Fogo! Fogo de um palito de fósforo queima a ponta do dedo. Fogo do fogão queima o arroz, o feijão. Fogos queimam…E como queimam. Queimam sonhos, expectativas, histórias. Sábado, no final da tarde, a fumaça subiu e foi vista de longe. Era o fogo que queimava parte de Carioba. E não tem quem segura. Ele não respeitou os pequenos empresários que lá estão instalados. Não respeitou os 350 empregados diretos e os 700 indiretos. Não respeitou a história! Veio e queimou.

Quando cheguei lá, fazia pouco tempo que o fogo havia se alastrado por 6 mil metros. Os bombeiros lutavam para evitar que o alastramento ocorresse pelos outros 20 mil…E não tinha o que fazer, apesar do esforço dos Bombeiros.  O fogo tomou conta. Queimou cinco empresas. Teares…mesas…motores…paredes…telhados…sonhos!

Os salões de Carioba são da Prefeitura. As empresas são permissionárias. Pagam para usar. Os salões são tombados pelo patrimônio histórico.  Alterar fachadas e outras mudanças estruturais não é permitido com normalidade. Então, passa-se a aparência de um local descuidado. Não é assim!

Na barreira imposta pelos Bombeiros, lá em cima, o cidadão curioso, que foi lá ver a desgraça de perto, fala: “Mas pegou fogo porque tem muita gambiarra”. Oras! Que absurdo. Máquinas do porte que estão lá não rodam, não funcionam, com sistema elétrico mal feito, com “gambiarras”, como ele disse.

Se não fosse as empresas ali instaladas, provavelmente não existiria mais nada naquele local. A história estaria enterrada e os abutres teriam conseguido um jeito de comprar a área e levantado edifícios ou transformado o local em pomposo loteamento fechado. Ah! Às margens do Rio Piracicaba.

Há seis anos existe a Associação dos Permissionários de Carioba (Aspeca). Ela tem organizado os pequenos empresários, realizado melhorias e buscado alternativas legais através de leis de incentivo para melhor adequação do local. Recentemente conseguiram a aprovação do Projeto de Combate à incêndios, junto ao Corpo de Bombeiros e Condephaat.  Aprovação difícil  pelo custo e burocracias administrativas. Mas conseguiram. Era o passo final para implantação deste grande projeto, que agora sofre uma interrupção.

Carioba tinha, tem e terá história. No meio aos escombros das cinco fábricas queimadas, um dos proprietários, na juventude dos seus mais de 80 anos, passa pelo grupo reunido e diz: “É…vamos ter que começar tudo de novo!”. Carioba está e continuará  mais viva que nunca.  Só a ponta do dedo está queimada!

Luciano Domiciano

Jornalista