Se antigamente havia uma diferenciação mais concreta entre o on-line e o off-line nas estratégias de venda do comércio, a crescente integração entre os dois meios tem diluído cada vez mais essa fronteira. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) para investigar o perfil e os hábitos de compra de consumidores digitais das 27 capitais brasileiras indica que 97% buscam informações na internet antes de comprar em lojas físicas, principalmente quando se trata de eletrodomésticos (59%), celulares e smartphones (57%) e eletrônicos (50%).
Enquanto isso, 84% dos entrevistados afirmaram fazer o caminho inverso, pesquisando primeiro em lojas físicas antes de finalizar as compras on-line. Os eletrodomésticos também ocuparam o topo do ranking nessa categoria (43%), seguidos por celulares e smartphones (41%), vestuário (34%) e eletrônicos (34%). A liderança pode ser explicada pela opinião dos consumidores quanto à experiência de compra: metade deles (51%) acredita que as lojas físicas oferecem melhor demonstração do produto. Outras categorias em que as lojas físicas levaram a melhor foram a facilidade para negociação de preços (56%) e para trocas (62%).
Por outro lado, os sites e aplicativos de lojas conquistaram o coração dos compradores em 13 das 15 categorias apresentadas, sobretudo por oferecer melhores preços (74%), maior flexibilidade nos horários de compra (72%) e maior comodidade (69%). Enquanto sites de lojas registram queda na preferência do consumidor, aumentam as aquisições por meio de seus aplicativos
A popularização dos dispositivos móveis no país pode explicar o movimento de transição dos canais de compra no gosto dos brasileiros: seis em cada dez (61%) internautas entrevistados compraram por meio de aplicativos de lojas nos 12 meses anteriores à pesquisa ??? um aumento de 10 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, os sites de lojas registraram queda de quatro pontos percentuais, mantendo a preferência de 89% dos consumidores, seguidos das lojas de rua, com 48%.
Com os smartphones ganhando cada vez mais espaço na vida dos brasileiros, o levantamento mostra que aplicativos de redes sociais como WhatsAppp e Instagram foram utilizados por 18% e 14% do total de consumidores que fizeram aquisições pela internet no último ano, respectivamente.
“Ampliar e integrar os múltiplos canais de venda e relacionamento não é apenas um meio de aumentar o faturamento, os benefícios vão muito além. Trata-se de entender que os conceitos de on-line e off-line já se integraram para poder melhor atender às expectativas do consumidor conectado. Essa forma de atuar é que vai gerar aumento de vendas e mais fidelização daqui em diante”, argumenta o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior.
De fato, a maioria dos consumidores aprecia o fato das suas preferências serem consideradas pelas lojas: 66% gostam quando as empresas personalizam as ofertas de produtos e serviços levando em consideração seus hábitos e interesses, 64% esperam que os varejistas tenham informações atualizadas sobre como gostam de interagir com eles em todos os canais e 62% gostam de receber sugestões de ofertas ao abrir sites ou redes sociais. 43% dos consumidores admitem nem sempre realizar o planejamento de suas compras on-line
A personalização, no entanto, esconde um perigo latente para muitos brasileiros: o consumo por impulso, especialmente quando se trata de aquisições on-line, em que as transações acontecem sem que o consumidor veja, literalmente, o dinheiro indo embora. O levantamento mostra que os motivos que mais levaram os brasileiros a comprar por impulso foram promoções e preços baixos (56%), ficar navegando nos sites das lojas (36%) e receber ofertas de produtos e lançamentos (22%). Considerando que 43% nem sempre realizam o planejamento das suas compras on-line e outros 10% admitiram nunca fazer esse planejamento, aumentam também as chances de se comprometerem com uma dívida que não podem pagar.
“Saber diferenciar desejo e necessidade é fundamental para resistir às compras impulsivas. Com a customização crescente das ofertas enviadas para os internautas, a situação fica ainda mais favorável para compras sem pensar”, alerta o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.
Moda e vestuário lideram o ranking de produtos e serviços mais comprados sem o devido planejamento, com 35% das respostas ??? percentual que aumenta para 44% entre as mulheres. A ala feminina também lidera a compra de cosméticos, perfumes e produtos de beleza, com 41%, frente aos 26% que adquirem por impulso itens dessa categoria. Os homens, por sua vez, realizam mais compras não planejadas de eletrônicos e artigos de informática, somando 33% frente aos 22% que preferem esse tipo de produtos. Itens para casa (23%) e delivery de bebidas e comidas (21%) também figuram na lista.
A diferença entre os gêneros fica evidente também na forma de comunicação com as empresas. De modo geral, os canais preferidos são o “Fale Conosco” ou o chat da loja (51%), e-mail (43%) e telefone (38%), percentual que sobe para 44% entre os homens. As mulheres, por outro lado, ganham destaque entre os que preferem fazer reclamações via redes sociais (28%). Maioria dos vendedores não consegue cobrir preços oferecidos pelas lojas virtuais
?? justamente nesse ponto que reside a maior discrepância entre os meios. Segundo os entrevistados, 62% dos vendedores de loja física não foram capazes de cobrir a oferta das lojas online, sendo que 37% tentaram oferecer outros benefícios e 25% não mudaram a oferta de jeito nenhum. Ainda assim, 23% cobriram a oferta, sendo que 13% ofereceram o mesmo desconto (um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao ano anterior) e 9% um desconto ainda maior.
“Do ponto de vista do consumidor, é muito difícil entender as razões de um mesmo produto, de um mesmo varejista, estar à venda no site por um valor mais barato que na loja física. ?? claro que os custos dos espaços físicos são muito maiores para os lojistas, mas tudo indica que será necessário investir cada vez mais na integração e equiparar os preços para garantir a competividade em qualquer segmento”, explica o presidente da CNDL, José César da Costa.
Metodologia
A pesquisa ouviu 904 consumidores em um primeiro levantamento para identificar o percentual de pessoas que compraram pela internet nos últimos 12 meses. Em seguida, continuaram a responder o questionário 800 consumidores que fizeram alguma compra ao longo deste período. A margem de erro é de 3,3 p.p no primeiro caso e 3,5 p.p no segundo, para um intervalo de confiança a 95%. Baixe a íntegra da pesquisa em https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas