Há filmes que maravilham por erguerem perguntas sobre o significado da vida. Isso pode ser feito de maneira complexa, com horas de duração e complexos personagens ou por meio de um curta metragem, numa história aparentemente simples. A segunda vertente é a do filme húngaro ‘Chuchotage’ (‘Cochicho’).

Durante um evento empresarial em Praga, dois intérpretes simultâneos, em sua cabine, sabem que traduzem as palestras do húngaro para o inglês apara um ouvinte, sem saber sexo ou aparência. Começa então um jogo entre os dois para descobrir quem é e como encantar essa pessoa.
Premiado, elogiado e indicado para o Oscar 2019, o curta nos entrega muito mais do que parece oferecer num primeiro momento. A disputa verbal entre os dois profissionais para conquistar a atenção de seu único ouvinte revela muito das capacidades e incapacidades humanas de lidar com aceitações e rejeições.
O curta traz à tona uma questão tão essencial quanto esquecida: a solidão. Ela vem da carência de verdade nas relações humanas. Vem ainda dos discursos falsos daqueles que pregam o amor entre as pessoas quando, na verdade, pensam apenas em si mesmos. ‘Cochicho’ não traz muita esperança, mas resgata o valor do encantamento das palavras.   
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.