No dia 21, o número do cromossomo tripartido, nossa homenagem aos seres acometidos de síndrome de Down. Anjos sobrecarregados de amor, nos três tempos.
Antes, vergonhosamente chamados de mongoloides, que o nazismo, Hitler e Mengel, dizimaram impiedosamente, principalmente se gêmeos.
Talvez a punição divina, mas algumas pesquisas revelam maior incidência das síndromes entre os descendentes germânicos. Ao que consta, a raça africana está livre desse mal, mas a quantidade dos demais problemas do continente perdido não representa nenhum alento aos nossos irmãos negros.
Incidente cromossômico na hora da fecundação do óvulo, que se triparte, ao invés de apenas bipartir-se, no número 21, trespassando carga genética mais pesada que as frequentes, porquanto leva em duplicidade o gene do pai ou da mãe. Essa sobrecarga impede a agilidade das sinapses, que ligam os neurônios e armam no ordinário verdadeiras tempestades responsivas em seus diálogos e interações.
Assim como precisamos de uma fala lenta, cadenciada, para compreender o que nos diz alguém de outra língua, percebida com restrições, os portadores da síndrome elaboram com mais vagar as respostas, o processamento mental é mais lento. Porém, compreendem todo o necessário à vida diária, até mesmo coisas abstratas, são embaladas por um sentimento generoso em relação a todos, no princípio da vida não têm noção de nossa finitude e creem que o amor pelo próximo, que julgam recíproco, é eterno.
Daí, eventualmente, severas depressões quando se dá a morte, principalmente de alguém da família, até serem devidamente orientados.
Incompatíveis com a agitação cambiante e massacrante da vida moderna, repassam em silêncio suas ideias e seus projetos antes de expressá-los, até mesmo aos pais. Claro que sofrem restrições, mas é um transtorno menos dramático do que o autismo, exemplificativamente. Melhoram a personalidade agressiva de quem com eles convivem e, não raro, proporcionam muitas alegrias imateriais.
Traduzindo, são anjos que, no processo de fecundação, trouxeram amor demais, pelo pai ou pela mãe.
O terceiro cromossomo extravagante, responsável pelo incidente, reflete a ansiedade incontida de ser como a mãe, ou como o pai. Essa transferência excessiva do patrimônio genético de um dos genitores é carga genética insuportável. As sinapses, responsáveis pelas ligações neuronais, não suportam. Dobradas, andam mais lentas, como quando carregamos peso, e os neurônios não disparam tanto quanto os “normais”.
Nascido, o Down transmite esse amor não apenas àquele que amou a mais não poder, mas ao outro ascendente, aos irmãos, às famílias, a seus médicos e professores, à humanidade; anjos bloqueados pela emoção ao se pronunciarem no momento de regar esta terra árida do número dois, não do mágico três, como diziam os alquimistas.