A inflação mediana prevista pelo consumidor brasileiro para os 12 meses seguintes ficou em 10% em agosto, 0,3 ponto percentual acima do número apurado no mês anterior. Com o resultado, o indicador atinge, pelo sexto mês consecutivo, o recorde da série iniciada em setembro de 2005 e entra pela primeira vez na casa dos dois dígitos. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 24.
???Esse resultado, apesar de esperado, é surpreendente. ?? difícil imaginar que alguém no início do ano previsse uma aceleração tão forte das expectativas de inflação dos consumidores. Tal resultado reflete o dia a dia do consumidor que convive com um aumento no preço de diversos produtos e serviços???, afirma o economista Pedro Costa Ferreira, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE).
Para o professor de Economia da IBE-FGV, João Mantoan, o que se vê é uma inflação resistente, que não responde à política econômica do governo focada na elevação dos juros. ???Estamos vivenciando uma inflação de custos e não de demanda, por isso, o aumento dos juros não impacta da forma necessária, mantendo a taxa em patamares altos???, analisa.
Mantoan explica que os custos de produção, de uma maneira geral, é que estão pressionando os aumentos em escala. ???O consumo já deu sinais de desaquecimento, mas não há quem baixe preço operando com altas tarifas de energia elétrica ou aumento de combustíveis e derivados ou alta do dólar, que encarece também os insumos???, destaca.
Segundo o especialista, a alternativa seria uma política econômica de redução dos custos. ???Além disso, o governo deveria fazer a lição de casa ao reduzir despesas. As contas públicas comprometidas como estão, beiram a irresponsabilidade???, diz. Ainda de acordo com ele, a expectativa é que a inflação entre em processo de queda no início de 2016. ???Na economia, as ações têm resultados a médio e longo prazo???, finaliza.
Sondagem do Consumidor
Em relação à distribuição de frequência das previsões quantitativas de inflação feitas pelos consumidores para os 12 meses seguintes, a faixa compreendida entre 9% e 10% é pela segunda vez a mais citada, atingindo 34,0% das assinalações. A proporção de consumidores prevendo inflação abaixo do teto da meta (6,5%) ficou em apenas 3,7% do total, enquanto a parcela dos que projetam inflação superior a 8% já chega a 85,3% da amostra.
A Sondagem do Consumidor da FGV coleta mensalmente informações de mais de 2100 brasileiros em sete das principais capitais do país (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Recife). Cerca de ¾ destes entrevistados vêm respondendo aos quesitos relacionados às expectativas de inflação.