A partir do romance ‘Una Vida’, do neurocientista Nicolas Bazan, Richie Adams dirige o filme homônimo (traduzido para ‘O Poder da Música’, em português), que enfoca o Mal de Alzheimer. A obra mostra a progressiva desconexão de uma cantora de rua da realidade cotidiana, com intervalos de lucidez apenas com a presença da música.
O protagonista encontra analogias entre a artista e a própria mãe, ambas enfrentando o mesmo Mal. O filme consegue trabalhar muito bem a dor daqueles que rodeiam os portadores da doença, como o filho que não é mais reconhecido pela mãe ou a cantora que confunde a menina que criou como sendo a sua irmã.
A música é uma maneira de conectar todas essas emoções. Torna-se uma espécie de porto seguro em que o aparentemente impossível se torna momentaneamente possível. E isso gera momentos inesquecíveis de encantamento e delicadeza. A crueza da doença dialoga assim com a manutenção de um elo com o mundo que consideramos real.
Se muitos consideram a música como uma espécie de bálsamo da alma, após ver este filme a entenderão como uma espécie de ponte, um elo de ligação sensível para o passado e para o presente para quem está perdendo as suas memórias mais recentes ou mesmo todas. Emoção e dor à flor da pele, com arte, sensibilidade e delicadeza!
Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Markting da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.