Praça 31 de Março. Praça dos Trabalhadores. Interessante como alguns espaços públicos conseguem refletir a essência de cada tempo e de cada governante. Sem querer jogar mais lenha nesse enfadonho debate ideológico sobre a data, vale a pena discorrer brevemente sobre as várias alterações de denominação daquele logradouro, tão tradicional no cenário urbano de Americana.
Quem primeiro teve a ideia de homenagear os trabalhadores foi o prefeito Abrahim Abraham, em 1959. Eram os tempos de governo JK, dos “50 anos em 5”, mas a motivação nada teve a ver com direita ou esquerda. Na verdade, era uma singela homenagem póstuma “aos trabalhadores da Vila São Manoel, que perderam a vida no trágico desastre rodoviário ocorrido no dia 12 de agosto de 1959”, como está escrito na lei. Essa primeira “Praça do Trabalhador” ficava em outro local, no bairro São Manoel.
Onze anos depois, em 1970, o cenário era diferente. Governo Médici, auge do regime militar, apoio de grande parte da sociedade civil, e os reflexos se faziam sentir na política local. Em sintonia com os ares daquele tempo, numa “canetada”, em 21 de agosto o então prefeito Abdo Najar decretou que o espaço público localizado no final da avenida Brasil, passaria a se chamar “Praça 31 de Março”.
Mais 27 anos à frente. O ciclo militar é página virada e o país convive novamente com a democracia. Bem ao espírito desse novo Brasil, caberia justamente a um médico, que havia sido preso e torturado nos “anos de chumbo”, reposicionar esses espaços simbólicos na cidade. E assim, em 1º de maio de 1997, o prefeito Waldemar Tebaldi sancionava a Lei nº 3.056, mudando a denominação da Praça 31 de Março para Praça do Trabalhador. A lei ainda previa que, anualmente, o local fosse usado para celebrar o Dia do Trabalho. Mas essa parte da lei virou “letra morta” com o passar do tempo.
Se haverá novas trocas de nome, só o futuro dirá. Mas, para quem passou a infância brincando nas redondezas do Parque Ideal, o nome da praça pouco importava na verdade. Era mais uma área de lazer, que hoje virou estacionamento. E pago.
*Wander Pessoa é servidor público municipal, jornalista e historiador.