Os espanhóis Javier Bardem e Penélope Cruz e o argentino Ricardo Darín formam uma tríade de respeito dentro do cinema de fala hispânica. Dirigidos pelo cineasta iraniano Asghar Farhadi, oferecem, em “Todos já sabem”, um drama de suspense que gira em torno do sequestro de uma adolescente de 16 anos durante uma festa de casamento.
O desaparecimento da jovem é a maneira como o diretor critica a hipocrisia reinante em uma família de classe média alta, com seus podres internos, falhas trágicas, mas também qualidades morais e demonstrações sinceras de afeto. Um dos grandes méritos do filme, talvez o principal, seja justamente, evitar o maniqueísmo. Não há santos ou demônios, mas seres humanos com suas idiossincrasias, mas também com sentimentos nobres.
Pensando apenas nos três atores citados, cada um traz para a cena um conflito. Bardem representa o homem apaixonado pela garoa que conheceu na infância, hoje casada e no exterior, com quem descobre que teve uma filha. E é capaz de tudo por essa jovem. Penélope, por sua vez, se revela uma mãe devotada, mas plena em ambiguidades afetivas cm os dois principais amores de sua vida.
Darín, como é característico em suas interpretações, transita entre a dor de ser um empresário falido e dependente da bebida e um homem apaixonado que aceitou uma criança que não era sua, vendo nela uma espécie de redenção. Somente por essas, e outras nuances, o filme é um convite para uma reflexão sobre tudo aquilo que nos torna humanos, demasiadamente humanos.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.