medicamentos prescritos por médicos, a  terapia cognitivo-comportamental também é importante porque ajuda a pessoa a desenvolver a habilidade de organização, ter controle emocional, lidar com os impulsos, a traçar estratégias para não procrastinar, organizando a rotina. “Terapia cognitivo-comportamental e a medicação atuam de forma complementar. E quando o TDAH é descoberto, é muito importante que familiares entendam o comportamento para apoiar e não cobrar ações e atividades que são difíceis para ele. Além disso, é muito importante intervenção pedagógica para ajudar no processo de aprendizagem”, finaliza Bárbara Couto.

A psicóloga Bárbara Couto

        Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.

              Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.

              Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.

 

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