Segundo o IPEA, em sua Carta de Conjuntura 15 do 4º trimestre de 2022, o Indicador Ipea Mensal de Consumo Aparente de Bens Industriais – definido como a parcela da produção industrial doméstica destinada ao mercado interno acrescida das importações – registrou uma queda de 1,3% em setembro, na comparação com agosto. A queda de 1,3% é resultado do recuo de 1,1% da produção interna destinada ao mercado nacional (bens nacionais) e as importações cederam 1,9%.
Comparando o resultado com o mesmo mês em 2021, a demanda interna por bens industriais cresceu 0,7%, o que dá certo alento para a indústria nacional. E, no acumulado nos últimos 12 meses, a queda é de 2,3% na produção industrial interna. Mais uma vez, houve um crescimento na importação em detrimento da produção nacional.
Em relação aos grandes grupos econômicos na comparação de setembro com agosto, tem-se:
● Bens de capital: +2,4%;
● Bens de consumo duráveis: +2,5%;
● Bens intermediários: -2,4%;
● Extrativa mineral: 3,7%;
● Transformação: -2,2%;
● Bens de consumo semiduráveis: -1,3%.
Destaques dos bens industriais nos últimos 12 meses
Em relação ao resultado acumulado em 12 meses, seis segmentos registraram alta, com destaque para outros equipamentos de transporte e derivados de petróleo, com crescimento de 13,4% e 7,6%, respectivamente. No mais, cabe destacar:
● Maiores quedas:
○ Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos: – 12%;
○ Produtos Têxteis: -11,7%;
○ Metalurgia: -10,7%;
○ Madeira: – 9,4%;
○ Borracha e Plástico: -8,5%.
● Maiores altas:
○ Outros equipamentos de transporte: +13,4%;
○ Petróleo e derivados: +7,6%;
○ Químicos: +4,9%;
○ Informática: 1,0%;
○ Alimentos: 0,7%.
Pelos números, fica clara a pressão que a indústria está enfrentando agora. Óbvio que não chega próximo dos problemas de 2020, quando a taxa de variação acumulada em 12 meses da demanda por bens industriais alcançou -7%. Entretanto, está bem longe do último trimestre de 2021, onde o valor foi de +9%. É interessante observar o tamanho na variação da demanda: 15 pontos percentuais em menos de um ano. Uma variação acumulada anual dessa mostra o tamanho do desafio dos líderes do setor.
Em setembro, esse mesmo indicador alcançou o -1,3%, tendendo a uma estabilidade. Pressupõem que o efeito chicote observado na demanda tende a se reduzir, com a produção tendo tempo para se adequar ao novo perfil de demanda.
Histórias à parte, recordo sempre da análise que meu pai faz da indústria. Quando observava os pedidos aumentarem e “faltarem” horas para a entrega dos novos pedidos nos prazos desejados, dizia: por que não investe? Vamos crescer e ampliar a planta.
Meu pai me responde até hoje com a serenidade de quem já vive esse ciclo há tempos. Pede-me calma e justifica com o argumento: se nós investirmos muito, a hora que o mercado baixar, ficaremos trabalhando só para pagar juros. Olhando a demanda cair de +9 pontos para -1,3 e o juro subir de 5% ao ano para 13,75%, penso: não é que ele sempre teve razão?
Como o ciclo da indústria é mais longo e o capital empregado na cadeira maior, a distância entre a intenção e o gesto deve ser respeitada. Muitos empreendedores que se deixam contaminar por um período otimista acabam por contrair endividamento pós fixados e comprometer receita futura. Quando as receitas caem, desespera-se e passa a operar no negativo, baixando os preços e cortando custos em desenvolvimento e marketing. Ao entrar nessa etapa, se nada excepcional acontecer, o fechamento será inevitável.
Por isso, em épocas de vacas gordas, é aconselhável investir em marketing, equipe, educação e na perseguição serena do propósito. O segredo não é correr quando o mercado está comprador, mas continuar andando quando ele não está. Como diria o guru Jim Collins – o líder deve garantir que todos irão marchar 20 milhas por dia. Nem 30 quando estiverem animados e nem 10 quando estiverem cansados.
—
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.