A prática esportiva está naturalmente relacionada com o esforço físico, e não é para menos, a parte visual dos esportes exalta o poderio corpóreo em primeiro plano. No entanto, existe um lado irresistível de uma disputa, o duelo mental travado entre os adversários. E é justamente nesse ponto que a concentração entra em campo e rouba a cena.

Nos esportes, a capacidade de manter o foco sob pressão é o que muitas vezes separa os campeões dos demais competidores. Em modalidades que exigem tanto o controle da mente quanto o desempenho físico, a concentração desempenha um papel fundamental para a execução de estratégias, tomadas de decisão rápidas e superação de desafios.

A concentração permite que os atletas direcionem sua atenção às variáveis mais relevantes, ignorando distrações externas e internas, como o barulho da torcida ou a ansiedade diante de momentos decisivos. Além de toda sua habilidade, por exemplo, Gabigol manteve o foco no jogo e não deixou que seu primeiro gol marcado na final da Libertadores de 2019 tomasse suas emoções e, 3 minutos depois, voltou a marcar para dar a vitória e o título ao Flamengo contra o River Plate (ARG).

Jogar é possível para todos, no entanto, entender, interpretar e apresentar soluções para os desafios e vantagens frente aos adversários são habilidades para poucos.

A atenção que define resultados

O futebol é um esporte físico por excelência, no entanto, a concentração é o elo que conecta a estratégia do jogo à execução prática. Os atletas precisam estar atentos tanto aos movimentos da bola quanto às ações dos companheiros e adversários. Uma fração de segundo de descuido pode ser fatal.

 

Uma recente e amarga memória da falta de atenção aconteceu na Copa do Mundo de 2022, no gol que a Croácia marcou no Brasil a poucos minutos do fim da prorrogação. Um deslize individual desestabilizou o time brasileiro que tomou um contra-ataque fulminante, que levou a partida para os pênaltis e resultou no fim do sonhado hexa.

Esse exemplo exalta dois lados da concentração, tanto dentro do campo de jogo para seguir em busca de um objetivo, quanto nos pênaltis. Uma disputa nas penalidades máximas é também um combate mental entre goleiro e cobrador, que deve manter o foco e executar o seu disparo com excelência.

No território da mente

Reconhecido oficialmente como esporte da mente pela IMSA (International Mind Sports Association) em 2010, o poker destaca a concentração como uma habilidade essencial para o sucesso. Diferente de modalidades puramente físicas, nesse jogo a capacidade de leitura dos adversários, cálculo de probabilidades e gestão emocional depende exclusivamente do foco mental.

Nas últimas décadas, o poker saiu das mesas dos cassinos e chegou à internet. Com plataformas especializadas, a modalidade da mente agora conquista jogadores no mundo online. Apesar de ser um ambiente desafiador para manter a concentração, existem diversos conteúdos que ensinam aos praticantes dicas de como treinar o foco em situações extremas.

O desafio para os jogadores de poker é manter o foco durante longos períodos, especialmente em campeonatos que podem durar horas, e toda toda jogada é importante, seja para aumentar o bankroll, seja para analisar o comportamento dos adversários.

Códigos, esporte respeito e silêncio

Talvez não haja esporte em que a importância da concentração seja tão palpável quanto no tênis. Por se tratar de uma modalidade individual, cada erro é de responsabilidade exclusiva do atleta. A necessidade de manter o foco por toda a partida, que pode se estender por horas, exige um controle mental exemplar.

A modalidade tem no seu código de conduta uma carta de intenção quanto a importância da concentração durante a partida. Os jogadores podem ser penalizados por realizar ações e sons excessivos que possam abalar o adversário. Além disso, o comportamento dos espectadores é rigidamente controlado, uma vez que distrações externas podem impactar diretamente o desempenho dos atletas.

Um outro exemplo triste aconteceu com a Beatriz Haddad Maia, no US Open de 2024. A brasileira disputava as quartas de final do torneio e, após ter jogado bem alguns pontos, ela perdeu a concentração e assumiu que “lidou mal com seus pensamentos”, sendo esse o fator decisivo para sua eliminação.

A concentração não é apenas um complemento ao preparo físico, mas um diferencial decisivo em qualquer esporte. Treinar a mente para resistir às distrações e ao desgaste emocional é tão essencial quanto aprimorar a técnica e a resistência física.