Artigo. Lula está acima da lei?

Política crítica,

Artigo. Lula está acima da lei?

12 de maio de 2017

A julgar pelo comportamento ambíguo e contraditório do ex-presidente Lula, pode-se inferir que ele se considera acima da lei, uma vez que, ao mesmo tempo, afirma estar à disposição da justiça, sempre que necessário, e, em seguida, repete exaustivamente que é vítima de perseguição.

O seu desespero chegou a tal ponto que os recursos, as desculpas e as várias estratégias de defesas alegadas pelo ex-metalúrgico mostram-se à beira do esgotamento final. Há de tudo um pouco nesse teatro montado em torno do ex-presidente, outrora esperança de renovação, mas no presente uma marionete manipulada pelos que querem a todo o custo evitar a derrocada final do PT, o que levaria à extinção o único partido que tencionou, sem conseguir, estabelecer novos parâmetros de governo no Brasil, supostamente pautados pela busca de uma justiça social, mas que subitamente descambou para o populismo, não apenas deixando de combater a corrupção, como também ajudando a institucionalizá-la.
Pelo que se deduz das notícias ligadas ao depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro, a estratégia de Lula, devidamente orientado por assessores e advogados, foi a de não bater de frente, evitando cair em “armadilhas” ou em diálogos capciosos, despistando e, quando necessário, atribuindo a culpa a outrem, até mesmo aos mortos (no caso a própria esposa falecida há não muito tempo). Como “performance” teatral, ele se saiu bem, mas as suas alegações não passam pelo crivo de qualquer análise imparcial , longe do calor partidário que obnubila as vistas, não permitindo enxergar o que a luz do sol insiste em clarear.
Mesmo que todas as acusações feitas contra ele sejam frutos de desesperados que, com a delação premiada, procuram evitar penas mais pesadas ao contarem o que supostamente sabem, está mais do que provado que tanto Lula como Dilma cometeram, no mínimo, o pecado de omissão, isto é, foram governantes que não sabiam o que estavam governando, descumprindo, portanto, os próprios deveres de líderes eleitos pelo voto popular.
Diante da gravidade das denúncias, é pouco crível, porém, que Lula deixou de apurar os esquemas de corrupção ligados à Odebrecht e à Petrobrás, entre outras empresas, porque, inocentemente, agiu de boa fé e confiou cegamente em seus assessores. Se acreditássemos na sua boa fé, não conseguiríamos absolvê-lo da culpa de negligência, a menos que confiássemos literalmente nas palavras do famoso lema populista de outrora (mas ainda vigente): “eu roubo, mas eu faço”. O que foi feito? E mesmo que tivesse sido feito muitíssimo, não justificaria roubar ou deixar que roubem impunemente!
Na verdade, a justiça está evitando chegar até Lula, sob pena de levar à extinção e à humilhação pública o PT e, com ele, inúmeros partidos nanicos, além de uma pequena parte de intelectuais e artistas que ainda insistem em poupá-lo, admitindo pouco a pouco a culpabilidade de tesoureiros, marqueteiros, assessores e ex-ministros ligados ao partido, mas blindando e protegendo de todas as maneiras a áurea de honestidade que ainda paira, na visão deles, sobre Lula.
Insistentemente, a mídia tem lembrado as semelhanças entre o que está acontecendo no Brasil e o que se passou durante a operação “Mani Pulite” (“Mãos Limpas”) na Itália dos anos 90. Vale lembrar, todavia, que Bettino Craxi, o falecido Primeiro-Ministro da época, precisou fugir da Itália para não ser preso e acabou morrendo no exílio. Lá, como cá, foram feitos esforços para evitar que se chegasse a tanto, mas o implacável juiz Di Pietro resistiu às pressões até o fim e chegou a arrancar de Craxi uma quase confissão de culpa, naturalmente durante um interrogatório. Será que chegaremos a tanto?
Também não convence a alegação dos que lembram que depois de “Mani Pulite” a Itália precisou, infelizmente, encarar o populismo midiático de Silvio Berlusconi. O que provocou a ascensão de Berlusconi foram as crises econômicas sucessivas e o aumento da desconfiança popular com relação aos velhos partidos que sempre governaram a Itália no pós-guerra. A velha Democrazia Cristiana (“Democracia Cristã”) foi definitivamente sepultada depois de “Mani Pulite”, o que não deixou de constituir um fato positivo. Quem sabe, quando a poeira assentar, os velhos partidos populistas brasileiros não sejam também varridos do mapa, dando lugar a outros esperançosos e renovados partidos. Sérgio Mauro é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara

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12 de maio de 2017

A julgar pelo comportamento ambíguo e contraditório do ex-presidente Lula, pode-se inferir que ele se considera acima da lei, uma vez que, ao mesmo tempo, afirma estar à disposição da justiça, sempre que necessário, e, em seguida, repete exaustivamente que é vítima de perseguição.

O seu desespero chegou a tal ponto que os recursos, as desculpas e as várias estratégias de defesas alegadas pelo ex-metalúrgico mostram-se à beira do esgotamento final. Há de tudo um pouco nesse teatro montado em torno do ex-presidente, outrora esperança de renovação, mas no presente uma marionete manipulada pelos que querem a todo o custo evitar a derrocada final do PT, o que levaria à extinção o único partido que tencionou, sem conseguir, estabelecer novos parâmetros de governo no Brasil, supostamente pautados pela busca de uma justiça social, mas que subitamente descambou para o populismo, não apenas deixando de combater a corrupção, como também ajudando a institucionalizá-la.
Pelo que se deduz das notícias ligadas ao depoimento prestado ao juiz Sérgio Moro, a estratégia de Lula, devidamente orientado por assessores e advogados, foi a de não bater de frente, evitando cair em “armadilhas” ou em diálogos capciosos, despistando e, quando necessário, atribuindo a culpa a outrem, até mesmo aos mortos (no caso a própria esposa falecida há não muito tempo). Como “performance” teatral, ele se saiu bem, mas as suas alegações não passam pelo crivo de qualquer análise imparcial , longe do calor partidário que obnubila as vistas, não permitindo enxergar o que a luz do sol insiste em clarear.
Mesmo que todas as acusações feitas contra ele sejam frutos de desesperados que, com a delação premiada, procuram evitar penas mais pesadas ao contarem o que supostamente sabem, está mais do que provado que tanto Lula como Dilma cometeram, no mínimo, o pecado de omissão, isto é, foram governantes que não sabiam o que estavam governando, descumprindo, portanto, os próprios deveres de líderes eleitos pelo voto popular.
Diante da gravidade das denúncias, é pouco crível, porém, que Lula deixou de apurar os esquemas de corrupção ligados à Odebrecht e à Petrobrás, entre outras empresas, porque, inocentemente, agiu de boa fé e confiou cegamente em seus assessores. Se acreditássemos na sua boa fé, não conseguiríamos absolvê-lo da culpa de negligência, a menos que confiássemos literalmente nas palavras do famoso lema populista de outrora (mas ainda vigente): “eu roubo, mas eu faço”. O que foi feito? E mesmo que tivesse sido feito muitíssimo, não justificaria roubar ou deixar que roubem impunemente!
Na verdade, a justiça está evitando chegar até Lula, sob pena de levar à extinção e à humilhação pública o PT e, com ele, inúmeros partidos nanicos, além de uma pequena parte de intelectuais e artistas que ainda insistem em poupá-lo, admitindo pouco a pouco a culpabilidade de tesoureiros, marqueteiros, assessores e ex-ministros ligados ao partido, mas blindando e protegendo de todas as maneiras a áurea de honestidade que ainda paira, na visão deles, sobre Lula.
Insistentemente, a mídia tem lembrado as semelhanças entre o que está acontecendo no Brasil e o que se passou durante a operação “Mani Pulite” (“Mãos Limpas”) na Itália dos anos 90. Vale lembrar, todavia, que Bettino Craxi, o falecido Primeiro-Ministro da época, precisou fugir da Itália para não ser preso e acabou morrendo no exílio. Lá, como cá, foram feitos esforços para evitar que se chegasse a tanto, mas o implacável juiz Di Pietro resistiu às pressões até o fim e chegou a arrancar de Craxi uma quase confissão de culpa, naturalmente durante um interrogatório. Será que chegaremos a tanto?
Também não convence a alegação dos que lembram que depois de “Mani Pulite” a Itália precisou, infelizmente, encarar o populismo midiático de Silvio Berlusconi. O que provocou a ascensão de Berlusconi foram as crises econômicas sucessivas e o aumento da desconfiança popular com relação aos velhos partidos que sempre governaram a Itália no pós-guerra. A velha Democrazia Cristiana (“Democracia Cristã”) foi definitivamente sepultada depois de “Mani Pulite”, o que não deixou de constituir um fato positivo. Quem sabe, quando a poeira assentar, os velhos partidos populistas brasileiros não sejam também varridos do mapa, dando lugar a outros esperançosos e renovados partidos. Sérgio Mauro é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara

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