Guinada à esquerda entre os socialistas e à direita entre conservadores: quem será o sucessor do presidente François Hollande? Os candidatos que ainda estão na corrida ao Palácio do Eliseu.Depois da primeira rodada de prévias para escolher o candidato presidencial dos socialistas franceses, há mais clareza quanto aos potenciais sucessores do presidente François Hollande.
Quem são os candidatos ao cargo mais importante da França? O que eles representam? Qual a sua atitude em relação à União Europeia? E quais são as suas chances de vitória?
François Fillon – o conservador
O candidato à presidência pelos Republicanos (partido sucessor da União por um Movimento Popular, de Nicolas Sarkozy) já foi escolhido: François Fillon é considerado um conservador inflexível. O ex-primeiro-ministro já anunciou a sua intenção de “fazer com que a família retorne ao cerne da política”. Fillon discorda da adoção de crianças por casais homossexuais. Ele também quer uma quota máxima para a admissão de refugiados. Segundo seu desejo, o acesso ao sistema de bem-estar social deverá ficar mais difícil para estrangeiros, e as comunidades muçulmanas e mesquitas deverão ser submetidas ao controle estatal.
Principalmente nas zonas católicas rurais da França, onde a tradição é muito valorizada, Fillon, um católico declarado, toca num ponto sensível com suas propostas sociopolíticas e sobre a família. Ele é apoiado por grupos católicos tradicionalistas que há anos se mobilizam para protestar contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A princípio, as pesquisas de opinião indicaram Fillon como o favorito para a presidência. Nos últimos tempos, no entanto, a sua preferência entre os eleitores vem diminuindo.
Marine Le Pen – a populista de direita
Afastando-se de algumas posições de seu pai, o ultraconservador Jean-Maria Le Pen, a candidata da legenda populista de direita Frente Nacional, Marine Le Pen, tornou o seu partido elegível no seio da sociedade. No entanto, com o seu programa partidário, ele ainda se encontra na extrema direita do espectro político. Marine Le Pen rejeita terminantemente a sociedade multicultural e procura incitar contra uma suposta “islamização” da França. Ela pretende ainda cortar rigorosamente as ajudas sociais aos estrangeiros, como também deportar imediatamente imigrantes criminosos. Além disso, ela defende a pena de morte.
Em termos de economia, ela defende um curso protecionista, de acordo com o lema “primeiro a França”. Le Pen defende a saída de seu país da zona do euro e o retorno do franco. Além disso, ela quer mais poder retornando de Bruxelas em direção a Paris. Se ganhar a eleição, a candidata populista já anunciou um referendo sobre a saída da França da União Europeia. Ela se mostra como uma crítica do capitalismo e se apresenta como a voz da “negligenciada França”, das pessoas fora das metrópoles e que se sentem os perdedores da globalização. Segundo as enquetes, atualmente, Le Pen está um pouco atrás do conservador François Fillon. A sua presença no segundo turno das eleições presidenciais já é vista como certa.
Emmanuel Macron – o insurgente
O ex-investidor chegou à política somente sob o governo de François Hollande, de quem foi, a princípio, assessor e, mais tarde, ministro da Economia. Em 2016, ele deixou o Partido Socialista (PS) e o cargo de ministro, fundou a legenda “En Marche” (Avante) e anunciou a sua candidatura à presidência francesa. Por esse motivo, ele é visto como traidor por muitos representantes do PS. No entanto, diante do enfraquecimento da esquerda, o político de 39 anos se tornou uma esperança para aqueles que não querem ver nem Le Pen nem Fillon no Palácio do Eliseu.
Atualmente, ela recebe apoio até mesmo de políticos socialistas proeminentes, como a ex-candidata Ségolène Royal. Macron quer reformar a UE e reanimar a amizade franco-alemã. Ele elogiou expressamente a política de refugiados de Angela Merkel. Macron é jovem, fala bem e, apesar de ter estudado na ENA (Escola Nacional de Administração) e pertencer à elite francesa, também é popular em regiões mais pobres do país. Segundo as pesquisas de opinião, ele pôde diminuir recentemente a sua desvantagem para Fillon e Le Pen. No entanto, é improvável que ele chegue ao segundo turno eleitoral.
Benoît Hamon – o utópico
Na primeira rodada de prévias, Benoît Hamon empurrou o favorito dos esquerdistas franceses, Manuel Valls, para a segunda posição – e causou uma grande surpresa. O ex-ministro da Educação é um reconhecido crítico do presidente François Hollande e representa a guinada à esquerda dos socialistas do país. Ele pretende aumentar o salário mínimo, revogar novamente a liberalização do direito trabalhista, reduzir a jornada de trabalho, legalizar o consumo de maconha e criar 37 mil vagas para professores escolares.
Na França, observadores políticos consideram utópicas as posições de Hamon. Entre elas, também está a sua exigência de um salário mínimo incondicional para todos os franceses no valor de 750 euros. Apesar de sua vitória nas prévias socialistas, as suas chances de chegar à presidência são poucas. As pesquisas de opinião o veem com apenas 8% da preferência do eleitorado no primeiro turno das eleições presidenciais.
Manuel Valls – o “Sarkozy da direita”
Durante muito tempo, Manuel Valls foi considerado o favorito da esquerda francesa. No entanto, a guinada à esquerda pelos socialistas é cada vez mais uma ameaça para ele. Na primeira rodada de prévias, seu correligionário Benoît Hamon o empurrou para a segunda posição. Valls tem um problema de credibilidade: ele foi primeiro-ministro sob o altamente impopular François Hollande, cuja política Valls personifica. Agora, isso se tornou um fardo pesado.
O político de 54 anos é visto antes como um representante direitista dos socialistas – os críticos o chamam desdenhosamente de o “Sarkozy da esquerda”, em alusão ao ex-presidente conservador. No governo Hollande, ele conseguiu impor alívios fiscais para empresas e afrouxar as leis de proteção trabalhista. Com a sua exigência de flexibilizar a semana de 35 horas de trabalho e de elevar a idade de aposentadoria, ele colheu muitas críticas dentro da esquerda francesa. Valls não tem praticamente nenhuma chance à presidência: as enquetes o veem com cerca de 9% das intenções de voto no primeiro turno.
Jean-Luc Mélenchon – o provocador
Jean-Luc Mélenchon se vê como um “espinho no pé” dos socialistas e do establishment. Com o seu movimento “La France insoumise” (A França Insubmissa), ele sempre aparece à frente de manifestações – contra as reformas francesas ou contra a política de endividamento europeia. A sua adversária declarada é a chanceler federal alemã, Angela Merkel.
“Merkel no lixo”, propagou Mélenchon durante uma manifestação. Ele a acusa de uma política social e econômica, que seria tão ácida quanto um Arenque de Bismarck (O veneno alemão), como é o título de um ensaio escrito por Mélenchon. O ex-político local socialista e mais tarde eurodeputado é apoiado pelo Partido Comunista Francês. Estima-se que ele receba 13% dos votos do primeiro turno eleitoral.
Yannick Jadot – o Verde
O candidato dos Verdes franceses para a eleição presidencial é o eurodeputado Yannick Jadot. Ele é considerado um representante da realpolitik, que baseia sua política principalmente em considerações práticas. No Parlamento Europeu, Jadot ocupa o cargo de vice-presidente da Comissão de Comércio Internacional.
Enfraquecidos devido a disputas internas partidárias, nas eleições presidenciais em abril de 2017, o Partido Verde francês não deverá ter nenhuma chance. Segundo as pesquisas de opinião pública, a sua atual taxa de aprovação gira é inferior a 3%.