Quando alguém se encontra fragilizado, é natural que a família crie mecanismos de proteção. E qualquer comentário pode se tornar uma grande ofensa nesse cenário. O caso Will Smith acende um alerta importante para a necessidade do acompanhamento psicológico de toda a família em caso de doenças crônicas de um ente querido.
A reação descontrolada do ator, que depois manifestou arrependimento e até mesmo se internou em uma clínica de reabilitação para lidar com as consequências negativas de seu ato, revela o nível de sensibilidade de todos que acompanham o paciente.
Sempre digo que, se os familiares não levam em consideração seu estado emocional paralelamente ao tratamento do marido, filho, esposa, pai ou mãe, fica até mais difícil alcançar uma melhor qualidade de vida para o paciente.
Estamos falando de casos que trazem uma dor constante, limitante. E, no caso da alopecia, trata-se do cabelo, essa moldura do rosto tão valorizada em nossa cultura, e perdê-lo é mesmo um choque. Não quero aqui justificar um ato de agressão, mas vejo no consultório, com frequência, casos de familiares que gostariam de poder proteger mais seus entes queridos.
Casos motores são mais visíveis, mas e quando falamos de algo menos perceptível, como o autismo? Muitas vezes, o paciente passa por birrento, e a família sofre a rejeição junto.
É difícil julgar o nível de stress que acomete uma família de cuidadores. Mas é importante respeitar a dor do outro, e mais: sugiro, em casos crônicos, a procura de um terapeuta familiar. Na terapia ocupacional, há anos insistimos para que seja incluído esse protocolo de forma natural, pois muitas vezes os pais têm surtos piores até do que seus filhos.
Por meio de terapias, podemos descobrir nossos limites e o nível de cansaço, para aos poucos aprender a delegar e a cuidar de si. No fim das contas, trata-se de uma verdade simples: o cuidador também precisa se cuidar.
* Syomara Cristina Szmidziuk atua há 32 anos como terapeuta ocupacional, e tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio para bebês, terapia infantil e juvenil, para adultos e terceira idade. Desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão, e possui treinamento em contenção induzida, Perfetti (introdutório), Imagética Motora (básico), Bobath e Baby Course (Bobath avançado), entre outros.