Esqueçam. Uma atividade, pública ou privada, que não deveria existir. Alguns são surdos em sentido estrito. Outros em sentido lato. Mas a maior parte da humanidade fala o que não é necessário ouvir. Se não fosse assim, Trump não estaria no poder, King Jon-un estaria quieto em sua casa com sua barriguinha, os velhos não teriam ouvido tanto besteirol no Reino Unido para aprovar o Brexit e talvez o Brasil miserável não tivesse sete mortes por dia.
Logo, ouvir para quê? ??dipo não se cegou por culpa, mas por excesso de informação, disse Michel Foucault. Ouvir os jornais televisos, o jornal nacional. Não sei, mas pela leitura labial eu e os amigos surdos já devem ter percebido que todo dia é a mesma coisa, dinheiro do povo sendo sugado por uns canos sujos.
Fugiram da raia e escolheram um tema neutro. Quem poderia ser contrário à formação educacional de surdos? Eu, talvez um atirador solitário. Surdo e contrário, no mundo cão. Preferiria uma análise mais vertical: por exemplo, o papel da gloriosa, rica e opressiva China no mundo de hoje. As opiniões não seriam uma reza uníssona, que vocês cansarão de ler. Claro, apesar de surdo, estou no Enem, e sou politicamente incorreto. Cegos e surdos deveriam ser apoiados. Pergunto para quê? Ver e ouvir este mundo, o que se passa neste planeta terra, os miseráveis cujo número aumenta a cada dia; qual o fim? Não há pessoas experimentadas que, ao fim da vida, optam por ter ouvidos “qualitativos”, ou seja, só ouvir o que desejam, para viver um pouco mais, em paz? Cegos e surdos deveriam ser educados se todos fossem. Do jeito que as coisas estão, deixem-nos em paz. Não gastem dinheiro público com isso. Vocês optaram por essa redação para não dar espaço aos politicamente incorretos.
Como se vê da minha redação, enganaram-se. O modo de ver o mundo engloba todas as coisas. Posso ser politicamente incorreto ao lançar farpas sobre os refugiados, como também ao enfrentar essa questão dos surdos ou outras que vocês poderiam formular. Por que não lançaram bombas na Síria logo de início, evitariam tanto sangue derramado, tanta população fugitiva e repudiada.
Meu pai disse-me que nos vestibulares de sua época, feitos, por exemplo, pelas próprias unidades da USP, os temas eram os apetecíveis aos militares. Por exemplo, “Cortina de Ferro”. Quem demonstrasse que sabia escrever, que dominava o idioma, que não o massacrava, como parece acontecer com grande parte dos estudantes de hoje, mas era a favor da Cortina, adeus. Só que ninguém era trouxa. Os esquerdistas desciam o malho na União Soviética e eram aprovados. Depois de ingressar na Universidade, o papo era outro. Grandes escritores, como Carlyle, foram gizados como adeptos do nazismo, e disse coisas que, acredito, hoje os brasileiros concordam: “democracia é ditadura com urnas”.
?? ditadura dar zero à uma redação formidável, mas “atentatória aos direitos humanos”. Como tudo nesta vida, os conceitos são contraditórios. Quais são as características dos direitos humanos? Quem está habilitado para julgá-los? Não estamos em fase de formação, e ainda apreenderemos sobre o tema? Então, por que julgar candidatos ao Enem por suas opiniões, forçando-se a serem uma manada de semoventes homogêneos, como dizia Nietzche.
Não é difícil imaginar como é terrível ser cego ou surdo. Mas não ouvir sobre e ver as mazelas que putrefam este mundo pode ser uma dádiva de Deus.
Não me deem zero, porque este país, que não é uma democracia, é guiado não pela autoridade dos argumentos, mas pelo argumento de autoridade. Ainda que seja de uma única pessoa: A Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, deu-me o direito de escrever, desde que bem, expondo ideias politicamente incorretas. Se zerarem minha redação, impetrarei mandado de segurança. Aviso aos navegantes…
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.