Artigo: Tributo a Plínio de Arruda Sampaio

Política crítica,

Artigo: Tributo a Plínio de Arruda Sampaio

10 de julho de 2014

“?? assim:
 ou você é capitalista e do campo da ordem, ou  você  é  anti-capitalista  e  do  campo da ruptura  democrática,  revolucionária!” 
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) lamenta profundamente o  falecimento de Plínio de Arruda Sampaio, nesta terça-feira (08), em decorrência de um câncer nos ossos. Plínio tinha 83 anos e estava internado há mais de um mês no hospital Sírio-Libanês de São Paulo.
O PSOL e o país perderam um grande protagonista da história recente e da luta pela justiça social e pela democracia no Brasil. Militante há mais de cinco décadas, Plínio iniciou sua militância na Juventude Universitária Católica. Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo, foi promotor público.Ainda na década de 60, já deputado pelo antigo PDC (Partido Democrata Cristão), foi relator do projeto de reforma agrária do governo de João Goulart. Sua luta incansável contra o latifúndio e por justiça no campo rendeu a ele a cassação do mandato, em 9 de abril de 1964, pouco antes do golpe militar daquele ano. Voltou ao Brasil em 1976, já com o objetivo de construir um partido socialista e no final da década de 70, participou intensamente da fundação do Partido dos Trabalhadores. Em 1985, foi eleito deputado federal e, depois, se tornou deputado federal constituinte, durante a elaboração da Constituição de 1988, quando autuou como relator da capítulo do Poder Judiciário.Avaliando que não era mais possível reverter os rumos do partido que ajudou a construir, em 2005 Plínio saiu do PT, juntamente com vários outros companheiros de militância. No mesmo ano, foi para o PSOL, partido onde acreditava ser possível reconstruir uma ferramenta dos trabalhadores para a transformação social. Além de integrante da direção nacional do PSOL, foi também candidato ao Governo de São Paulo, em 2006, e à Presidência da República, em 2010. Nesse último pleito presidencial, cumpriu com garra e determinação a tarefa de apresentar o programa socialista do PSOL à população brasileira.Citações:Entrevista ao Terra na campanha presidencial de 2010: Luta armada: “Eu estava exilado com a minha esposa e meus cinco filhos. Eu me perguntava se eu deveria estar aqui ou lá. Mas minha avaliação política é de que foi um erro. Tanto é que depois fizeram uma autocrítica e voltaram à vida institucional, porque daquela forma não tinha a menor condição política de vencermos a ditadura.” 
Lei da Anistia: A lei é política, diz respeito aos delitos políticos. A tortura não é um delito político, mas um crime comum. Cruel. Portanto, não pode ser abrangido pelo conceito de anistia. 
Descriminalização das drogas: Reconheço que se usa o pretexto da droga para criminalizar a população jovem pobre. Se houver uma maneira de evitar que a legalidade da droga seja um fator que ajude a expansão da criminalidade, evidentemente serei favorável. 
Aborto: Eu discordo da opinião da CNBB, que é uma opinião muito rígida, muito fechada. E eu sou cristão, católico apostólico romano e me confesso frequentemente. Exatamente por eu ser católico que sou contra. Do ponto de vista da administração pública, sou favorável. Não posso, numa sociedade pluralista impor uma convicção religiosa minha a ninguém. Essa é uma questão social. Milhares de moças perdem a vida ou se machucam por causa da ilegalidade. A minha proposta é legalizar o aborto. Não é a descriminalização, é mais, é a legalização com procedimentos que assegurem que aquela moça, diante deste dilema, não tenha decisões forçadas, nem para um lado, nem para o outro. Ninguém defende mais o filho do que a mãe. 
Financiamento público: Não entra um tostão de empresa na minha campanha. Vetadíssimo! Aceitaremos contribuições particulares, pessoas que doem R$10, R$15, ou R$20… In-di-vi-du-al-men-te. Eventualmente se um empresário, enquanto pessoa, quiser me dar uma colaboração módica, pode dar. Tudo público. Durante a Constituinte, eu fiz um projeto de financiamento de campanha. 

Partidos e coligações: Os partidos da ordem não são partidos, mas condomínios que abrigam lideranças pessoais. Cada cacique tem o seu partido e eles fazem as mais variadas alianças. Pode se fazer alianças amplas. O Stálin (URSS) se aliou a Churchill (Inglaterra). Nem um achou que o outro virou comunista, nem o contrário. Quando se tem um objetivo comum, pode aliar com outros partidos. No caso dessas eleições, não temos objetivo em comum com nenhum partido que não seja de esquerda. Então, só nos aliamos com PCB e PSTU. E isso vai valer para todos os Estados. (Caso a eleição vá para o segundo turno, o PSOL defenderá o voto nulo). Sobre o PT: O PT é o primeiro partido que o povo resolveu construir. O PT polarizou a luta entre as duas classes básicas pela primeira vez na história do Brasil. E a maioria dos petistas é gente ótima. Gente de uma enorme responsabilidade social. O que houve foi um desvio de cúpula. A cúpula do PT se perverteu. […] A democracia é a promessa da rotatividade no poder. Se sou minoria, continuo porque sei que dá pra convencer as pessoas do outro lado e na próxima tentar ser eleito. Quando isso se torna impossível, eu estou lá só legitimando o processo. Assim, resolvi sair. Sobre José Serra e a Reforma agrária: Mas o Serra lá entende de reforma agrária? O Serra não sabe nem onde é a frente de uma vaca. O Serra não tem noção disso. Reforma tributária: Precisa ter uma reforma para fazer esse povo pagar. Quem não precisa pagar é o povo pobre, que paga idêntico ao rico. Quando o Antônio Ermírio de Morais e a Dona Maria, lá na Vila Prudente, compram uma caixa de fósforos, pagam o mesmo imposto. Isto é um absurdo. Governo Fernando Henrique Cardoso: Quem quebrou a Era Vargas foi Fernando Collor, que era um irresponsável e quebrou irresponsavelmente. Agora, quem consolidou a ruptura e realmente destruiu o Estado Vargas foi Fernando Henrique. A Era Vargas foi a primeira afirmação nacional forte nesse País. Depois, nós regredimos. Esse foi o grande mal. Governo Lula: Os oito anos de governo Lula têm um outro aspecto absolutamente negativo. Ele dissolveu a organização popular. Ele não perseguiu, mas cooptou, o que é mais grave, porque ele mexeu no moral dessas entidades. […] Por um lado as coisas melhoraram objetivamente, não foi nem aparentemente, melhoraram mesmo. Mais pessoas receberam o Bolsa-Família, salários melhores e preços mais favoráveis para comprar eletrodomésticos e automóveis. Agora, essa mesma pessoa que acha que mudou de classe social porque comprou uma geladeira não está percebendo que o filho dela não está sendo alfabetizado, ou que ela vai levar seis meses para conseguir uma consulta se não tiver um seguro médico, ou que o pai dela não tem aposentadoria suficiente para manter uma casa e vai morar na casa dela. Quer dizer, essa pessoa também não está percebendo a violência que está se formando nesse País, o fato de existirem bairros comandados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), onde o Estado não entra. Este é o drama, um sonambulismo. O historiador dirá que a população, imantada pela demagogia do Lula, não percebeu a realidade dura que estava atrás. […] A importância é o povo perceber que um deles chegou lá. ?? isso que me deixa triste com Lula, ele está jogando isso fora. Obama está procurando dentro das dificuldades que tem – os EUA são reacionários -, dentro dessa camisa de força, conseguir vitórias como a da Saúde. 
Esquerda e direita: Quem não acredita nessa classificação é porque é de direita. Ou você está do lado do povo, ou do lado da ordem. O Serra foi radical, radicalíssimo. Foi radical o danado, viu? Convivemos muito no exílio, não tenho nada contra o Serra pessoalmente, mas politicamente. Ele optou pelo outro lado. Como se diz por aí, ele criou juízo. Eu não criei, com a graça de Deus. Serra não tem nada de esquerda. Nem Dilma. Nem Marina. 
Programa partidário: O partido dirá o meu programa, mas, como membro, darei o meu pitaco. O Brasil tem dois grandes problemas: a segregação social e a dependência econômica e política do exterior. Para mim, o fundamental para atacar a segregação é a reforma agrária. Um tópico só: toda propriedade com mais de 500 hectares, seja ela produtiva ou não, ficará suscetível à desapropriação. Um segundo ponto é a educação pública, gratuita e de qualidade. Outro: medicina, só pública. Não admito que alguém lucre com o câncer, por exemplo, e que uma pessoa torça para ter mais cancerosos para ter mais lucro. Isso é uma excrescência. A Saúde tem que ser estatal. Sobre o Governo Chávez: Está fazendo um ótimo trabalho. ?? um homem devotado ao seu país. Conheço bem a Venezuela, pois realizei muitos trabalhos lá. Chávez está sendo atacado porque está realizando verdadeiras reformas estruturais no País. Base teórica: Minha referência básica de direcionamento político é o pensador alemão Karl Marx. Mas tenho um tripé no plano sociológico nacional: Florestan Fernandes, Caio Prado e Celso Furtado 
Fonte: Site PSOl.PAULO CESAR CASSIN*colaborador.

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Artigo: Tributo a Plínio de Arruda Sampaio

Política crítica,

Artigo: Tributo a Plínio de Arruda Sampaio

10 de julho de 2014

“?? assim:
 ou você é capitalista e do campo da ordem, ou  você  é  anti-capitalista  e  do  campo da ruptura  democrática,  revolucionária!” 
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) lamenta profundamente o  falecimento de Plínio de Arruda Sampaio, nesta terça-feira (08), em decorrência de um câncer nos ossos. Plínio tinha 83 anos e estava internado há mais de um mês no hospital Sírio-Libanês de São Paulo.
O PSOL e o país perderam um grande protagonista da história recente e da luta pela justiça social e pela democracia no Brasil. Militante há mais de cinco décadas, Plínio iniciou sua militância na Juventude Universitária Católica. Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo, foi promotor público.Ainda na década de 60, já deputado pelo antigo PDC (Partido Democrata Cristão), foi relator do projeto de reforma agrária do governo de João Goulart. Sua luta incansável contra o latifúndio e por justiça no campo rendeu a ele a cassação do mandato, em 9 de abril de 1964, pouco antes do golpe militar daquele ano. Voltou ao Brasil em 1976, já com o objetivo de construir um partido socialista e no final da década de 70, participou intensamente da fundação do Partido dos Trabalhadores. Em 1985, foi eleito deputado federal e, depois, se tornou deputado federal constituinte, durante a elaboração da Constituição de 1988, quando autuou como relator da capítulo do Poder Judiciário.Avaliando que não era mais possível reverter os rumos do partido que ajudou a construir, em 2005 Plínio saiu do PT, juntamente com vários outros companheiros de militância. No mesmo ano, foi para o PSOL, partido onde acreditava ser possível reconstruir uma ferramenta dos trabalhadores para a transformação social. Além de integrante da direção nacional do PSOL, foi também candidato ao Governo de São Paulo, em 2006, e à Presidência da República, em 2010. Nesse último pleito presidencial, cumpriu com garra e determinação a tarefa de apresentar o programa socialista do PSOL à população brasileira.Citações:Entrevista ao Terra na campanha presidencial de 2010: Luta armada: “Eu estava exilado com a minha esposa e meus cinco filhos. Eu me perguntava se eu deveria estar aqui ou lá. Mas minha avaliação política é de que foi um erro. Tanto é que depois fizeram uma autocrítica e voltaram à vida institucional, porque daquela forma não tinha a menor condição política de vencermos a ditadura.” 
Lei da Anistia: A lei é política, diz respeito aos delitos políticos. A tortura não é um delito político, mas um crime comum. Cruel. Portanto, não pode ser abrangido pelo conceito de anistia. 
Descriminalização das drogas: Reconheço que se usa o pretexto da droga para criminalizar a população jovem pobre. Se houver uma maneira de evitar que a legalidade da droga seja um fator que ajude a expansão da criminalidade, evidentemente serei favorável. 
Aborto: Eu discordo da opinião da CNBB, que é uma opinião muito rígida, muito fechada. E eu sou cristão, católico apostólico romano e me confesso frequentemente. Exatamente por eu ser católico que sou contra. Do ponto de vista da administração pública, sou favorável. Não posso, numa sociedade pluralista impor uma convicção religiosa minha a ninguém. Essa é uma questão social. Milhares de moças perdem a vida ou se machucam por causa da ilegalidade. A minha proposta é legalizar o aborto. Não é a descriminalização, é mais, é a legalização com procedimentos que assegurem que aquela moça, diante deste dilema, não tenha decisões forçadas, nem para um lado, nem para o outro. Ninguém defende mais o filho do que a mãe. 
Financiamento público: Não entra um tostão de empresa na minha campanha. Vetadíssimo! Aceitaremos contribuições particulares, pessoas que doem R$10, R$15, ou R$20… In-di-vi-du-al-men-te. Eventualmente se um empresário, enquanto pessoa, quiser me dar uma colaboração módica, pode dar. Tudo público. Durante a Constituinte, eu fiz um projeto de financiamento de campanha. 

Partidos e coligações: Os partidos da ordem não são partidos, mas condomínios que abrigam lideranças pessoais. Cada cacique tem o seu partido e eles fazem as mais variadas alianças. Pode se fazer alianças amplas. O Stálin (URSS) se aliou a Churchill (Inglaterra). Nem um achou que o outro virou comunista, nem o contrário. Quando se tem um objetivo comum, pode aliar com outros partidos. No caso dessas eleições, não temos objetivo em comum com nenhum partido que não seja de esquerda. Então, só nos aliamos com PCB e PSTU. E isso vai valer para todos os Estados. (Caso a eleição vá para o segundo turno, o PSOL defenderá o voto nulo). Sobre o PT: O PT é o primeiro partido que o povo resolveu construir. O PT polarizou a luta entre as duas classes básicas pela primeira vez na história do Brasil. E a maioria dos petistas é gente ótima. Gente de uma enorme responsabilidade social. O que houve foi um desvio de cúpula. A cúpula do PT se perverteu. […] A democracia é a promessa da rotatividade no poder. Se sou minoria, continuo porque sei que dá pra convencer as pessoas do outro lado e na próxima tentar ser eleito. Quando isso se torna impossível, eu estou lá só legitimando o processo. Assim, resolvi sair. Sobre José Serra e a Reforma agrária: Mas o Serra lá entende de reforma agrária? O Serra não sabe nem onde é a frente de uma vaca. O Serra não tem noção disso. Reforma tributária: Precisa ter uma reforma para fazer esse povo pagar. Quem não precisa pagar é o povo pobre, que paga idêntico ao rico. Quando o Antônio Ermírio de Morais e a Dona Maria, lá na Vila Prudente, compram uma caixa de fósforos, pagam o mesmo imposto. Isto é um absurdo. Governo Fernando Henrique Cardoso: Quem quebrou a Era Vargas foi Fernando Collor, que era um irresponsável e quebrou irresponsavelmente. Agora, quem consolidou a ruptura e realmente destruiu o Estado Vargas foi Fernando Henrique. A Era Vargas foi a primeira afirmação nacional forte nesse País. Depois, nós regredimos. Esse foi o grande mal. Governo Lula: Os oito anos de governo Lula têm um outro aspecto absolutamente negativo. Ele dissolveu a organização popular. Ele não perseguiu, mas cooptou, o que é mais grave, porque ele mexeu no moral dessas entidades. […] Por um lado as coisas melhoraram objetivamente, não foi nem aparentemente, melhoraram mesmo. Mais pessoas receberam o Bolsa-Família, salários melhores e preços mais favoráveis para comprar eletrodomésticos e automóveis. Agora, essa mesma pessoa que acha que mudou de classe social porque comprou uma geladeira não está percebendo que o filho dela não está sendo alfabetizado, ou que ela vai levar seis meses para conseguir uma consulta se não tiver um seguro médico, ou que o pai dela não tem aposentadoria suficiente para manter uma casa e vai morar na casa dela. Quer dizer, essa pessoa também não está percebendo a violência que está se formando nesse País, o fato de existirem bairros comandados pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), onde o Estado não entra. Este é o drama, um sonambulismo. O historiador dirá que a população, imantada pela demagogia do Lula, não percebeu a realidade dura que estava atrás. […] A importância é o povo perceber que um deles chegou lá. ?? isso que me deixa triste com Lula, ele está jogando isso fora. Obama está procurando dentro das dificuldades que tem – os EUA são reacionários -, dentro dessa camisa de força, conseguir vitórias como a da Saúde. 
Esquerda e direita: Quem não acredita nessa classificação é porque é de direita. Ou você está do lado do povo, ou do lado da ordem. O Serra foi radical, radicalíssimo. Foi radical o danado, viu? Convivemos muito no exílio, não tenho nada contra o Serra pessoalmente, mas politicamente. Ele optou pelo outro lado. Como se diz por aí, ele criou juízo. Eu não criei, com a graça de Deus. Serra não tem nada de esquerda. Nem Dilma. Nem Marina. 
Programa partidário: O partido dirá o meu programa, mas, como membro, darei o meu pitaco. O Brasil tem dois grandes problemas: a segregação social e a dependência econômica e política do exterior. Para mim, o fundamental para atacar a segregação é a reforma agrária. Um tópico só: toda propriedade com mais de 500 hectares, seja ela produtiva ou não, ficará suscetível à desapropriação. Um segundo ponto é a educação pública, gratuita e de qualidade. Outro: medicina, só pública. Não admito que alguém lucre com o câncer, por exemplo, e que uma pessoa torça para ter mais cancerosos para ter mais lucro. Isso é uma excrescência. A Saúde tem que ser estatal. Sobre o Governo Chávez: Está fazendo um ótimo trabalho. ?? um homem devotado ao seu país. Conheço bem a Venezuela, pois realizei muitos trabalhos lá. Chávez está sendo atacado porque está realizando verdadeiras reformas estruturais no País. Base teórica: Minha referência básica de direcionamento político é o pensador alemão Karl Marx. Mas tenho um tripé no plano sociológico nacional: Florestan Fernandes, Caio Prado e Celso Furtado 
Fonte: Site PSOl.PAULO CESAR CASSIN*colaborador.

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