A época dos grandes heróis parece ter chegado ao fim. Os novos heróis são os anti-heróis, ou seja, aqueles que aparentemente não tem nada de heroico, sendo comuns, mas que, em dado momento, revelam uma força interior que os motiva a realizar ações supostamente heroicas, mas marcadas por uma violência e/ou métodos discutíveis.

Esse é o caso do filme italiano ‘Dogman’, dirigido por Matteo Garrone. O cenário é um vilarejo miserável na Itália em que um brutamontes, quase sem cérebro, mas com a violência à flor da pele em seu desejo de conseguir dinheiro para se abastecer de drogas e para se mostrar e se sentir no topo do mundo, busca ser o macho alfa dominante.
No polo oposto, está o personagem Marcello, dono de um pet shop, carinhoso com os animais e motivado apenas pelo sentimento de ser querido pela comunidade e de subsistir. O choque entre os dois resulta num desfecho trágico, marcado pela violência do dominado sobre o dominador.
A grande questão que o filme coloca é que não existe nesse jogo um vencedor. Há uma grande derrota para a raça humana, pois a vingança do personagem baixinho e afável contra o alto e forte é caracterizado pelo sadismo e mero desejo de reconhecimento da comunidade. A morte e o sangue são assim, aparentemente, a única linguagem de uma raça que se diz racional.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.