As tendências de moda são tudo aquilo que se encontram em alta no momento. Seja uma cor, estilo, estampa, textura ou acessório, as famosas trends movimentam a indústria há muito tempo.

Indo direto ao ponto, pode ser complicado determinar o exato momento em que uma tendência nasce, já que os fatores podem ser bastante abstratos. Assim como tudo que envolve a complexidade humana de questões sociológicas, os comos, quandos e porquês podem ser meio obscuros e carregar diversas versões diferentes.

No entanto, existem alguns elementos que, de um jeito ou de outro, influenciam certamente a maneira como as coisas funcionam. Eventos políticos, econômicos, históricos, tecnológicos e de cunho social são perfeitamente capazes de alterar o pensamento coletivo e, assim, as tendências estéticas e de comportamento que navegam o universo fashion.

O que move as tendências?

Existem vários exemplos de acontecimentos históricos, políticos e sociais cujas consequências afetaram diretamente a maneira como as pessoas se vestem.

Durante as grandes guerras, por exemplo, as mulheres passaram a assumir o papel dos homens ao sustentar a casa e os filhos, já que seus pais e maridos precisavam marchar para o campo de batalha. Isso fez com que os vestidos pomposos e cheios de detalhes fossem substituídos por roupas de trabalho, como calças e blusas fechadas.

Na Segunda Guerra Mundial, a economia europeia foi tão terrivelmente afetada que as autoridades passaram a fazer o racionamento de diversos produtos, inclusive tecidos. Com isso, as vestes eram mais simples e tinham o propósito de funcionalidade e durabilidade. Na Inglaterra, as chamadas roupas utilitárias eram incentivadas pelo governo.

Hoje Paris é conhecida como a capital mundial da moda, mas isso aconteceu por eventos do passado. O interesse do Rei Luís XIV por design desencadeou a criação da imprensa de moda e o forte investimento na indústria têxtil do país a partir de 1700.

Na década de 20, o livro La garçonne, do escritor francês Victor Margueritte, e a coragem de Coco Chanel ao introduzir roupas casuais ao guarda-roupa feminino, criou grandes mudanças de estilo que marcaram a época e um considerável avanço de comportamento por parte das mulheres.

Nos anos 1950, as calças jeans, camisetas brancas e jaquetas casuais ganharam mais espaço graças a algumas produções de Hollywood, como Juventude Transviada e Prisioneiro do Rock’n’Roll, com James Dean e Elvis Presley, respectivamente.

Os hippies inventaram seu próprio estilo nos anos 1960 ao buscarem por uma sociedade mais justa e naturalista, enquanto a música disco fez boa parte das pessoas adotarem estéticas mais coloridas e brilhantes na década de 70.

As famosas ombreiras dos anos 1980 surgiram para que as mulheres pudessem assumir uma postura mais imponente em meio a ambientes masculinos, enquanto os noventistas só queriam relaxar e se divertir depois de tantas décadas complicadas do século XX.

Por um bom tempo, o Brasil copiou as tendências da Europa, mas foi obrigado a criar as próprias – com tecidos mais leves, roupas mais curtas e estampas mais coloridas – para adequar as vestimentas ao clima tropical.

Durante a pandemia, uma das estéticas que balançaram o lado fashion das redes sociais foi o cottagecore. Em meio a solidão do isolamento social, fantasiar sobre uma vida no campo, respirando ar puro, não era nada absurdo.

Embora possa ser difícil apontar o dia e a hora exata que algo novo foi criado em meio às massas, as tendências são provenientes de várias situações e lugares.

 Mas a semelhança entre elas é uma só: tocar, de alguma maneira, a vivência humana. Isso significa que a moda vai muito além das manifestações visuais, servindo também como ferramenta de expressão e de consequência do mundo ao redor.

Trend forecasting

Trend forecasting significa previsão de tendências. Sem nenhum segredo ou interpretações elaboradas, sua função é prever o que deve fazer barulho no futuro em vários segmentos, como a moda.

Apesar do conceito simples, seu funcionamento é mais complicado. Vários profissionais fazem parte disso, como designers, especialistas em marketing e redes sociais, analistas de dados, e grandes entendedores de tecnologia e mídia.

A ligação entre a velocidade de criação e transmissão de informações, com as diversas mudanças culturais que acontecem a todo instante é o fator-chave para que as trends atuais aparecem tão rápido, causem tanta comoção e desaparecem na mesma velocidade em que surgiram. As redes sociais são peças importantíssimas – no cenário atual, em especial o TikTok.

O esquema criado pela Miscellanea, empresa especialista em conceito e trend forecasting, divide a previsão em dois grupos, com suas respectivas características e fontes de coleta de dados:

  • Analítico (objetivo, proativo, conhecimento explícito): inovações tecnológicas, leis, eventos globais, marketing, projeções econômicas, artigos especulativos, insights de consumo, dados de redes sociais, dados de varejo.

  • Conceitual (subjetivo, reativo, conhecimento tácito): cultura pop (música, cinema, TV, celebridades, influenciadores, assuntos em alta nas redes sociais), tendências de compra, tendências de cor e estampas, desfiles, novidades de manufatura, feiras de varejo (moda e têxtil), streetstyle.

A partir dos acontecimentos dos meios citados, é possível prever – ou ao menos tentar – o que vai ou tem chances de ganhar notoriedade nos próximos dias, semanas ou meses.

Isso pode ser exemplificado pela música Bloody Mary, de Lady Gaga, que começou a fazer sucesso no TikTok depois que um usuário editou a canção por cima de uma cena do seriado Wandinha, da Netflix, que bombava na época.

Percebendo a comoção em 2022 de um projeto lançado em 2011, a cantora logo tratou de promover a música, que rapidamente apareceu entre as mais ouvidas do Spotify.

Esse foi um evento do entretenimento, impulsionado pela força das plataformas digitais, mas os sinais mesclados à imprevisibilidade também se encaixam em outras vertentes, como a moda feminina e masculina, design de interiores, maquiagem, cabelos, etc.

Apesar de tanta modernidade e tecnologia, as tendências surgem de tudo aquilo que é humano, o que faz com que as pessoas, mesmo que sem perceber, se tornem ainda mais humanas.